O Barco Invisivel

Estados Unidos. Parque Yellowstone. Centenas de pessoas estão caminhando num dos parques mais conhecidos da América do Norte. É um dia bonito, tranquilo e perfeito para um passeio ao ar livre. Uma família se aproxima de um local cercado e um dos seguranças avisa de longe a eles:

- Ei! Ei! Não se aproximem daí!

O pai da família, preocupado, responde ao homem que demonstrava certo nervoso com isso:

- Por quê? Estamos dentro dos limites de segurança!!!!
- Não! É melhor se afastarem mais daí! Os gêiseres estão mais fortes e perigosos. Eles podem causar graves queimaduras se caírem sobre a pele!

- É mesmo? E por que não aumentaram a distância das cercas de proteção neste local? (responde o pai, demonstrando indignação quanto ao descaso das autoridades locais).

- Isso começou ontem! Em todo o parque os gêiseres estão mais fortes e mais quentes. Parece que o bolsão de magma está mais próximo da superfície. Estamos trabalhando para mudar todos os cercados de lugar já há uma semana! Veja nossos funcionários ali à frente! Estão trabalhando duro e com roupas especiais para se protegerem do perigo!

A família e o segurança do parque olham na direção dos três homens que estão ali retirando as estacas que cercam um determinado local. Um deles está batendo com um martelo para fixar o cercado numa distância mais segura. Quando ele acaba de fincar o pequeno pontalete no local este é lançado com força para cima. Abaixo dele um forte jato de água esguicha com violência por dezenas de metros em direção ao céu! O homem cai de costas no chão enquanto a família se espanta com o ocorrido!

- Oh! Meu Deus! Será que ele se feriu? (indaga a esposa daquela família que observa a cena).
- Espero que não, madame! (responde o segurança). Em todo o parque isso vem acontecendo com frequência. Se continuar desta forma teremos que fechar este parque e rever as regras de segurança daqui!

O homem se levanta do chão novamente, meio confuso com o acontecimento. Então ele e diversas outras pessoas num raio de mais de duzentos metros, sentem uma forte vibração no solo! Um pequeno terremoto parece estar se iniciando neste momento. O chão ao redor do segurança, que quase fora atingido pelo incidente, começa a trincar e se abrir em fendas profundas! Apavorado o funcionário do parque começa a correr rapidamente dali e aviso aos amitos:

- Terremoto! Fujam! Rápido!

Foi o tempo exato dele deixar o local. O terremoto aumenta na escala Richter e as trincas se aprofundam aonde se iniciaram. A enorme pedra que ficara solta no local de onde o segurança correra, agora é arremessada com força do chão para cima. Ela sobre cerca de três metros sob um jato de lava e água sob pressão que juntos espalham grande quantidade de fumaça para todos os lados encobrindo em poucos segundos tudo ao redor. As pessoas correm apavoradas dali.

A lava começa a escorrer em abundância pelo solo se espalhando para todos os lados. Parte desta lava cai sobre a roupa protetora do segurança que se afastou do local. Ele retira esta proteção numa incrível velocidade para não se ferir com o calor abrasador da rocha derretida com a qual fora atingido! Um enorme susto para o funcionário do parque! Longe dali a Ginoide Sereia e a equipe de cientistas analisam centenas de resultados de amostras colhidas de diversos animais marinhos, incluindo os mortos encontrados e descobrem algo surpreendente. O cientista líder comenta o fato:
- Pessoal! Diante do que estamos vendo, fica bem claro que o efeito da radiação nuclear de diversos artefatos espalhados e perdidos pelo mundo marinho vem afetando toda a cadeia alimentar e gerando, por consequência disso, diversas doenças também nas pessoas e em nossos animais terrestres. A incidência e tratamento de novos tipos de câncer, em quase toda a população mundial, demonstra as consequências da poluição e radiação das águas.

- Pois é! A radiação nuclear e a poluição dos mares estão causando diversas mutações genéticas em plânctons e em outros animais e vegetais (comenta um dos membros da equipe). Alguns já vêm alterando a forma de agir no meio ambiente. Aquele pequeno peixe que Sereia retirou amostra de sangue era uma espécie conhecida das profundezas, mas a aparência dele em nada lembrava o animal original. O que podemos fazer agora para retroceder estas alterações?

O líder pensa um pouco e toma uma decisão:

- Sereia! Acione outras inteligências artificiais especialistas em diversas áreas da ciência! Vamos ver se conversando poderemos chegar a alguma solução criativa para isso!
- Boa ideia! (responde ela no interior do barco de pesquisas oceanográficas).

Com apenas parte de seu corpo visível pela equipe de cientistas, cabeça, braços e parte superior do tronco, porque ela se encontra de pé no andar debaixo da embarcação, Sereia aciona o contato com seus colegas cibernéticos. Porém nem todos podem atender. Alguns estão em manutenção. Outros estão indisponíveis dentro de cavernas profundas, no interior de uma geleira na Antártida ou dentro de laboratórios isolados do mundo para a realização de testes científicos.

Na parede lateral do interior da cabine do barco de pesquisas científicas surgem as imagens projetadas do "rosto" de três cibernéticas ginoides. Uma delas se chama Magma, porque trabalha no interior de vulcões pesquisando sobre terremotos e erupções. Seu rosto e corpo são manchados de amarelo e negro como uma onça. Na outra imagem projetada está a ginoide chamada Atmosfera de manchas brancas e azuis bem claros, que pesquisa os padrões climáticos em todo o mundo. A terceira é especialista na área médica e responde pelo nome de Orgânica inteiramente branca!

- Olá, Sereia! (cumprimenta Magma). Em que posso ajudá-la?
- Olá, cibernéticos! (responde Sereia). Terminamos no mar mais uma série de pesquisas e confirmamos o que estávamos desconfiados: grande parte da vida nas profundezas foi também afetada pela radiação nuclear, gerada por bombas atômicas perdidas em missões militares e espalhadas por todo o mundo. A poluição despejada continuamente pela humanidade em rios ou diretamente nos mares também não foi controlada. Não há mais como negar! Depois de quase três séculos de industrialização, conseguimos finalmente comprometer toda a cadeia alimentar a partir do plâncton marinho! Estamos aqui buscando um caminho alternativo, paliativo ou definitivo para solucionarmos este problema. Preciso da ajuda de vocês.

- Já desenvolvi recentemente um produto para ser acrescentado à alimentação humana que reduz os efeitos nocivos da radiação e que também ajuda o organismo a conviver melhor com ela (comenta a cibernética Orgânica). Tratamentos genéticos e com células-tronco estão entre as mais recentes formas de se combater o problema. Quanto à poluição estamos desenvolvendo alguns processos que eliminam dos alimentos alguns componentes nocivos. Também desenvolvemos novos frutos e verduras mais resistentes à poluição.

- É! Mas os padrões climáticos atuais não estão colaborando muito! (informa desolada a ginoide Atmosfera). Reduzimos um pouco os problemas do aquecimento global, mas o planeta já está muito afetado e a recuperação vem sendo muito difícil. Conseguimos minimizar a força dos furacões, mas isso só piorou os resultados da agricultura e a renovação atmosférica. A camada de ozônio nunca esteve tão fina. E para complicar a ginoide Solar* me informou ontem que em breve teremos uma grande explosão em nossa estrela, quando receberemos uma forte ejeção de massa coronária.

- Acho que as minhas notícias são as piores, pessoal (declara Magma). Venho monitorando o maior vulcão mundo, o de Yellowstone aqui nos Estados Unidos! Como sabem descobrimos recentemente que ele é muito maior do que os cientistas imaginavam no início deste século. E quanto mais tempo demorar para ele entrar em erupção, maior vai ficando a câmara interna do vulcão! A última aconteceu há mais de seiscentos mil anos. Já está atrasado para explodir novamente... e quando o fizer... não restará muita coisa dos Estados Unidos depois disso. O mundo entrará num inverno contínuo e numa noite que poderá durar alguns anos. A vida como conhecemos deixará de existir. E pelos cálculos da cibernética Solar o planeta também terá sua órbita em relação ao Sol alterada, o que transformará nosso planeta numa bola de neve nos próximos anos, eliminando totalmente a chance de a humanidade sobreviver em longo prazo. E eu já tenho uma data estimada para a erupção de Yellowstone!

- E quando será? (indaga Sereia).
- No ano que vem...! Em junho...! Entre os dias 5 e 10! (responde a ginoide Magma).
- Ohhh... Meu... Deus...! (declara o líder humano da equipe científica do barco oceanográfico). E nós achávamos que estávamos com problema por aqui...!
- Sim! A coisa está crítica por todos os lados que olhamos! (declara Magma quando as luzes do local onde ela está começam a piscar).

O mesmo acontece onde se encontra Atmosfera e Orgânica! Sereia estranha o fato e comenta com todos:

- O que está acontecendo? Porque a energia está variando em locais tão distantes uns dos outros e praticamente ao mesmo tempo?
- Eu não sei! (declara Atmosfera). Não está acontecendo nenhuma explosão solar neste momento. Mas pelo que estou verificando por aqui na Europa onde estou... parece que alguma coisa está forçando em excesso a rede elétrica do continente, como se estivesse sendo sobrecarregada!

- O que estou verificando em Yellowstone, nos Estados Unidos, é que houve uma queda brusca de energia, mas aparentemente os sistemas alternativos deram conta e evitaram o blackout enquanto a rede principal se desligava rapidamente (informa Magma).

- O que posso informar é que os geradores aqui da África do Sul e os sistemas alternativos de energia compensaram o problema e tudo voltou ao normal (declara a ginoide Orgânica). É muito estranho que redes independentes de energia estejam sofrendo de problemas similares simultaneamente. Tem certeza de que não foi nenhuma explosão solar, Atmosfera?

- Sim! Absoluta! Nada está acontecendo com o Sol neste momento. Estou ligada a diversos sensores e satélites o tempo todo! Alguma coisa diferente está afetando todas as redes elétricas do planeta. E ao que parece é algo que não compete a nenhuma de nossas pesquisas atuais!

- Só faltava essa também...! (declara o líder científico do barco oceanográfico de pesquisas). Bem! Se alguma de vocês tiver uma ideia para resolver os enormes problemas deste planeta, por favor, nos avisem! Temos um oceano de problemas por aqui e vamos fazer o possível para solucionar o caso. Obrigado a todas pela atenção. Por favor, mantenham um contato estreito daqui para frente e atualizem umas às outras sempre que uma novidade acontecer. Está bem?

- Sim! Farei isso! (declara Magma).
- Ok! Contem com a minha ajuda! (informa Orgânica).
- Vou pesquisar com a NASA para ver se eles sabem de algo que eu não tenha sido informada (sugere Atmosfera). Assim que eu souber de algo lhes informarei.
- Obrigada, cibernéticas! (finaliza Sereia). Eu também as informarei sobre a evolução de nossos trabalhos por aqui. Até breve.