VOLTAR À PÁG.
DA COLEÇÃO

HOME
PREFÁCIO
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO I
CAPÍTULO XX
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO II
Terra. Ano terrestre de 2100. Os humanos que ainda existem no planeta Terra agora são pessoas idosas ou com mais de 40 anos de idade. Uma coisa passou a ser comum entre os humanos: os cabelos brancos e a falta de maquiagem para disfarçar a idade. A indústria cosmética não fabrica mais seus milagres! Muitas das tecnologias que fizeram sucesso há poucas décadas não existem mais. Muitas fábricas já não funcionam porque não há mais trabalhadores.

O sistema de manutenção de elevadores e consertos de equipamentos também não seduz mais aos profissionais porque ninguém mais paga a ninguém pelo serviço executado. A falta de manutenção predial tornou a vida nas cidades um tanto quanto perigosa. A complicada estrutura necessária para se viver em prédios nas cidades grandes foi trocada pela vida simples em casas nos arredores dos centros mais populosos do planeta.

Com a vinda de Jesus e suas curas milagrosas a indústria farmacêutica desabou! Não existem mais motivos para pesquisas em busca de curas ou paliativos para as doenças existentes. Jesus salva quem chama por Ele (e isto não é o início de um culto nem uma oração!). Como não nascem mais pessoas no mundo, os mais novos, com quarenta anos ou mais, ficaram com a pesada carga de resolver os problemas do dia-a-dia dos mais velhos. Muitos desses "jovens" de 40 anos têm à disposição um controle remoto, doado pelos androides, que funciona como um sistema de pedido de socorro, em caso de emergência.

Geralmente a residência mais central de uma comunidade é que dispõe do artefato salvador. As religiões foram trocadas pelo contato direto com Jesus. Ninguém precisa mais orar, visitar templos ou igrejas para falar aos falsos profetas da salvação! Basta agora pressionar o botão do salvador (espero que os pastores do início do século XXI não tenham a mesma ideia de criar um botão para chamar Jesus Cristo para participar de forma invisível dos cultos nas igrejas!).

Como as pessoas voltaram a viver em pequenos grupos de vizinhos, passaram a ajudar mais uns aos outros para sobreviverem à vida dura do fim dos tempos. Numa dessas vilas uma idosa começa a passar mal e John, seu filho caçula de 42 anos, era o único que se encontrava em casa nesse dia. Ele ouve um barulho no quarto e corre até sua mãe. Vê uma xícara de barro quebrada jogada ao chão (um dos muitos artefatos que a humanidade passou a confeccionar novamente). Sua mãe a jogara para chamá-lo, pois sua voz já não consegue ser usada para grandes distâncias:

-
Mãe!?!?! O que houve, mãe? O que está sentindo?

Ele abaixa-se ao lado da cama da idosa mulher, ajoelhando-se enquanto acaricia seus cabelos grisalhos.

- Acho que estou morrendo, meu filho! Não me sinto nada bem!

- Vou chamar Jesus para te salvar!

- Não precisa, meu filho! Deixe Ele ajudar os mais novos! O tempo já acabou para os mais velhos!

- Não diga isso, mãe! Se Jesus voltou, foi para ajudar quem mais precisa! Fique calma, vou correr até o centro da vila para chamar alguém!

O filho se levanta rapidamente e corre pelas ruas desesperado. No caminho um homem de batina o aborda, segurando-o pelos braços no meio da rua e questiona:

-
O que foi?

- Minha mãe está passando mal, preciso chamar Jesus até aqui!

- Eu sou pastor! Vou até lá reconfortá-la!

- Esqueça, pastor! Ninguém mais acredita em religião! Até mesmo os mais velhos deixaram esta prática antiga para trás.

- Não importa o quanto o mundo mudou. Deus ainda é a salvação! Eu sou um representante dele e é isso que sei fazer!

- Sinto muito por você, amigo! Tudo o que éramos antes não significa mais nada agora. Eu era médico e nem posso mais ajudar minha própria mãe!

Ele se afasta do pastor e continua correndo pela rua afora! O pastor olha estático e impotente para a imagem do homem que acaba de lhe abalar as convicções. Virando a esquina o ofegante homem encontra um pequeno grupo armado com barras de ferro nas mãos, pegando nas ruas tudo o que encontravam de algum valor para trocar por armas e drogas. John para de correr diante da improbabilidade de conseguir passar correndo pelo grupo. John flexiona ligeiramente sua coluna para frente, assim como seus joelhos.

Cansado de correr ele segura as pernas, na altura dos joelhos, com as duas mãos, enquanto faz careta de desespero em direção ao grupo armado. Ele olha para trás e resolve correr pela outra rua. Os arruaceiros correm atrás dele para pegá-lo. John vira mais uma esquina e encontra um androide vestindo seu tradicional uniforme negro. John, aliviado, para novamente de correr e encara mais feliz o "anjo da guarda de negro" representante de Jesus. O androide Zangado questiona o exausto morador da vila:

-
O que houve? Você está bem?

- Sim! (responde John). Como sabia que eu estava precisando de ajuda?

- Acionaram o botão e me disseram que um grupo armado estava no local.

Neste momento o grupo armado vem correndo com as barras de ferro nas mãos, fazendo a curva da esquina, 50 metros atrás de John. Eles imediatamente param de correr ao verem o poderoso androide no local. Os delinquentes largam as barras de ferro no chão e cada um corre numa direção diferente na tentativa de escapar do solitário homem metálico.

Essa é uma estratégia comum nestes dias, porque muitos conseguem fugir ao se misturarem à população local, disfarçando seus atos, ante a impotência do poderoso perseguidor, que geralmente só consegue pegar um de cada vez. O androide desaparece do local em perseguição imediata a um dos agressores. John, desesperado, grita para ele a sua necessidade mais urgente:

- Espere! Minha mãe está doente e precisa dos cuidados de Jesus! Volte aqui!

Tarde demais! O representante do Senhor não ouviu o chamado porque já se encontra longe neste momento. Ele alcança um dos agressores aparecendo diante dele. O rapaz desesperado durante a corrida não consegue parar e o impacto contra o corpo metálico foi inevitável. O arruaceiro cai ao chão sentindo muitas dores, enquanto é agarrado pelo "homem de lata". Imediatamente ambos desaparecem do local.

Sem saber o que fazer, John decide correr atrás de um dos arruaceiros na tentativa de capturá-lo para que o androide possa encontrá-los e com isso ajudar a sua mãe. Já cansado ele continua no encalço de um violento homem, que vira a esquina num beco sem saída. O decidido rapaz observa o desesperado arruaceiro que começa agora a voltar, andando na direção de John, porque também está cansado demais para correr.

-
Saia da frente senão vai se arrepender! (declara o bandido).

-
Sinto muito! Você está detido em nome da paz de nossa vila!

-
E quem irá me deter? Você? (ironiza o homem enquanto caminha ofegante cada vez mais próximo de John).

-
Eu preciso te deter! Minha mãe está doente e precisa de Jesus! Prender você é meu caminho até o Senhor (afirma John, muito seguro de si).

Enquanto caminha lentamente o perigoso homem vê um pedaço de madeira molhado, jogado ao chão! Abaixa-se para pegá-lo e, quando se levanta, olha sorrindo novamente em direção a John, porque agora ele encontra-se em vantagem em relação ao médico, que lhe bloqueia o caminho da fuga.

-
É a sua última chance de sair de minha frente! (declara o perigoso homem).

-
É a sua última chance de se render! (retruca o determinado médico).

O delinquente armado parte correndo para cima do exausto médico! Ele ergue acima de sua cabeça o pedaço de madeira molhada e desfere o golpe em direção à cabeça do doutor, que agarra os braços do alucinado bandido antes do impacto e ambos são projetados ao chão. O doutor, durante a queda de costas, posiciona suas pernas na barriga do agressor e o projeta com força ao ar. O bandido rotaciona antes de também cair de costas e com toda a força ao chão.

Com muitas dores o agressor geme de dor no solo, enquanto o médico se levanta do chão indo em direção a ele. O doutor vira-o de barriga para baixo, enquanto torce o braço do sujeito para trás, imobilizando-o em suas costas. Isto detém o "jovem" de 40 anos no solo frio e irregular da rua. No chão, que é uma mistura de asfalto "detonado" com a grama que nasce em meio às fissuras, o bandido reclama de dor e pede para o doutor parar:

-
Tá legal! Tá legal! Pode parar! Tá doendo muito!

Sentado sobre o corpo estirado de seu oponente e segurando firmemente um de seus braços, o doutor declara:

-
Normalmente eu ajudaria pessoas que fazem esse comentário, mas no seu caso vou abrir uma exceção médica.

Atrás dele aparece o androide Zangado que elogia:

- Achei que você estivesse com medo desses caras!

O doutor olha para trás, sorri levemente e comenta:

- Eu sou faixa preta em karatê e médico nas horas vagas! Quando eu batia em alguém eu curava as dores dele logo depois.

- Pode soltá-lo agora! Eu vou levá-lo para a outra dimensão. Deixe que eu mesmo "curo" esse aí.

-
Eu não quero um chip em minha cabeça! (declara o bandido). Pode esquecer! Ninguém vai fazer isso comigo!

- Devia ter pensado nisso antes de sacanear as outras pessoas! (declara o médico ao agressor).

O androide pega no braço dolorido do agressor, levantando-o num único puxão. O homem revida com um soco na cara do homem de metal. O bandido sente a dor causada pelo soco em um rosto tão duro. Zangado olha feio para ele e dá um tapa rápido na cara do humano insolente. O arruaceiro reclama do tapa, fazendo careta e gemendo. Enquanto o doutor faz um último pedido ao androide:

- Androide! Minha mãe está mal! Preciso que Jesus a veja, por favor! É urgente!

- Vamos até lá, agora! (declara decidido Zangado, colocando a mão no ombro do médico, enquanto transmite imediatamente a informação, via e-mail mental, para outro androide, que se encontra perto de Jesus).

Os três desaparecem dali e reaparecem na casa do doutor. A idosa senhora não está mais consciente. John aproxima-se diante do corpo imóvel da mãe, e começa uma massagem cardíaca para tentar recuperá-la. O bandido, ainda seguro pelo androide, debocha da situação:

- Esqueça, cara! Ela já era!

Imediatamente Zangado dá outro tapa na cara de seu prisioneiro, que mais uma vez reclama da ação e geme de dor. O doutor continua as massagens cardíacas na mãe, enquanto espera a presença de Jesus:

- Onde está Ele? Porque está demorando tanto? Isto é uma emergência médica.

- Sinto muito, doutor! (comenta Zangado). Ele está sempre muito ocupado! Não para nunca de ajudar todas as pessoas e, às vezes, são centenas de pessoas requisitando-o ao mesmo tempo.

Zangado toca no braço da idosa senhora para avaliar suas condições físicas. Depois de alguns segundos ele comenta ao doutor:

- Continue a massagem, os sinais vitais dela estão retornando. Vou levar esse cara e já retorno.

Vigorosamente o filho continua as massagens ajudando a mãe, enquanto o androide desaparece dali com seu prisioneiro.

Passam-se os minutos e ele para repetidamente para as massagens para avaliar o estado atual de sua mãe. Mede o pulso, checa a respiração e volta a fazer a massagem cardíaca.

- Vamos lá Mãe! Não morra agora? Jesus, onde estás? Por que não responde a meus chamados?

De repente Cristo aparece com seu tradicional manto branco e longa barba! (atendendo a pedidos).

- Estou aqui, meu filho! O que aconteceu? (comenta Jesus enquanto se ajoelha junto à idosa mãe).

O doutor para com as massagens para explicar a situação ao Senhor:

- Mamãe começou a passar mal e eu não pude fazer muito por ela!

Jesus toca no rosto da idosa senhora e mais um milagre acontece: Ela acorda da morte certa e vê o rosto sorridente do Filho de Deus.

- Como o Senhor consegue fazer isso? É incrível! (exclama o agradecido médico).

Jesus olha de volta para o médico e comenta:

- Agora ela irá dormir por algumas horas, relaxada e tranquila com o fim dos problemas que a incomodava. Qual é seu nome, meu filho?

- John, Senhor! Estou muito agradecido por ter salvado a minha mãe!

- Eu não a salvei, meu filho! O fardo da vida está ficando muito pesado para ela. Não posso retirar tal peso de seu corpo! Somente amenizei o mal-estar, dores musculares e o início de algumas escaras, devido ao longo período dela na cama.

- Quer dizer... que ela não melhorou? (questiona John, decepcionado).

- Não posso evitar o fim da vida das pessoas. Posso trazê-las de volta da morte e curar doenças e males. Mas a vida humana tem um início e um fim! E o dela está muito próximo.

- Então... (desolado o médico não termina a frase enquanto seus olhos se embargam de lágrimas).

Jesus tenta ser racional em momentos como este em que os sentimentos são mais fortes:

- Estou pedindo aos androides que mantenham todos os idosos muito próximos uns dos outros para que eu possa sempre estar presente, quando qualquer um deles necessitar. Em paralelo eles monitoram as regiões com furacões, terremotos e com propensão a fortes chuvas para que as pessoas permaneçam longe desses locais. Com menos acidentes eu posso cuidar melhor dos idosos, enquanto os mais jovens nos ajudam a restaurar a natureza do planeta. Venha com sua família para uma região de temperatura mais amena e tranquila. Lá todos terão a minha proteção mais contínua onde forneceremos alimentação, banhos quentes e energia elétrica. Muitos equipamentos foram consertados pelos stellaris e parte da vida tecnológica que a humanidade conheceu ainda existe por lá.

- Vou reunir meus irmãos, Senhor. Eles chegam no final do dia. Estão plantando e colhendo sementes aqui perto.

- Muito bem, então! Pedirei para um dos androides vir até aqui mais tarde para levá-los, está bem? (sorri Jesus enquanto questiona o doutor).

- Senhor!

- Sim, meu filho!

- Por que Deus, Seu Pai, fez isso com a humanidade? Se Ele a criou, por que a destruiu no final?

- Esta é uma longa história, que começa muito antes de existir o universo! Venha para nosso acampamento para conversarmos sobre isso!

- Está bem, Senhor! Quero lhe pedir desculpas em nome da humanidade que restou!

- Por quê?

- Porque acredito que os homens não agiram bem, enquanto esteve distante, e de certo modo merecemos ser punidos por tudo o que andamos fazendo.

- Não existe certo ou errado, meu filho! O caminho que cada um de nós escolhe é que determina a forma como iremos viver ou morrer! Se um bandido foge para uma cidade com conceitos muito rígidos de bondade, educação e respeito ao próximo ele será punido por essa gente. Mas se ele se encaminha para uma cidade onde todos roubam, matam e enganam, esse bandido não será punido por seus atos, de fato, poderá até mesmo ser útil devido a suas habilidades naturais. Portanto, o conceito de certo e errado é muito particular de cada um. Não foi por isso que Deus acabou com a humanidade!

- Encontre-me mais tarde para conversarmos!

- Está bem, Senhor.

Logo depois Jesus desaparece dali enquanto John volta-se suspirando para sua mãe.

CAPÍTULO XIX
CAPÍTULO III
CAPÍTULO XX
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO XXI
CAPÍTULO V
CAPÍTULO XXII
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO XXIII
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO XXIV
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO XXV
CAPÍTULO XXVI
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO XXVII
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XXVIII
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XXIX
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XXX
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XXXI
CAPÍTULO XIV
CAPÍTULO XXXII
CAPÍTULO XV
COMENTE SOBRE ESTE LIVRO
CAPÍTULO XVI
OOOOOOOOOOO
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
OOOOOOOOOOO