CAPÍTULO XVIII
São Paulo. 2055. Na casa da cientista, ela e o marido estão junto ao berço da filha que está ali deitada e tem agora quatro meses de idade.
- Tchau, meu amor! (acaricia o bebê, a cientista). Cuide bem dela, enquanto estou trabalhando! (declara ao marido).
- Deixa comigo! Vou aproveitar cada minuto, já que estou sem emprego neste momento! (responde o pai, acariciando a pequena cabeça da menina).
Ela sai do quarto para a sala e de lá abre uma porta lateral que dá acesso à garagem fechada. Durante o trajeto continua fazendo diversas recomendações ao marido:
- Programei o computador residencial para lhe avisar da hora do leite materno que coletei ontem à noite. O sistema esquentará a mamadeira na temperatura certa. Você só precisará dar a ela na hora marcada. Não se esqueça de ajudá-la a arrotar! Se precisar de alguma coisa basta me ligar e eu venho correndo para cá! Deixe-a no berço o máximo que puder, assim eu posso acompanhá-la também via WEB! Lembre-se de checar a fralda a cada duas horas. Se ela chorar revise todos os procedimentos anteriores e me ligue se houver alguma dúvida...
- Calma, meu amor! Está tudo bem! Passamos quatro meses cuidando dela juntos! Eu sei tudo o que preciso fazer para cuidar dela! Fique tranquila! (acalma-a o marido).
A porta, que cobre todo o teto de seu veículo particular, desliza para trás e a cientista senta-se finalmente em seu interior. O banco desliza para baixo, deixando-a semideitada. Agora ela sorri para o marido, mais tranquila, com as declarações de confiança de seu cônjuge. A porta da garagem se abre e o carro elétrico é acelerado. A porta deslizante superior do veículo fecha-se sobre a feliz mãe, que já está a caminho do trabalho. O marido acena para ela e volta todo contente para a sala e a seguir para o quarto do bebê, falando consigo mesmo:
- Até que enfim o papai poderá tomar conta sozinho da filhinha...! Nós vamos nos divertir muito...
Ele entra no quarto e vê a Anjo ajoelhada ao lado do berço, olhando para a pequenina que está sorrindo com a visão do ser celestial. O pai se assusta com a presença inesperada de um ser azulado enorme e ligeiramente transparente. Ele corre em direção a ela para proteger a menina indefesa. A Anjo se assusta com o deslocamento agressivo do pai e levanta-se rapidamente com o auxílio da abertura das enormes asas, que estavam antes fechadas. Já de pé o ser celestial saca rapidamente sua espada cintilante e a posiciona à frente do berço, impedindo que o pai possa pegar a menina. Suas asas estão agora semiabertas como faria uma águia quando anda sobre um galho de árvore. Sem opção o pai recua de sua intenção de resgate da filha.
- Quem é você? O que quer aqui em minha casa?
- Sou a Anjo da Guarda do Portal de Nuvens! Estou aqui para proteger esta criança!
- Proteger de quem? Eu estou aqui e não deixarei que ninguém a maltrate!
- Estou aqui para protegê-la de você!
- De mim?! Mas eu sou o pai dela...!
- Eu sei! E isso é que é o pior para ela! O monstro é o próprio pai!
- Do que está falando? Eu nunca machucaria minha filha!
- Você nem sabe o que é decência! Espera que eu acredite que um pedófilo saiba cuidar de um bebê?
Surpreendido pela informação de um ser de outro planeta, o pai tenta disfarçar:
- Não sei do que você está falando...
- Preste muita atenção ao que vou lhe dizer, humano! Tenho a capacidade de acompanhar todos os seus passos e os desta criança também! Tudo o que fizer com ela, a favor ou contra, eu saberei! E se eu não estiver satisfeita com suas intenções, retornarei até aqui para usar a minha espada! Sou capaz de cortar qualquer parte de seu corpo, apenas como um simples aviso. Se isso não for suficiente..., lembre-se que um Anjo da Guarda pode rapidamente se tornar uma Anjo da Morte! Essa é a primeira e última vez que me verá! Na próxima usarei a espada e você nem se quer perceberá de onde veio o golpe. Se insistir em tentar novamente... você será fatiado e sua cabeça arrancada terá a oportunidade de observar seu corpo em pedaços se contorcendo no chão da sala. Eu tenho a capacidade de ler seus pensamentos, portanto saberei de suas intenções muito antes de executá-las. Nem pense em fazer alguma barbaridade fisicamente contra outras crianças! Eu estou, a partir de agora, em sua mente, dia e noite, mês a mês, ano a ano!
A Anjo agora dá um último olhar para a menina que sorri e balbucia palavras alegres e totalmente inteligíveis. O ser celestial sorri levemente e, com a cabeça, reverencia a pequena menina, como se estivesse entendendo o agradecimento singelo do bebê. Ela caminha lentamente, desviando-se do berço e manuseando com cuidado a cintilante espada no ambiente um tanto apertado do quarto infantil. O pai afasta-se para o outro lado do quarto, evitando o confronto direto. A espada cintilante aproxima-se lenta e perigosamente do rosto do assustado pai. A lâmina é dirigida para a cabeça do pedófilo, mas encosta suavemente em seu rosto como num último aviso! De tão afiado o metal produz um corte muito suave na bochecha do pai, que leva a mão ao local para avaliar o resultado.
- Você me cortou!
- Isso não é nada perto do que farei se não seguir rigidamente minhas regras!
Ela aproxima rapidamente seu enorme rosto perto do ouvido do apavorado homem que fecha os olhos e se encolhe de medo na direção contrária ao Anjo, temendo o que está por vir.
- Tenha muito respeito pelas minhas palavras! Não sou de ameaçar em vão e gosto de cumprir todas as minhas promessas.
Quando o pai lentamente abre seus olhos, nada mais vê. Ele está suando frio e aproxima-se lentamente da filha que já não está tão feliz. Ele nem sequer sorri para ela. Está totalmente transtornado com o ocorrido. A menina é pega no colo com cuidado e o pai percebe que ela sujou as fraldas. Ele olha em volta e preocupado fala com as paredes.
- Preciso trocar a fralda dela! Terei que dar um banho também! Como posso lavá-la se não poderei tocá-la?
Em sua mente a voz ameaçadora da Anjo ecoa!
- Faça direito ou morra tentando...!
Ele se assusta com isso e olha rapidamente para todos os lados, procurando a fonte da voz.
- Não perca seu tempo em me procurar! Estou dentro de sua cabeça agora... te monitorando!
- Isso não é justo! Não posso conter os meus impulsos! Ficarei louco com essa situação!
- Louco você já é! Faça tudo direito ou morra tentando...!
Sem opções o pai leva a filha para o banheiro para cuidar dela. Uma hora depois a criança está novamente dormindo tranquilamente em seu berço. O pai anda de um lado para outro no quarto sem saber o que fazer. Ele olha para o computador e tem uma ideia. Buscando aprovação celestial o transtornado homem faz uma pergunta às paredes do quarto:
- Posso pelo menos usar o computador para me divertir?
Nenhuma voz ecoa desta vez. O homem aguarda mais alguns segundos e percebe que não terá uma resposta. Mas como não há uma negativa ele começa a navegar na NET em busca de sites de pedofilia! A única distração que restou a um homem doente! Que a Anjo consiga controlá-lo!
CAPÍTULO XVIII
Não falarás
depreciativamente
dos outros.