CAPÍTULO XVI
No penúltimo andar, de um dos prédios do bairro Século XXI, o grupo militar de elite discute as últimas informações recolhidas.
- Senhor, encontramos um vídeo num blog da internet, gravado por um celular, onde aparece o nosso suspeito em chamas! Ele foi atingido por um coquetel molotov de um arruaceiro! O suspeito caiu, conseguiu apagar o fogo, mas ficou inconsciente por alguns segundos (informa um membro da equipe ao seu líder).
- Descubra a origem e veracidade deste material. Quero que interroguem a pessoa que fez o vídeo. Cronometre o tempo que Ele ficou inconsciente. Se isso for verdade, acabamos de descobrir uma fraqueza desse indivíduo! (comenta o líder do grupo).
- Tem mais, senhor! O soldado Mário aparece tentando auxiliar o suspeito, mas desiste, para salvar uma garotinha presa em uma casa em chamas. Logo depois ele foi atacado, pelas costas, por um policial, e preso a seguir (argumenta o mesmo militar da equipe).
- O quê? Deixou o suspeito fugir? Localize o distrito onde ele se encontra. Quero o soldado Mário aqui, o mais rápido possível! Ele deve ter informações importantes para nos dar (comenta irritado o líder).
Neste momento, entra na sala o sargento Pedro:
- Senhor, falei com o soldado João no hospital.
- E então, sargento? (pergunta irritado o líder).
- Senhor, ele confirmou as informações que já tínhamos, e mais: diz que o suspeito pode ser o próprio demônio, que surgiu para limpar o planeta! Ele lutou contra o encapuzado e perdeu feio!
- OK, Sargento! Já descobrimos uma fraqueza desse demônio! A ironia é que ele não suporta o fogo! Se essa informação se confirmar, vamos colocar um lança-chamas para cada equipe de campo. Quero capturá-lo, desta vez para um interrogatório muito quente.
Outro membro da equipe se aproxima do sargento e de seu líder com um papel nas mãos e interrompe a conversa:
- Senhor, localizamos o soldado Mário! Ele se encontra a 50 km daqui, num distrito policial de uma cidadezinha!
- Sargento, leve 3 homens, dois lança-chamas e as mais fortes correntes que tivermos! Liberte o soldado Mário, urgentemente! (comenta o líder com veemência).
- O senhor acha que encontraremos esse demônio no local?
- Não sei, sargento! Mas em todo o lugar onde o soldado Mário se encontra, aparece esse demônio! Esteja preparado! Pegue os nossos veículos aéreos e vá rápido para lá!
- Sim, senhor!
O sargento bate continência ao líder e vira-se, apontando com seu dedo indicador para cada um dos 3 soldados do local, enquanto anda em direção à porta de saída da sala. Eles entendem que o sinal significa: que foram "convidados" a participar da missão de resgate e captura.
Eles saem da sala e correm para o pátio, no andar de cima. Lá eles entram em 2 carros militares com seus lança-chamas em punho. Os carros abrem a porta no estilo gaivota e eles entram de costas para se sentar. Os bancos estão virados para a posição deles.
Depois que entram, os bancos giram novamente para a posição normal e a porta gaivota se fecha automaticamente. Os 2 carros saem rapidamente e entram na avenida próxima, a 100 metros de altura do solo.
No teto dos veículos, duas pequenas asas deslizam para as laterais do veículo. Agora eles se parecem com aviões. Repentinamente decolam e fazem uma longa curva à direita, sobre os prédios próximos ao redor.
A cinquenta quilômetros dali o soldado Mário conversa com o rapaz que chorava muito em sua cela, quando fora preso. Ele argumenta e gesticula baixinho com o rapaz, procurando animá-lo. A conversa é brutalmente interrompida com os sons de pancadas e gritos de dor, vindos da cela ao lado.
O barulho aumenta, pois estes sons se misturam com as reclamações dos outros presos contra a violência empregada. O soldado Mário se levanta, revoltado com a situação, e provoca o policial espancador:
- Ei, valentão, por que você não vem me enfrentar? Tem medo de tomar uma surra, covarde?
Subitamente a surra para! Os outros presos se calam diante do ocorrido. Todos pressentem o desfecho trágico que irá ocorrer. Todos tinham certeza de que aquele soldado iria morrer em poucos minutos contra o forte e cruel policial, que se aproxima lentamente da cela do soldado.
Ele está tão revoltado, por ser chamado de covarde, que nem sequer fecha a cela onde estava surrando o outro preso solitário. Quando chega até a cela do soldado Mário, ele pergunta bem tranquilo:
- Você me chamou de quê, soldadinho de uma figa?
- Eu chamei você de covarde! Por quê? Vai virar macho agora comigo? Ou tem medo de me enfrentar mano a mano?
- Eu não tenho medo de nada! Se o próprio demônio viesse aqui, eu daria uma surra nele também (fala prepotente o enorme policial).
- Pois é, seu "projeto de homem"... eu lutei contra Deus, recentemente, e fiquei vivo para lhe contar isso! Vai encarar? Ou será que você é covarde mesmo? (provoca o soldado, olhando bem dentro dos olhos do policial).
Ambos estão bem próximos da grade da cela. Provavelmente um sente o bafo do outro neste momento! O policial retira seu cassetete, abaixa-se, coloca-o no chão e fala:
- Tá legal, soldadinho! Eu acabei de malhar meus músculos aqui ao lado. Agora vou alongá-los um pouquinho com você!
O policial se prepara para abrir a cela do soldado Mário, quando ouve um barulho forte, tipo porta arrancada, na entrada do distrito policial.
Os outros policiais estão gritando e atirando. O valentão abaixa-se novamente e pega o cassetete do chão, para retornar à entrada do distrito. Neste momento o soldado Mário estica seu braço para fora da cela e agarra o policial pelo colete, puxando-o com força contra a grade da cela.
- Não foge não, seu covarde! Você vai aprender a apanhar hoje! (fala revoltado o soldado com o policial).
Os outros presos começam a gritar e bater com as mãos nas grades de suas celas, empolgados com a briga. O policial, imobilizado junto às grades, agarra o soldado pelo pescoço, para enforcá-lo! O militar usa sua outra mão e dá um soco no estômago do policial. O policial não sente quase nada. O soldado dá mais um soco no estômago de seu oponente e novamente ele nada demonstra.
- Deus também tentou me segurar pelo pescoço e se deu mal! (fala bravo o soldado).
Um clinche se instala, onde ambos estão medindo forças musculares e nada demais acontece neste momento. A cabeça do soldado fica cada vez mais vermelha de raiva pelo enforcamento, aplicado pelo policial. Mário dá mais um soco no estômago do forte homem, na tentativa de diminuir a pressão do enforcamento. O policial começa a rir suavemente, pois percebe que poderá vencer em breve a disputa.
De repente, os outros presos, que gritavam alucinados, param todos juntos. Um silêncio demoníaco se instala no local. O soldado e o policial, em pleno clinche, sentem um enorme frio na espinha! Ambos estão sentindo a presença de alguém ali, bem próximo deles. Viram juntos suas cabeças para o mesmo lado. O Pai de Jesus, apático, observava os dois brigando, quando o soldado o reconhece e faz um comentário irônico:
- Olá! Eu estava justamente falando do Senhor para este descrente!
Na tentativa de conseguir ajuda de Deus, o soldado Mário comenta já meio afônico:
- Ele (apontando com os olhos para o policial), falou mal do Senhor! Disse coisas horríveis! Disse que o Senhor não é páreo para ele numa luta!
O policial balança a cabeça negativamente às afirmativas do soldado, já com certo medo do estranho homem de olhos vermelhos, com a cabeça coberta e bem maior que ele. Deus, alheio aos comentários de ambos, levanta sua mão direita, jogando o policial contra a parede do fundo do corredor das celas, à cerca de 30 metros de distância. O policial cai desacordado.
- Obrigado, Senhor! Poderia nos auxiliar a sair daqui, por favor? (requisita o soldado ao ser de olhos vermelhos).
A seguir Deus usa suas duas mãos e entorta as barras de ferro, abrindo um enorme vão entre elas, para que Ele mesmo pudesse entrar. O Pai de Jesus caminha até o centro da cela em direção ao soldado Mário, que anda de costas na mesma velocidade da assustadora divindade.
Neste momento, aproveitando a distração geral, os outros presos da mesma cela, se esgueiram pelas laterais, até saírem correndo pela abertura feita entre as fortes barras de aço. O soldado Mário, achando que estava sozinho na cela com Deus, não tem dúvidas que ele era o escolhido e comenta alegremente:
- Eu sabia que o Senhor não me deixaria para trás! Vamos lá! Estou pronto para ir! Mário estica a mão direita ao divino, como se fosse apertar a mão Dele, protegendo seu pescoço com a outra mão.
Deus empurra o soldado para o lado, tirando-o de sua frente e olha diretamente para o único prisioneiro que não fugiu. Àquele cara enorme, que ocupava o banco sozinho, quando o soldado Mário exigiu que ele saísse do lugar. Lembra-se, leitor? O Pai de Jesus pega o enorme prisioneiro pelo pescoço e faz a sua pergunta:
- Diga-me, quem é você?
As imagens da vida do prisioneiro passam rapidamente pelos olhos do divino e mostram que ele sempre foi muito solidário com as outras pessoas. O soldado se irrita com a atitude e reclama:
- É ele que o Senhor levará? Não é possível! Não pode ser verdade! O Senhor está me testando? Só pode ser um teste! Aonde quer que eu esteja, o Senhor aparece e leva outra pessoa! Só pode ser brincadeira!
Logo depois Deus desaparece do local junto com o prisioneiro agarrado pelo pescoço. Os prisioneiros das outras celas ficam todos impressionados com o desaparecimento de ambos. O soldado Mário, chateado por ter sido deixado para trás novamente, sai de sua cela, na direção da do lado, onde se encontrava a pessoa que estava apanhando diariamente do policial.
Ele vê um único corpo no chão nesta cela. Abre a porta e aproxima-se. Abaixa-se para ver melhor o prisioneiro imóvel. Ele se encontra todo ensanguentado, com vestígios de braço e perna quebrados, o rosto inchado, deformado por tantos socos e pontapés recebidos. O homem nem se mexia, pois tudo doía.
Revoltado com a cena, ele levanta-se dali, sai da cela do moribundo e olha para o final do longo corredor, onde o policial valentão está meio atordoado, tentando acordar do impacto sofrido. Ele anda muito bravo em direção ao policial, que ainda não percebe o que está acontecendo.
Novamente o soldado para, volta e olha para mais uma cela, por onde ele acabara de passar. Vê outro prisioneiro, na mesma condição do anterior. O rapaz estava todo arrebentado no chão. O soldado, ainda mais revoltado, continua andando na direção do policial, que agora abre um de seus olhos e vê o militar se aproximando.
O soldado cerra seus punhos com força e ódio e caminha mais determinado, com olhar fixo no policial, que se esforça para se levantar, mas não dá tempo. O soldado salta sobre ele dando vários pontapés fortes em diversas partes do corpo do policial, enquanto o ofende:
- Covarde! Você não merece a farda que veste! É um doente! Gosta de bater? Vamos ver como fica na situação inversa.
Ele vê o cassetete do policial no chão, pega-o e levanta o braço para bater com muita força no desgraçado:
- Seu filho da... (repentinamente para, e antes de bater, lembra-se do que Deus lhe dissera: "Muito em breve você matará alguém a sangue frio e irá gostar disso!").
A frase repete-se diversas vezes em sua mente e Mário dá um último pontapé no policial, dizendo:
- Viva com a sua consciência pesada, idiota!
Ele se afasta lentamente pelo corredor afora, quando o policial se esforça para pegar com a mão direita uma arma, que ele guardara, escondida em seu coturno esquerdo.
De frente para o soldado Mário, aparece o sargento Pedro, que entra com seu fuzil, apontado para o rosto do soldado, que imediatamente se abaixa, levantando as mãos ligeiramente para cima:
- Calma, sargento! Sou eu, o soldado Mário.
O sargento abaixa ligeiramente sua arma, acompanhando o rápido movimento de seu subordinado, mas em seguida ergue-a rapidamente e atira duas vezes certeiras contra o peito do policial, que já fazia mira nas costas do soldado. O policial deixa a arma cair no chão e morre logo a seguir. O sargento Pedro ainda pergunta ao Mário:
- Onde está o demônio, soldado?
- O senhor acabou de acertar nele, senhor! (fala assustado o soldado Mário, apontando para o policial morto no chão, atrás dele).
- Ele é o suspeito que estamos procurando, soldado?
- Não! Não, senhor! Ele é o demônio que comandava este inferno aqui! (comenta o soldado).
- Estou falando do suspeito que procuramos, soldado! Onde ele está? (indaga nervoso o sargento).
- O senhor está falando de Deus? Há esta hora deve estar no paraíso, com o cara enorme que levou daqui! (comenta o soldado, apontando para a cela onde se encontrava).
- Que brincadeira é esta, soldado? Tá ficando louco? (indaga gritando e ainda mais nervoso o sargento).
- Não, senhor! Vamos para a central, que no caminho eu conto tudo, senhor. Antes, por favor, envie alguns paramédicos para cá. Há dois prisioneiros muito feridos lá atrás (finaliza o soldado).
CAPÍTULO XVI
Não relaxarás
à aversão ao
enganador.