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PREFÁCIO
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Terra. Brasil. Ano de 2060. O carro de Fred está em movimento nas ruas destruídas da cidade quando para lentamente em uma rua deserta. No interior estão ele e a androide serviçal.

- Puxa, Fred! Vamos parar aqui? Neste local abandonado?

- Não podemos ficar andando para todos os lados, o combustível irá acabar em breve e não temos mesmo para onde ir! Eu preciso dormir um pouco e você fica de olhos bem abertos. Avise-me se houver perigo próximo!

- Eu prefiro a casa onde moro! É bem mais tranquila e segura do que aqui!

- É, eu também, Bela! Mas o problema é que depois que invadiram-na e destruíram todo o bairro, ficar lá não é mais a melhor escolha!

- Fique atenta se algo de errado acontecer, já que você não dorme.

Fred aciona um sistema que escurece por completo os vidros do veículo, deixando os dois incógnitos no interior. Ele rebaixou o banco dianteiro e dorme profundamente. A bela mulher metálica está de plantão, olhando os monitores de TV do veículo para saber se alguém está se aproximando. Ao longe ela vê crianças pequenas se aproximando do veículo.

Bela ameaça acordar Fred, mas acredita que crianças não serão um problema e desiste da ação, porque seu patrão dorme profundamente. Os pequeninos chegam bem perto do veículo e ela clareia novamente os vidros para acenar aos jovens e inofensivos humanos, afinal de contas, ela é um androide de atendimento e o bom relacionamento é o que sabe fazer.

As crianças ficam ao redor do veículo e Bela fica entretida e sorrindo para todos eles. De repente todos saem correndo e a androide percebe um enorme e gordo sujeito com um fuzil nas mãos apontado para ela. Ficou claro que as crianças eram um chamariz, para tirar a atenção do perigo que vinha logo atrás.

Bela percebe o truque, mas é tarde demais. A androide balança o corpo de Fred ao seu lado para acordá-lo quando uma bala atravessa o para-brisa dianteiro que explode e Fred acorda muito assustado com o barulho.

- O que foi, Bela? O que está acontecendo?

Ele olha para ela e percebe que uma bala atravessou o peito da androide e a desativou por completo. Nada se vê pelo vidro que está todo fracionado em cacos como num mosaico transparente assustador. Fred liga o carro e acelera com tudo para frente, atropelando e matando o homem com o fuzil, que ainda dá mais um tiro antes do impacto.

A nova bala arrebenta de vez o para-brisa dianteiro e passa perto da orelha do milionário, acertando o vidro traseiro também. Fred desvia seu rosto para a esquerda, por puro reflexo, e quando retoma a visão para frente percebe outro veículo parado. O impacto é inevitável. A porta gaivota se abre e ele sai do interior do carro, meio cambaleante.

A imagem de seu e-RIS no olho esquerdo começa a vibrar novamente, atrapalhando sua concentração para a verdadeira realidade cruel e destruidora das ruas. Mas agora a raiva lhe domina todo o corpo. Com as mãos fechadas e apoiado pela força do exoesqueleto o milionário olha para todos os lados em busca de vingança. Meia dúzia de crianças estão juntas do outro lado da rua. Quase todas estão usando os óculos da sobrevivência que sua empresa fabricara aos milhões antes de fechar as portas.

Ao olhar para o outro lado três adolescentes observam-no com barras de ferros nas mãos. O agora corajoso homem vira-se para encará-los e começa a andar na direção deles. Por de trás dos três jovens erguem-se dos escombros mais 12 homens com diversos tipos de armas de grosso calibre nas mãos. Fred para de andar, percebendo que não terá nenhuma chance de vitória usando apenas a força.

De repente todas aquelas pessoas começam a correr, afastando-se do homem com exoesqueleto negro. O milionário não entende o que aconteceu. Ele ergue as sobrancelhas e meio desconfiado gira a cabeça para trás lentamente, imaginando o que poderia ser. Talvez, seu pior pesadelo: o enorme homem de capuz negro e olhos vermelhos.

Mas não se tratava de nada disso. O que vira era um grupo de mais de 30 pessoas muito bem armadas apontando-as na direção de Fred, que faz careta, percebendo que a situação vai piorando a cada minuto. Um dos rapazes armados fala com ele:

-
Se quiser viver, venha conosco, agora.

Fred titubeia! Pensa um pouco se valerá a pena! O rapaz insiste com ele enquanto os outros do grupo começam a correr na direção contrária do primeiro grupo.

-
Se não vier agora aquele grupo voltará e o matarão como fizeram com sua amiga.

-
Ela era um androide! Vocês podem consertá-la?

-
Não há tempo para isso! Androides sociais só atrapalham em tempo de guerra. Vamos embora!

O rapaz corre rápido para alcançar seu grupo que já está virando a esquina. Fred corre até seu carro e pega Bela no colo para levá-la junto. De longe o rapaz grita:

-
Rápido! Se eles nos virem, será uma batalha!

O milionário, munido de seu exoesqueleto poderoso, carrega a pesada amiga robótica como se carregasse um telefone celular! Ou seja, não é nenhum peso para ele. Fred chega atrasado ao virar a esquina e não sabe para onde todos foram. A visão térmica mostra onde todos estão escondidos: atrás de uma porta metálica. Ele chuta a porta que estremece e grita para os moradores:

-
Abram esta porta, eu estou aqui!

- A porta se abre rapidamente e ambos entram no local. Um enorme homem agarra Fred pelos colarinhos de seu casaco empurrando a ele a Bela contra uma parede. O homem o ameaça:

-
Se formos descobertos por sua culpa eu atirarei primeiro em você!

-
Calma, aí! Não vê que estou com alguém ferido em meus braços? (comenta Fred).

-
Você é maluco? É só uma androide idiota! (reclama o enorme homem que libera o milionário logo depois).

Fred coloca sua amiga carinhosamente no chão, levanta-se rapidamente e agarra o enorme homem pelo pescoço, erguendo-o do chão e encostando-o fortemente contra a parede.

-
Se falar assim novamente de Bela eu arrancarei sua língua.

As outras pessoas escondidas no local percebem que o clima esquentou e apontam suas armas para a cabeça e o corpo de Fred.

-
Solta ele, maluco! (ordena um dos jovens no local). Nós ajudamos você lá fora! Deveria ser mais educado conosco!

-
Se eu não tivesse meus recursos adicionais eu estaria lá fora até agora (grita Fred com o jovem que lhe falou).

-
Eu disse para você correr. Ficou perdendo tempo com este equipamento estragado (retruca o jovem que o ameaça com a arma).

Preso pelo pescoço nas mãos do exoesqueleto de Fred, o enorme homem reclama que quer sair dali. Outro jovem, olhando por um dos buracos na parede, ordena que todos fiquem quietos:

- Não façam nenhum movimento, a gangue dos viciados voltou... e em maior número desta vez.

Todos ficam sem mexer nenhum músculo no local. O enorme homem continua seguro pelo pescoço e pressionado contra a parede. Ele para de se mexer, mas está ficando cada vez mais vermelho com a falta de ar. Todos continuam com as armas apontadas para Fred, esperando que a outra gangue vá embora. O silêncio absoluto perpetua no local. Lá fora um dos viciados da gangue grita para os outros do grupo:

- Olha só, encontrei um transporte a jato, cara! Vamos poder monitorar do alto as outras gangues! Como é que usa esse treco?

- Larga isso! Vamos pegar os caras primeiro, depois a gente vê como fazer!

Fred ouve a conversa e morde o lábio com raiva por ter esquecido seu traje lá fora. Mas ele optou pela tentativa de salvar Bela que, deitada agora no chão, começa a mexer um de seus dedos, raspando o piso frio do local. Um dos jovens, que encontra-se ao lado dela, percebe o sutil barulho. Ele agacha-se e ergue suavemente a mão dela, para que não continue com o ruído denunciador.

Fred observa a ação do jovem e começa a perceber também que o braço do exoesqueleto começa a fraquejar. A careta em seu rosto denuncia o problema: um vazamento de óleo lubrificante saindo da estrutura e molhando seu casaco preto. O braço vai perdendo força e o peso do enorme homem força a sua queda em direção ao chão. A mão não consegue mais manter a pressão no pescoço dele e os dedos vão se afastando aos poucos.

A androide Bela tem uma segunda fonte de energia acionada e ela fecha com força e rapidamente a mão, esmagando a do jovem que a segurava suavemente a pouco mais de dez centímetros do chão. O garoto sente uma enorme dor, mas não grita e tenta se livrar do forte aperto da androide. Fred faz uma enorme força para manter a posição do braço e da mão segurando o enorme homem no ar, mas o fluido vaza cada vez mais e começa agora a pingar no chão.

A situação está ficando cada vez mais problemática, enquanto a gangue lá fora mexe em cada porta e janela da rua e vão se afastando aos poucos dali. Uma garotinha, que estava junto com o grupo escondido, tinha uma ratazana em seu colo e também usava um dos óculos de sobrevivência da empresa de Fred.

A menina, suja e descabelada, acaricia o roedor como se fosse um bichinho de estimação. De repente o jovem que estava com sua mão sendo amassada pela androide consegue se libertar depois de muito esforço, mas o braço de Bela cai ao chão, fazendo barulho. Todos se entreolham preocupados e ouvem a gangue lá fora comentar:

- Tem alguém ali. Eu ouvi um barulho.

Um dos jovens, do grupo que está escondido, pensa rápido e arranca o roedor das mãos da garotinha, colocando-o imediatamente num buraco da parede para que ele saia correndo pela rua e atraia a atenção da gangue. A pequena menina ameaça reclamar da ação de seu amiguinho, mas é contida por outro jovem que faz sinal de silêncio para ela.

A menina faz um bico e cruza os braços, muito revoltada com a perda de "tão belo animal". O grande roedor, bem alimentado pela grande quantidade de lixo nas ruas, começa a correr e derruba uma lata de alumínio jogada na calçada, o que atrai não só a gangue como também os tiros de suas armas. Muitas balas são disparadas na direção do rato, que ainda mais assustado começa a correr em meio ao lixo do local.

Fred não consegue mais suportar o peso do enorme homem e libera-o caindo ao chão. Mais um barulho acontece, mas este fora ocultado pelo tiroteio lá fora. O enorme homem começa a tossir bem baixo e segura a própria garganta que quase foi esmagada. A gangue finalmente percebe que tratava-se de um rato correndo e para de atirar:

- Olha só! Era apenas uma droga de rato!

- Vamos embora, os caras já devem estar longe esta hora.

- E você atirando feito um drogado maluco!

- Eu sou drogado mesmo e daí... todo mundo aqui também é!

No interior do covil as pessoas suspiram de alívio e Fred percebe que um dos braços do exoesqueleto não irá mais funcionar. Ele ficou totalmente inútil. Para complicar as imagens em seu olho esquerdo começam a vibrar novamente e ele começa a ouvir um forte chiado em seu ouvido.

Todo o sistema entrou em colapso. Desesperado pelo barulho o milionário toma uma atitude drástica: ele desliga mentalmente a chave de energia que alimenta o chip interno em sua cabeça, transformando mais este artefato em lixo tecnológico. Semirrecuperado do extremo barulho em seu ouvido Fred reclama:

- Estou perdendo um a um de meus equipamentos tecnológicos. Tem alguém aqui que pode consertar minha androide Bela ou o meu braço?

Fred olha ao redor e ninguém se habilita, mas ele percebe que muitos dos jovens olham todos na direção do homem enorme. O milionário olha também para ele, que reclama:

- Eu posso sim! Mas não vou!

Todos ouvem uma forte explosão ao longe e um dos jovens pergunta:

- O que foi isso?

Fred levanta a sobrancelhas novamente e comenta:

- Esse era meu traje de transporte! Ele não pode ser usado por outras pessoas senão explode!

O milionário volta-se para o enorme homem e lhe pergunta:

- Por que você não quer consertar minha androide e o meu traje?

- Você ainda pergunta? Quase me estrangulou, fiquei sem ar, quase nos denunciou... E agora quer ajuda?

Um dos jovens o interrompe:

- Quando nos expusemos lá fora a gangue naturalmente viria atrás de nós. Ele (apontando para Fred) não é o culpado disso.

- Além do mais (declara o milionário), acho que aquela explosão acabou com uma parte significativa dos viciados lá de fora! Portanto..., no final... eu acabei ajudando vocês. E, portanto... vocês estão em dívida comigo! Quero que conserte a Bela e meu braço também.

Um dos jovens comenta com o enorme homem:

- Esse cara com exoesqueleto pode ser muito útil para nós. Ele tem superforça e pode abrir caminho para invadirmos onde hoje não podemos entrar! Pense bem..., mais comida..., melhores abrigos..., roupas e sapatos novos..., Vamos lá! Conserta ele... por todos nós. Por favor!

O enorme homem resolve atender aos pedidos do jovem:

- Tá legal! Vou fazer por vocês! Não por ele! (apontando o dedo para Fred).

- É, mas infelizmente meu sistema e-RIS não está mais funcionando. Estou sem informações da internet e GPS para encontrar os locais para entrarmos.

A garotinha, aquela que estava anteriormente com o roedor no colo, retira seus óculos de sobrevivência e os entrega a Fred, assim ele poderá acessar as informações de que necessita sobre a região que se encontram. O milionário sorri para a garotinha, em agradecimento, pega o par de óculos e os coloca no rosto. Ele pressiona a lateral e o sistema é inicializado. Um acesso irrestrito aparece no visor e a tela do Google surge como abertura inicial.

- Espere um pouco! Esses óculos não podem fazer isso! Eles só podem acessar um único site.

O enorme homem o interrompe e comenta:

- Eu destruí o bloqueio idiota que fizeram! Do jeito que estava não servia para nada. O cara que projetou isso aqui é um sacana, só queria ganhar dinheiro à custa do desespero dos outros.

Fred olha para ele, percebendo que a culpa foi toda dele mesmo. O enorme homem se aproxima de Fred e olha o braço danificado do exoesqueleto. Depois de avaliar o problema ele comenta:

- Terei que consertar a junta que vazou e incluir um novo fluido hidráulico. Não tenho os equipamentos corretos, mas irá funcionar... por um tempo não muito longo!

Agora ele se abaixa perto da androide, dá uma boa olhada em seu peito danificado pelo tiro, faz uma careta e comenta:

- Posso consertá-la também, mas se levar outro tiro... já era...!

- É o melhor que pode fazer por nós dois? (pergunta Fred ao enorme homem sobre ele mesmo e Bela).

- E mesmo assim não dou nenhuma garantia!

- Tudo bem! Prometo não processá-lo se você não me processar!

O enorme homem faz uma careta e pergunta ao milionário:

- E por que eu o processaria?

Fred sorri e explica o motivo:

- Porque fui eu quem construiu estes óculos.

Todos no local dão um pequeno sorriso contido.

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CAPÍTULO III
CAPÍTULO XX
CAPÍTULO IV
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CAPÍTULO VI
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CAPÍTULO IX
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