Então Moisés, investido que fora de poderes de um verdadeiro deus, passa a impor ao Faraó vários castigos (pragas).

NOTAS:

1) A Igreja Católica reconhece que "as pragas do Egito, de si fenômenos naturais, mas que, pelas circunstâncias que as acompanhavam (como o começarem e terminarem a mando de Moisés; o serem anunciadas com antecedência, etc.) deviam mostrar a intervenção de Deus, Senhor de todas as forças da natureza." (Bíblia Sagrada, edição ecumênica, nota de pé de página).

2) Com relação à saída dos israelitas do Egito, diz o pesquisador dos fatos bíblicos, Werner Keller, em sua obra "E a Bíblia Tinha Razão...:

"Nenhum estado permite espontaneamente que trabalhadores escravos e estrangeiros deixem o país".

Quanto às pragas impostas ao Egito, o citado autor tece a respeito o seguinte comentário:

"As pragas devem ter induzido o Egito a conceder aos israelitas permissão para deixarem o Egito. Se ocorreram efetivamente no tempo de Moisés, a isso não se pode responder sim ou não, pois não se descobriram informações contemporâneas a respeito.

"Mas as pragas não são coisa inverossímil nem incomum. Ao contrário, fazem parte do colorido local do Egito".

E Werner Keller procura dar a cada uma das pragas as devidas explicações naturais:

PRIMEIRA: A ÁGUA É CONVERTIDA EM SANGUE (Ex 7,14,ss.)

Os mágicos do Faraó obtiveram o mesmo resultado.

"Então disse o Senhor a Moisés: o coração do faraó está obdurecido. Ele não quer ir deixar ir o povo.

Moisés faz um alerta ao faraó:

"Eis aqui pois o que diz o Senhor: eis aí ferirei eu a água do rio com o vara, que tenho na minha mão, e essa água se converterá em sangue.

"Os peixes também, que estão no rio, morrerão. As águas se corromperão. E os egípcios, que as beberem, serão atormentados.

"E fizeram Moisés e Aarão, conforme o Senhor lhes tinha mandado.

"E todos os egípcios cavaram a terra em volta do rio, e buscaram água, porque não podiam beber da água do rio.

"E passaram-se sete dias inteiros depois que o Senhor ferira o rio com esta praga".

NOTA (Werner Keller): "Às vezes os aluviões dos lagos abissínios colorem a água do rio, sobretudo no seu curso superior, dum pardo avermelhado, que pode dar a impressão de sangue."

SEGUNDA: A PRAGA DAS RÃS (Ex 8, ss.)

Os mágicos egípcios também obtiveram idêntico resultado.

Moisés volta a falar ao faraó, seguindo a orientação que lhe dera o Senhor:

"Eis aqui o que o que diz o Senhor:

"Deixa ir o meu povo, para me oferecer sacrifícios.

"Se o não quiseres deixar ir, eu ferirei todas as tuas terras, cobrindo-as de rãs.

"O rio produzirá um fervedouro de rãs, que entrarão em tua casa, e na câmara, onde tu dormes, e subirão ao teu leito, que entrarão nas casas dos teus servos e nas de teu povo".

E tudo se realizara como planejado. O faraó, então, promete a Moisés liberar os israelitas, se tal castigo fosse desfeito:

"Rogai ao Senhor, que nos livre a mim e ao meu povo destas rãs; e eu deixarei ir o povo".

No dia aprazado dera-se o cumprimento do pacto:

"As rãs morreram pelas casas, pelas aldeias e pelos campos. Fizeram-se grandes montões delas e a terra ficou infeccionada."

O faraó percebe ser inútil continuar desafiando Moisés, mas impedido de render-se, ele não libera os israelitas.

TERCEIRA: A PRAGA DOS MOSQUITOS (Ex 8,16)

Descumprindo o faraó o prometido, volta Moisés a castigar os egípcios:

"E Aarão, pegando na vara, estendeu a mão e feriu o pó da terra; e homens e bestas foram todos cobertos de mosquitos, e todo o pó da terra se converteu em mosquitos por todo o Egito.

"Intentaram os mágicos fazer a mesma coisa com os seus encantamentos, e produzir destes mosquitos; mas não puderam conseguir.

"Então disseram os mágicos a Faraó: o dedo de Deus é o que obra aqui. Mas o coração do faraó se endureceu e não quis ouvi a Moisés nem a Aarão, nem quis obedecer ao que o Senhor tinha mandado".

NOTA (Werner Keller): "No tempo das enchentes, as rãs e os mosquitos multiplicam-se às vezes de tal modo que chegam a transformar-se em verdadeiras pragas".

OBS.: Relata a Bíblia que, a partir desta 2ª praga (a praga das rãs), os mágicos egípcios encerram definitivamente, por impossibilidade material, os seus trabalhos de ilusionismo.

O Faraó sentia-se e estava derrotado. Mas não podia livrar-se dos israelitas, pois ainda deveria sofrer ele e todo o seu povo alguns terríveis castigos.

QUARTA: A PRAGA DAS MOSCAS (Ex 8,20)

"E uma infinidade de malignas moscas infestou as casas de Faraó, e as de seus servos e a todo o Egito; e a terra se corrompeu por esta casta de moscas".

NOTA (Werner Keller): "À categoria de moscas pertencem sem dúvida os moscardos [inseto díptero maior que a mosca comum]. Frequentemente eles invadem regiões inteiras, penetram nos olhos, no nariz, nos ouvidos, causando dores lancinantes".

QUINTA: A PRAGA DA PESTE (Ex 9)

"O mesmo Senhor foi o que designou o tempo, declarando que amanhã fará esta maravilha.

"Ao outro dia pois fez o Senhor o que tinha dito: todos os animais dos egípcios morreram e não pereceu nenhum dos filhos de Israel".

NOTA (Werner Keller): "Por toda parte há peste dos animais".

SEXTA: A PRAGA DAS ÚLCERAS (Ex 9,8)

"Então disse o Senhor a Moisés e a Aarão: Tomai cada um de vós sua mão cheia de cinza da chaminé.

"E Moisés deite a sua ao ar diante do Faraó.

"E espalhe-se este pó por todo o Egito e daqui se formarão umas úlceras e uns tumores nos homens e nos animais por todo o Egito".

NOTA (Werner Keller): "Pelo que se refere a úlceras, ocorrem tanto no homem como nos animais".

SÉTIMA: A PRAGA DA CHUVA DE PEDRAS (Ex 9,13)

Diz então Moisés ao faraó, orientado pelo Senhor:

"Deixa ir o meu povo, para que ele me ofereça sacrifícios.

"Porque desta vez farei eu cair todas as minhas pragas sobre o teu coração, sobre os teus servos e sobre o teu povo; para que tu saibas que não há quem seja semelhante a mim em toda a terra.

"Porque eu para isso te pus para que em ti se desse bem a ver a minha fortaleza e para que o meu nome se fizesse celebrar em toda a terra."

E o Senhor fez chover pedras em todo o Egito:

"Em toda a terra do Egito matou a pedra tudo o que se achava nos campos, desde os homens até os animais.

"Ela queimou toda a erva da campanha e fendeu todas as árvores.

"Só na terra de Gessen, onde estavam os filhos de Israel, não caiu uma pedra."

NOTA (Werner Keller): "O granizo é, com efeito, raríssimo no Egito".

Mas o Senhor tinha ainda outros castigos para infligir ao faraó e a seu povo.

OITAVA: A PRAGA DOS GAFANHOTOS (Ex 10)

E o Senhor fala ao faraó pela boca de Moisés:

"Até quando não quererás tu obedecer-me? Deixa ir o meu povo, para que ele me sacrifique;

NOTA: sacrificar, isto é, fazer sacrifícios em honra de divindade; oferecer em holocausto por meio de cerimônias próprias.

"Se ainda resistires, e não quiseres deixá-lo ir, sabe que amanhã mandarei enxames de gafanhotos sobre o teu reino".

NOTA (Werner Keller): "Os gafanhotos são, entretanto, um flagelo típico das regiões do Oriente".

NONA: A PRAGA DAS TREVAS (Ex 10,21)

"Estendeu Moisés suas mãos para o céu e umas horríveis trevas cobriram toda a terra do Egito por três dias.

"Ninguém viu a seu irmão, nem se moveu do lugar, onde estava: mas em toda a parte, onde habitavam os filhos de Israel, era dia claro."

E o Faraó, sem qualquer outra alternativa, ergue a bandeira branca e rende-se.

"Então chamou Faraó a Moisés e a Aarão, e lhes disse: Ide sacrificar ao Senhor.

"Fiquem somente as vossas ovelhas e o vosso gado e vão convosco as vossas crianças".

Mas ao faraó não fora permitido qualquer tipo de negociação. A rendição - que ainda não lhe fora concedida - era incondicional.

Diz-lhe Moisés:

"Também nos há de dar hóstias (hóstia: partícula circular de massa de pão ázimo que é consagrada na missa], e holocaustos, ofereçamos ao Senhor nosso Deus. Irão conosco todos os nossos rebanhos. Não ficará deles nem uma unha".

NOTA (Werner Keller): E o faraó, - ainda com o coração empedernido, mas revoltado diante de tanta arrogância e intransigência por parte de Moisés, - dá-lhe um "ultimatum" [isto é, "últimas exigências de um Estado a outro, e cuja não-aceitação implica declaração de guerra"]:

"Guarda-te de me tornares a aparecer, porque em qualquer dia, que me apareceres, morrerás.

"Moisés lhe respondeu: Assim se fará, como tu disseste: eu não te verei mais a cara".

NOTA (Werner Keller): "O mesmo se dá com as trevas súbitas. O chamsin, também chamado simum, é um vento ardente que arrasta consigo grandes massas de areia. Estas escurecem o sol, dando-lhe uma cor baça e amarelada e fica escuro em pleno dia".

NOTA (Werner Keller): E, encerrando os comentários acerca das pragas impostas ao Egito, diz Werner Keller (com relação à próxima e última praga): "Só para a morte dos primogênitos não há explicação".

OS ILUSIONISTAS EGÍPCIOS NÃO VÃO ALÉM DA TERCEIRA PRAGA

E então surge a inevitável pergunta: Por que o Faraó não desistiu de competir com o Senhor, a partir da 3ª praga, já que seus mágicos não mais lograram qualquer êxito com relação aos demais castigos de Moisés?