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O BARCO INVISÍVEL
MISSÃO SOBREVIVER - Vol. IV
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Quinze anos se passaram desde que fui contratado pela marinha brasileira e que tive acesso pela primeira vez ao barco militar invisível. Tenho quarenta anos e ainda estou bem de saúde! A genética, a bioengenharia e a medicina evoluíram muito nos últimos tempos, o que propiciou um aumento razoável na expectativa média de vida. O mundo mudou muito e sob todos os aspectos. Muitas das previsões do cabo Sabino se realizaram! Entre elas a troca de poder entre homens e máquinas!
As inteligências artificiais substituíram os seres humanos em cargos públicos, como políticos, delegados de polícia, juízes, advogados, promotores, ministros, secretários de estado, deputados e senadores. Os únicos cargos políticos onde os humanos não foram substituídos são os de presidente do país e vereador que foram deixados de lado porque uns trazem à pauta os problemas sociais do dia-a-dia das pessoas, e o outro leva a imagem do país ao exterior, tomando as atitudes que acha necessárias para manter o país nos trilhos corretos.
Porém, sempre assessorado por outros humanos e principalmente pelos supercomputadores através da figura dos avatares. Muitos acreditam que a presidência se transformou num cargo decorativo, que serve apenas para que os diversos países possam se confraternizar em eventos sociais, o que para computadores seria algo inútil, já que eles se conversam o tempo todo, uns com os outros e não se interessam por festas! Alguns acham até que o presidente tem gastado dinheiro público demais com passeios e viagens! (parece que algumas coisas não mudam muito, afinal!).
A ONU assumiu boa parte do controle mundial, utilizando os supercomputadores para comandar, com mais bom senso e lógica, a política mundial. O termo globalização nunca foi tão atual como agora. Porém, muitos países árabes e africanos além dos russos e chineses, diversos outros asiáticos e pequenos países-ilhas de todo o mundo não aceitaram se submeter ao controle frio e lógico dos supercomputadores e seus poderosos avatares.
Alguns não o fizeram por ideologia política ou religiosa, outros por problemas financeiros, já que tal mudança envolve grandes somas em recursos e mudanças de atitudes no dia-a-dia. Para eles restou viverem num mundo à parte. Foram, de certa forma, marginalizados pelo restante da comunidade global, vivendo do pouco comércio de produtos que lhes restaram.
A vida civil foi muito alterada. Viagens internacionais foram canceladas porque hoje em dia qualquer um pode pagar para alugar um avatar em outro estado, cidade ou país onde se queira ir. É mais barato isso do que pagar hotel, avião e refeições em outro lugar. É mais rápido também usar este sistema do que enfrentar filas em aeroportos, pegar táxis, preparar as malas, escolher hotéis antes de viajar. Enfim, é a opção mais interessante para quem não tem muito tempo disponível.
Muito mais gente agora participa de reuniões de trabalho, festas, casamentos, palestras, workshops e qualquer outro tipo de atividade humana. Os avatares, que servem a esta finalidade, são diferentes de outros modelos. Seus corpos metálicos, plásticos e eletrônicos já vêm vestidos a caráter para cada evento. Ao invés de uma cabeça, existe no local uma tela de cristal líquido ovalizada, que mostra em 3D o rosto ao vivo de quem alugou o equipamento e assim este pode interagir com as pessoas.
Agora chegou a hora que eu, Fernando, temia: todas as informações referentes às atividades do barco invisível serão abertas à imprensa e ao público em geral. Meus documentários serão finalmente vistos por milhões em todo o planeta. Mas eu não sei como a sociedade reagirá ao saber que a marinha brasileira e os supercomputadores da época impetraram às nossas fronteiras uma enorme quantidade de mortes de brasileiros e estrangeiros que eram traficantes, informantes, guerrilheiros e produtores de drogas.
Não sei se seremos todos considerados heróis ou genocidas. Ao suposto fantasma, não coube punição durante os últimos quinze anos, porque foi ele considerado um espírito bom. Coube-lhe, sim, o status de herói da América do Sul! Mas quando a população mundial souber que o tal fantasma era apenas um barco militar invisível, apoiado por dois soldados-aranhas e uma pequena equipe naval brasileira, acho que não serão tão benevolentes assim conosco em seus julgamentos e tampouco com os falsos padres que apoiaram tal coisa.
Na época das missões eu, Fernando, embasei-me ao máximo com informações para demonstrar a necessidade das atitudes tão radicais que fomos obrigados a realizar durante as missões. Direta ou indiretamente a sociedade humana em todo o mundo estava se perdendo, por conta do tráfico de drogas, coisa que a nova realidade humana e seus políticos computacionais não vivenciaram! Apenas os mais velhos ainda se lembram da crueldade daqueles tempos difíceis.
Agora quem manda são os supercomputadores. Eles não aceitam mais os assassinatos entre humanos. E costumam punir com pena de morte àqueles que tal lei transgridem! Como exemplo disso, quero lembrar que, com o auxílio da tecnologia genética, antigos ditadores, que se safaram do julgamento de crimes contra a sociedade e contra a humanidade em suas épocas, foram revividos, através do processo de clonagem, somente para serem devidamente julgados pelas atuais e frias regras sociais.
Os clones não são considerados humanos e não têm direitos sociais. A minha preocupação atual é quanto ao tipo de tratamento que todos nós, que participamos das missões invisíveis, teremos junto à opinião pública! Será que seremos julgados pelo que vivemos em nossa época ou pelas novas leis e regras, que simplesmente não prescrevem mais?
Se formos julgados e considerados culpados, teremos nossa genética alterada ou pior: talvez sejamos todos condenados à morte, como são todos os clones. Desconfio até que eles queiram reviver o Presidente do Brasil de minha época e o general Figueiredo, que já morreram, apenas para dar-lhes uma punição exemplar por seus atos de "genocídio" humano, se assim forem julgados! Mas eu, Fernando Dias, não serei responsabilizado! Se isso tudo acontecer... minha única missão será... sobreviver!