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O BARCO INVISÍVEL
GUERRA DE INVISIBILIDADE - Vol. III

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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
INIMIGO OCULTO

CAPÍTULO XXIV
A REPÓRTER É A NOTÍCIA

CAPÍTULO IX
BALAS ASSASSINAS

CAPÍTULO II
POSSE CIBERNÉTICA PÚBLICA

CAPÍTULO XXV
BALAS POR ARMAS

CAPÍTULO III
REUNIÃO DE GUERRA

CAPÍTULO XXVI
FAMÍLIA EM PÂNICO

Maldonado, amigo de Pedro, que mora nos limites externos de Onojo, na fronteira da Venezuela com a Colômbia, está trabalhando em sua plantação quando vê ao longe diversos homens muito bem armados invadindo a pequena vila. Rapidamente ele retorna para o interior de sua casa e em poucos minutos a porta da frente de sua casa se abre com um pontapé de um dos invasores. Atrás deste estão mais dois outros homens, todos muito bem armados. Os três andam com cuidado pelo interior da residência principal das terras de Maldonado!

O que vem na frente aponta para o outro, à sua direita, para subir ao andar superior e depois aponta para o terceiro homem para ele caminhar para a esquerda em direção à cozinha. Ambos atendem em silêncio às ordens do primeiro e os três com isso se separam atrás dos moradores da casa. Mas ali mora apenas Maldonado que misteriosamente não se encontra visivelmente no local.

Caminhando pé ante pé os três estão alertas com as armas apontadas para frente em busca do confronto. O primeiro, que caminhou ao andar superior, já subiu as escadas e pesquisa com cuidado cômodo por cômodo. A casa é grande e todo cuidado é pouco! O outro, que fora até a cozinha, nada encontra no local. Ele desiste de procurar alguém por ali e resolve retornar para a sala por onde os três entraram. Ao se virar recebe um forte soco no rosto e é amparado por Maldonado para não fazer barulho ao cair! Maldonado carrega discretamente o sujeito para trás de um balcão rústico disponível ali na cozinha.

O dono da casa agora se esgueira até a sala atrás do segundo sujeito que continua no andar térreo à procura de alguém. O tal cara já chegou aos fundos da residência, onde abre outra porta e vê a enorme plantação disponível lá fora. Ele caminha lentamente entre as plantas e árvores altas da propriedade, acreditando que os moradores se esconderam por ali. Ao longe, na vila de Onojo, é possível se ouvir a gritaria e a dor dos moradores do lugar devido aos maus tratos do grupo armado que invadiu todo o lugar.

No andar de cima o terceiro invasor chegou a um dos quartos e olha pela janela vendo o colega lá embaixo invadindo a plantação com muito cuidado. Ele retorna para sair do quarto quando vê Maldonado que acabara de chegar à porta do local. Antes do invasor apontar a arma na direção do morador, este já arremessara uma enorme faca na direção do pescoço.

O que o fez largar no chão a arma e usar as duas mãos para amparar a faca que lhe cortara as cordas vocais, impedindo-o de gritar. O moribundo homem cai ao chão e morre logo depois. Maldonado se aproxima do corpo, retira a faca cravada na garganta do inimigo e a limpa parcialmente nas roupas do bandido. O amigo de Pedro olha pela janela e vê que o terceiro homem continua caminhando na plantação. Maldonado se apressa para eliminar o último dos invasores de suas terras.

Em poucos minutos o terceiro homem desiste da perseguição, porque não encontrara sinal de ninguém por ali. Ele retorna mais tranquilo em direção à casa invadida chamando pelos amigos:

-
E aí, pessoal...! (grita ele ainda de longe). Acho que os moradores daqui não estão em casa...! Vamos roubar tudo de valor e ir embora...!

O sujeito se aproxima da residência e de trás de uma árvore Maldonado o ataca, agarrando-o pelo pescoço e colocando a faca ainda com sangue no pescoço do invasor.

- Quem são vocês? E o que estão fazendo em minha propriedade? (indaga o amigo de Pedro).
- Nós somos colombianos... do Exército de Libertação Nacional, o ELN...! Estamos procurando guerrilheiros das FARC e seus olheiros!

Maldonado olha ao redor e percebe que as pessoas em Onojo continuam gritando porque estão sendo brutalizadas de algum modo pelo bando do ELN.

- Se procuram apenas guerrilheiros porque estão maltratando o povo da vila? (indaga Maldonado apertando ainda mais a faca contra o pescoço do invasor).
- Temos que forçar um pouco a barra para encontrar os caras das FARC. O povo os esconde por medo e se não fizermos desta forma ninguém "abre o bico"!
- Em quantos homens vocês vieram? Fale a verdade ou morre! (ameaça o venezuelano).
- Somos apenas vinte homens, senhor! Mas vamos já embora daqui! Só queremos pegar os inimigos! (declara apavorado o invasor dominado).

- Se invadiu as minhas terras e a vila... então eu sou seu inimigo! (declara Maldonado pouco antes de cortar a garganta do invasor). "
Se o sujeito falou a verdade então ainda restam dezessete para serem mortos. Droga" (pensa ele sobre o enfrentamento que terá que encarar).

Agora ele pega arma por arma dos três homens já mortos, que invadiram a sua propriedade. Dentro de sua casa, com duas armas na cintura e dois rifles nas costas, Maldonado abre um armário de seu quarto e vê uma série de dispositivos que seu amigo, o sargento brasileiro Pedro, tinha deixado com ele. São aqueles dispositivos que simulam a movimentação do fantasma invisível ao andar pelo meio do mato.

Maldonado sorri, guarda tudo dentro de uma sacola e coloca o pequeno controle remoto, que faz parte do acionamento dos dispositivos, no bolso. Já lá fora e caminhando abaixado pelo meio do mato alto, o ex-militar do exército venezuelano dirige-se para o centro da vila. Ao chegar mais perto ele instala um a um dos dispositivos escondidos no mato e bem espaçados para parecer um ser correndo por ali. Na vila de Onojo, ali ao lado das terras de Maldonado, os homens do ELN ameaçam os moradores. Um senhor de certa idade é jogado ao chão por um dos invasores.

-
Fala logo! Quem desta cidade é olheiro das FARC? (grita o covarde homem armado que chuta o pobre cidadão indefeso).
-
Não sei de ninguém que seja olheiro, senhor! (argumenta o ameaçado venezuelano).
-
Estou perdendo a paciência...! Ou fala ou morre...! (ameaça novamente o guerrilheiro).
-
Solta ele...! Não existem olheiros das FARC aqui nesta vila! (grita, revoltada, Maria, a jovem e bela garota moradora da cidade).

O guerrilheiro para de olhar para baixo onde está o idoso homem, já machucado por tantos chutes, e agora presta atenção mais detalhada àquela bela jovem que usa um vestido de cor branca num tecido muito simples, comum aos moradores pobres desta região! Ele sorri ironicamente para a jovem e começa a caminhar lentamente na direção dela.

- Ahhh...! A mocinha é valente...! Então..., se não tem ninguém nesta vila que é olheiro..., talvez algum vizinho daqui seja..., não é? (o guerrilheiro chega agora bem perto dela e faz mais uma pergunta). Qual vizinho daqui é o olheiro..., meu amor?

A garota olha ao redor na direção dos outros moradores da cidade. Depois ela olha em direção às terras de Maldonado e titubeia em falar a verdade, com medo da represália futura das FARC e decide continuar mentindo:

- Você veio à vila errada...! Vá procurar olheiros em outro lugar...! Nós somos pacíficos e não somos visitados por ninguém das FARC!

O guerrilheiro do ELN sorri para ela, olha para baixo para fitá-la dos pés à cabeça e declara:

- Está pensando que eu sou idiota...? Esta vila está na rota de diversas células das FARC...! Como vocês poderiam estar imunes a eles...?
-
Eu não sei...! (declara ela gritando, já nervosa com a situação).
- Eu acho que você sabe mais do que está me dizendo! E eu vou descobrir tudo o que você sabe..., de um jeito... ou de outro...!

O guerrilheiro agarra Maria pelos longos e espessos cabelos negros e a arrasta para dentro do mato e para longe das vistas de todos em Onojo. Ela grita e usa as duas mãos agarrando as do bruto homem, para diminuir a dor na cabeça que sente naquele momento:

-
Me larga, seu idiota...! Vá embora daqui..., covarde!
- Você vai me contar tudo o que sabe! Mas antes eu vou me divertir um pouquinho com você! Depois vai apanhar até dizer tudinho o que eu quero saber...!
-
Me larga, desgraçado! (grita ela dando chutes e socos no guerrilheiro).
- Mostra para ela José o tamanho de seu poder! Aha! Aha! Aha! (gargalha um dos guerrilheiros).

Ele a joga com força no chão e também a sua própria arma de mão. Começa agora a afrouxar as calças, enquanto sorri para sua próxima vítima, deitada de bruços e com dor na cabeça gerada pela forma violenta com que ele a arrastou:

- Agora você vai saber onde está a força do nosso exército, garota.... Aha! Aha! Aha!

Ela vira a cabeça para trás, temendo aquele momento, quando vê Maldonado se erguendo do meio do mato e agarrando o sujeito pelas costas, enquanto lhe segura a boca para que não grite. O venezuelano o esfaqueia pelas costas diversas vezes. Os dois caem no chão. Maria grita ao ver cena tão brutal, levanta-se rápido dali e corre em velocidade acelerada e desesperada para o meio do mato.

-
Não grite! Fique quieta e abaixada! (grita baixinho em vão, Maldonado, para ela, agarrado ao guerrilheiro que está lentamente morrendo).

Ali perto os outros quinze homens da ELN percebem a fuga da garota e um deles grita:

-
Ei...! Ei...! Ela está fugindo...! Pega ela José...! José...? José...?

O sujeito percebe que José não está se levantando para pegá-la. Algo está errado! Então o guerrilheiro ergue seu rifle e o aponta na direção da garota. Maldonado não tem escolha senão acertá-lo antes que Maria seja morta. Ele pega a arma de mão do homem que acaba de assassinar e, ainda deitado no chão, atira duas vezes, acertando o peito do homem que iria matar a adolescente.

Os outros guerrilheiros rapidamente apontam suas armas na direção da origem do tiro, mas outro deles é acertado no ombro, por mais um tiro de Maldonado, e cai no chão. Todos começam a atirar. O venezuelano corre abaixado pelo mato para dentro de um pequeno riacho que corre ali ao seu lado. Ele se apressa para deixar o local e reaparece logo depois atrás de uma das residências do lugar. Maria já vai longe, quase desaparecendo no horizonte verde.

-
Quem é que está atirando em nós? (indaga um dos guerrilheiros a uma mulher que estava acuada junto com todo o restante da população local sob a mira das armas da ELN).
- Não sei, senhor! Não o vi! (diz ela toda encolhida de medo das ameaças e do bafo ruim do sujeito).
-
Deve ser o olheiro das FARC, pessoal! Vão pegá-lo! Espalhem-se pela região! Cerquem-no! Quero-o vivo! Vou matá-lo bem devagar! (ordena um dos homens que parece ser o líder do bando).

Dez homens se espalham pela região. Maldonado já atrás de uma das casas da vila e, portanto, distante do ponto onde os guerrilheiros o procuram, aciona agora o controle remoto, quando o grupo atravessa lentamente a zona onde estão os dispositivos, que são acionados de forma sequencial, fazendo barulho de mato sendo pisado e dando a impressão de que alguém passa correndo por ali. Numa reação imediata os guerrilheiros do ELN começam a atirar e um deles acerta um dos próprios colegas! De longe Maldonado sorri e continua contando. Agora são quatorze inimigos!

-
Parem de atirar! (grita um dos homens do bando).

Maldonado aproveita o momento e atira contra os cinco homens que ficaram apontando suas armas para a população local. Três deles caem feridos no chão. Os outros dois atiram em Maldonado. Os outros dez homens viram-se para ver o que está acontecendo na vila, atrás deles. Maldonado escondido novamente aciona outra vez os dispositivos que são acionados agora na direção inversa. Mais uma vez os dez homens atiram onde o mato se mexe acertando a perna de uma dos guerrilheiros.

Os dois sujeitos do ELN que estão ainda apontando suas armas para a população estão agora abaixados para se protegerem das balas. No meio do mato um dos guerrilheiros encontra um dos dispositivos que o venezuelano instalou escondido no mato. De longe Maldonado percebe isso e aciona novamente o controle remoto. O mato se mexe novamente, mas ninguém atira no que se mexe por ali. O dispositivo que estava na mão do guerrilheiro é acionado também e uma pequena alavanca se movimenta forte e rápida acertando e espremendo o dedo polegar do pobre coitado que grita de dor enquanto atira para cima num ato reflexo!

-
Que diabos está acontecendo aqui? (grita um dos dois guerrilheiros que toma conta da população).

Maldonado aproveita o tumulto e a desordem dos inimigos e corre por trás das casas para atacar os dois confusos soldados do ELN, enquanto o grupo de nove outros se abaixam no mato preocupados em não serem atingidos pelos supostos inimigos que os estão atacando escondidos por ali.

O venezuelano sai de trás de uma das casas e atira, matando os dois homens armados, liberando assim toda a população para fugir correndo dali para as suas casas. Uma confusão tomou conta do lugar. Os outros nove guerrilheiros estão ficando apavorados e começam a atirar nas pessoas da vila e principalmente em Maldonado que revida de peito aberto contra o Exército de Libertação Nacional.

De dentro das casas agora alguns moradores, que também estão armados atiram de volta para afastar o pequeno grupo de guerrilheiros que resolve ir embora, mas antes um deles consegue com um tiro acertar o peito de Maldonado que cai no chão, ficando imóvel.

Não muito longe dali Pedro e os seis jovens estão navegando de barco de volta para casa na vila de Onojo. Um profundo silêncio acompanha a embarcação, consternados com o choro e o desamparo do jovem que acabara de perder seu irmão que atirou na própria cabeça, porque não queria voltar para casa. Eles chegam perto da margem e veem diversos corpos de guerrilheiros caídos próximos à margem do rio. Pedro abaixa as sobrancelhas, preocupado com o fato.

Os seis jovens apavorados saltam do barco antes mesmo que ele ancore no pequeno
píer* do local. Eles gritam de medo por não saberem o que houve com suas famílias que moram ali por décadas. Um choro se generaliza no local quando os parentes reveem seus filhos que foram sequestrados pelas FARC e agora estão de volta. Todos se abraçam, enquanto Pedro se aproxima lentamente, analisando um por um dos que estão mortos ali. Entre eles o sargento brasileiro encontra moribundo seu compadre Maldonado e corre para perto dele, agachando-se para saber o que aconteceu:

- Maldonado! Maldonado! O que aconteceu aqui? (grita Pedro colocando suas mãos no peito do amigo que sangra sem parar).

Com os olhos entreabertos e muito fraco pela enorme perda de sangue, o compadre reconhece o amigo brasileiro e sorri de leve, enquanto pega no braço de Pedro.

- O que aconteceu, meu amigo? Por que a gente desta vila não o está ajudando? (indaga Pedro).
- Eles odeiam olheiros das FARC! Deixaram-me aqui para morrer junto com estes outros! (responde Maldonado que tem diversos cortes no rosto).
- Quem matou estes homens do ELN?
- Eles me ajudaram! (aponta Maldonado em direção à vila).
- Vou levá-lo para algum lugar para te salvar, Maldonado!
- Não, Pedro...! Não...! Eu já estou morto...! Mas está tudo bem...! Ao menos não deixei estes caras maltratarem pessoas inocentes...!

Pedro estranha a observação do amigo e olha de lado para a vila e vê dois garotinhos brincando com os dispositivos eletrônicos brasileiros que ele mesmo deixara com o compadre quase morto. O sargento começa a entender o que aconteceu ali e fica indignado:

- Você arriscou sua vida para salvar esta vila... e eles te deixaram aqui para morrer? Que droga de gente faria uma coisa destas?
- Eles não são culpados, Pedro! Pensam que eu sou olheiro das FARC e não sabem de onde vim! Estou em paz agora, meu amigo! Posso morrer tranquilo...! Vá embora desta região enquanto é tempo...! Enquanto está... vivo...!

São suas últimas palavras! Maldonado morre sob o amparo do amigo que começa a chorar de pena e de raiva! A pressão ficou muito grande para ele! Entrou nesta missão para punir traficantes de drogas pela perda de seu filho e de seu casamento. Perdera recentemente dois dos jovens que o acompanhavam.

Agora sua fome de vingança se agiganta! Seu ódio contra o mundo do crime o dominou completamente. Ele não irá desistir de punir os homens que fizeram isso contra o amigo venezuelano. Tomado de uma ira maior do que ele mesmo, Pedro se levanta e se dirige para enfrentar o povo da vila de Onojo. No meio do caminho, alguns moradores armados apontam seus rifles contra o sargento brasileiro e o ameaçam:

- Vá embora daqui, homem das FARC! Não queremos mais nenhum guerrilheiro em nossa vila!
-
Vocês foram salvos por este homem! (Pedro aponta para Maldonado). Que deu sua vida para protegê-los do ELN! E é assim que retribuem? Deixando-o morrer ao lado dos que vieram para destruir esta droga de vila?
- Não vamos mais nos submeter a nenhum grupo guerrilheiro! (comenta um dos homens armados da vila). Estamos cansados de ser ameaçados pelas FARC e seus inimigos!

- Este homem não é... e nunca foi olheiro das FARC! Ele odiava as FARC mais do que todos vocês juntos! Este homem era um herói do exército venezuelano e estava aqui porque cometeu um erro na vida e foi reformado! Ele só desejava viver seus últimos dias em paz e longe de problemas! Mas optou por dar a vida dele para salvar um bando de moradores que não merecem estar vivos.

- Vá embora daqui, homem das FARC! Diga a seus companheiros que não apareçam mais nesta região! Ou então...

-
Ou então o quê? (grita revoltado Pedro). Acham que porque têm estas armas podem lutar contra pessoas que fazem isso todos os dias? Acham que eles se importam com vocês, com seus filhos e parentes? Vocês ficaram oprimidos tanto tempo que nem sabem mais quem são os mocinhos e os bandidos! Vocês merecem o destino que terão no futuro! E mais uma coisa... eu também não sou das FARC! Vivo para matar cada um deles! E é isso que vou fazer agora!

Um dos jovens que abraçava a sua família corre na direção de Pedro e fala ao povo de sua vila:

- É verdade, pai e mãe! Ele nos protegeu e nos trouxe vivos de volta para cá. Ele é amigo do fantasma que está matando os guerrilheiros. Ele é uma boa pessoa.
- Desculpe-nos! (comenta um dos moradores que apontava a arma para Pedro). Você e Maldonado nunca nos disseram nada sobre isso e não tínhamos como saber quem eram realmente!
-
Desculpas não trarão a vida de Maldonado de volta...! (declara Pedro ainda chorando de ódio pelo que aconteceu). Vou enterrá-lo no fundo das terras dele...! E não quero nunca mais ver a cara de nenhum de vocês desta vila...!

- Pedro! Por favor! Não julgue mal nossas famílias! (requisita o jovem que defendeu o sargento perante o povo de Onojo). Eles viveram oprimidos por décadas. Quando tiveram a oportunidade usaram todo o seu ódio e raiva contra aqueles que julgavam serem seus inimigos.

Pedro se afasta dali, sem dizer mais nenhuma palavra! Vai até o corpo do amigo Maldonado. Pega-o no colo e caminha pelo mato em direção à casa do compadre. No caminho vê Maria, que já voltava de sua fuga desesperada. A garota estava parada com as mãos para trás, com ar de arrependida e resolve falar ao sargento, que para diante dela:

- Ele salvou a minha vida...! Quando me vi livre só pude correr e gritar de medo, enquanto ele Maldonado pedia para eu ficar calada! Sinto que falhei com ele.

O brasileiro olha friamente para ela e continua andando na direção às terras do compadre. Maria segue o sargento e logo atrás vêm também os seis jovens que Pedro trouxera de volta para casa.

- Posso ajudá-lo a enterrar Maldonado? (indaga Maria).

Pedro nada responde e continua caminhando, decidido a enterrar o amigo. Uma hora depois o sargento, os seis garotos e Maria estão ao redor do túmulo de Maldonado. Todos rezam pela alma do venezuelano. No final, Pedro caminha decidido em direção ao barquinho motorizado para ir embora. Um dos jovens o segue e indaga:

- Para onde você vai agora, Pedro?
- Vou acabar com o coronel Conrado e seu bando.
- Sozinho? (indaga o jovem).
- É! Por quê?
- Não pode matar todos eles sozinho! Vai precisar do fantasma! (comenta o jovem).
- Não preciso do fantasma para acabar com todos eles! Eu só preciso de uma arma e muita munição!
- Não faça isso, Pedro! Você será morto!
- E daí? Que diferença isso faz? Neste país todo mundo mata todo mundo!
- O que aconteceu com seu amigo foi um mal-entendido!

- Mal-entendido?!?! A violência se generalizou tanto neste país que ninguém mais sabe o que é certo e o que é errado! Eu posso morrer em meu próximo confronto! Mas matarei muitos deles antes do final deste dia.

- Pedro! Fale com o fantasma antes! Você viu o que ele fez sozinho! Matou mais de duzentos guerrilheiros. O grupo de Conrado é muito menor! Você e o fantasma resolverão isso facilmente!

O sargento pela primeira vez concorda com o jovem e para de andar. Pedro volta-se para ele e responde:

- Você tem razão! Se eu for sozinho não conseguirei matar todos eles! Eu preciso de ajuda!

O brasileiro lembra-se que deixou enterrado um radio de comunicação perto dali e resolve entrar em contato com a base militar da marinha em Brasília. Ele pega um rifle que estava jogado no mato. Era uma arma de um dos homens do ELN. Ele checa a quantidade de balas ali disponível e vai em direção ao barquinho motorizado ancorado ali próximo. Entra nele e navega em direção à foz do rio!

Poucos minutos depois Pedro para junto à margem do rio. Desce do barco e anda na mata até o local onde enterrara o transmissor. Ele cava e encontra o dispositivo. Tira-o do saco plástico e abre o estojo. Coloca seu dedo indicador no identificador de digitais, o que faz com que o rádio ligue-se automaticamente.

- General! Sou eu, Pedro...!
-
Sargento Pedro! Onde esteve? Por que ficou tanto tempo sem se comunicar conosco? (indaga o general Figueiredo via rádio).
- Desculpe-me, senhor...! A coisa saiu meio fora de controle por aqui...!
-
Sargento! A Colômbia está próxima de uma guerra civil. Nosso presidente mandou reforçar nossas fronteiras com este país! As AUC e o ELN estão tentando tomar o poder dos territórios das FARC.
- Sim! Eu sei...! Encontrei com soldados mortos do ELN também...!
-
Sargento! Fique onde está! Volte para a casa de seu amigo Maldonado e espere até que o avisemos!
- Esperar aqui...? Isso será impossível, senhor! Maldonado está morto! O ELN invadiu Onojo e mataram-no! Não tenho onde ficar!
-
Sinto muito, sargento! Temos que encerrar as suas operações na Colômbia. A coisa está perigosa demais por aí! Sua missão acabou!
- Fim da missão...? Mas eu não terminei a droga da missão...!
-
Calma, sargento...! Está nervoso?
- Claro que estou nervoso, senhor...! Pessoas inocentes estão morrendo ao meu redor e o último fantasma que vocês enviaram não eliminou todos os guerrilheiros do Xavier...!
-
As coisas não estão saindo como esperado, sargento! Com a pulverização do grupo do Xavier, desbalanceamos o equilíbrio das forças guerrilheiras na Colômbia. Criamos um ambiente inesperado na região e temos que finalizar a sua missão!
- Sinto muito, senhor! Não considero minha missão encerrada! Vou atrás do coronel Conrado e seu bando...!
-
Isto não é um pedido, sargento! É uma ordem! A missão está encerrada! Aguarde em algum ponto e nos informe sobre este lugar para que o barco invisível vá até você e o retire daí!
- Não vou esperar o barco invisível chegar...! Vou carregar o rádio de comunicação e deixar o GPS ligado. Peça para a equipe do barco invisível atirar um míssil na posição GPS que eu estiver emitindo, assim matarão todos os guerrilheiros...! Câmbio e desligo!
- Sargento Pedro...!?!? Pedro...!?!? (chama em vão o general ao agente infiltrado).

O militar brasileiro da marinha desliga seu rádio e o coloca preso à cintura. Ele agora sai dali e retorna para seu barquinho a motor! Enquanto ele o desamarra e puxa com força para dentro d´água novamente, acontece algo inesperado:

-
Ei! Você! Mãos para cima! (uma voz vinda do rio fala com Pedro).

O sargento ergue as mãos lentamente e vira-se devagar para ver o que está acontecendo. Três barcos a motor com cinco homens em cada um apontam suas armas para o brasileiro. Pedro olha para os uniformes deles e vê a sigla AUC bordada ali. Ele sorri, sem mostrar os dentes, e diz a eles:

- Vocês deram muita sorte, sabiam? Se fossem das FARC ou do ELN eu teria que matar todos vocês!

Uma gargalhada do líder força sorrisos de todos os companheiros de armas nos três barcos.

- Quem é você? Algum comediante? (indaga o líder das Autodefesas Unidas da Colômbia).
- Comediante? Não! Meu nome é Pedro! Sou sargento da marinha brasileira numa missão para acabar com o coronel Conrado das FARC.
- Humm! E espera que eu acredite nisso?
- Claro que sim! Pois é a pura verdade!
- Você tem alguma prova do que está dizendo..., comediante...?
- Tem o radio-comunicador em minha cintura!
- E como isso pode provar ser você da marinha brasileira?
- É só você olhar na parte de trás deste comunicador onde existe um brasão da marinha de meu país.
- Soares! Retire do sujeito o comunicador! (ordena o líder das AUC).

Um dos barcos se aproxima da margem e o tal Soares desce lentamente dali apontando a arma para Pedro e retirando lentamente o rádio da cintura dele. Soares olha e confirma a informação do sargento brasileiro, mostrando o brasão logo depois para seu líder no outro barco.

- Mas... você pode ter roubado este equipamento do verdadeiro sargento brasileiro. Isso ainda não é uma prova concreta!
- Se observar mais atentamente verá que existe no botão de apertar para falar um dispositivo biométrico de reconhecimento de digital.
- Então... se você tentar ligar para alguém e não for quem está dizendo... terei que matá-lo!
- Está combinado! Devolva-me o rádio que eu faço a ligação e você verá que falo a verdade.

O líder entrega o rádio para Soares e lhe faz um gesto de cabeça para devolver o equipamento a Pedro, que o pega lentamente de volta e pressiona o botão com seu indicador da mão direita. O rádio se religa automaticamente e o general Figueiredo, de prontidão do outro lado da linha, responde:

-
Sargento Pedro?
- Sim, senhor! Estou de volta!
-
Que bom que criou juízo! Eu estava pronto para mandar prendê-lo, quando chegássemos até você! Isso, claro, se não estivesse morto pelos guerrilheiros!
- Não retornei a ligação por ter juízo, senhor! Apenas para confirmar que agora tenho amigos que me ajudarão a acabar com a célula do coronel Conrado!
-
Amigos?!?! Do que está falando agora?
- Estou falando das Autodefesas Unidas da Colômbia. Encontrei um grupo deles que irão me ajudar no final de minha missão!
-
Sargento Pedro! Não se alie a estes guerrilheiros! Eles não são de confiança!

Pedro sorri para o líder das AUC que está à sua frente. Estão todos ouvindo a comunicação e demonstram certa indignação com a observação do general brasileiro.

- Fique tranquilo, general! Quando meu transporte chegar... Conrado já será passado neste país!
-
Estou preocupado com você, Pedro! Não faça nenhuma loucura, vamos retirá-lo daí muito em breve. O barco já está bem próximo!
- Sim, senhor! Câmbio e desligo! (finaliza Pedro).
- Muito bem, sargento brasileiro Pedro! (comenta o líder das AUC que ordena que seus companheiros abaixem as armas). Provou quem é você...! Então espera que todos nós o acompanhemos em sua missão?
- Claro que sim! Vocês querem acabar com eles tanto quanto eu...!

- Estamos atrás do coronel Conrado há muito tempo! Mas não costumamos enfrentar as FARC de peito aberto. Temos uma nova tática atualmente. Acompanhamos de longe a ação de nossos dois grupos rivais, esperamos que eles se enfrentem e eliminamos o vencedor de cada embate. O vencedor estará com poucas balas! Já terão muitas baixas do combate anterior! E assim nós estamos acabando com dezenas de inimigos sem muito trabalho e nem ficamos tão expostos a um perigo desnecessário! Nosso lucro está na conquista de novas armas e munições dos inimigos. Não gosto muito de seu plano de ataque frontal!

- Vocês já os enfrentaram recentemente. Eles fugiram enquanto vocês atacaram o ELN que pensou ter dominado o local.
- Como sabe disso?
- Eu estive por lá pouco depois de vocês se confrontarem com o ELN. Um dos homens de Conrado apareceu para resgatar armas e balas.
- Humm...! Você é bom...! (comenta o líder das AUC).

- Conrado está fragilizado neste momento! (complementa Pedro). Ele perdeu diversos homens num embate anterior com o exército colombiano! E agora com vocês também! O grupo dele está indo para o sul e devem ter andado os quarenta e cinco quilômetros entre Onojo e a fronteira brasileira. Estão cansados e sem dormir muito bem também! E agora encurralados na fronteira com o meu país! O exército brasileiro vem reforçando as tropas na região. O coronel não terá para onde ir. Esta é a chance de pegá-lo!

O líder colombiano das AUC pensa um pouco na situação e toma uma decisão:

- Se ele foi para o sul deve estar agora em La Guadalupe na divisa da Colômbia com o Brasil...! Convenceu-me, Pedro! Devemos pegá-lo agora! Se você vai encontrá-lo então iremos juntos!

O sargento brasileiro estende sua mão direita para cumprimentar o líder e selar a aliança entre eles para pegarem Conrado. O líder das AUC aproxima seu barco da margem e cumprimenta Pedro.

- Estamos combinados, Pedro! Meu nome é Carlito Chagas!
- Eu sou Pedro Álvares! Vamos acabar com mais alguns "farqueanos"?

- Sim! Mas não hoje! (declara Carlito). O dia já está indo embora e precisaremos de mais homens para esta empreitada! Temos que trocar nossos uniformes também para não sermos reconhecidos pelo exército brasileiro. Venha dormir em nosso acampamento até amanhã de manhã! Depois vamos acabar com Conrado e seu bando de guerrilheiros.

- Está bem! Vamos lá! (declara Pedro que sorri porque agora não estará sozinho nesta louca empreitada).

CAPÍTULO IV
PEDRO E O LOBO

CAPÍTULO XXVII
LAR DAS ONÇAS

CAPÍTULO V
FANTASMA URBANO

CAPÍTULO XXVIII
O INFERNO CONTRA-ATACA

CAPÍTULO VI
PIRATAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XXIX
ATAQUE AO LITORAL

CAPÍTULO VII
ENTRANHAS DO PODER

CAPÍTULO XXX
NOVOS POLÍTICOS

CAPÍTULO VIII
FRONTEIRAS DA GUERRA

CAPÍTULO XXXI
LEMBRANÇAS ANTIGAS

CAPÍTULO IX
BALAS ASSASSINAS

CAPÍTULO XXXII
O DONO DO INFERNO

CAPÍTULO X
FICHA LIMPA OU ROUPA SUJA

CAPÍTULO XXXIII
AGULHAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XI
PIRATAS EM REUNIÃO

CAPÍTULO XXXIV
VISITA INTERNACIONAL

CAPÍTULO XII
PRESSÃO POLÍTICA

CAPÍTULO XXXV
SOZINHO NA MULTIDÃO

CAPÍTULO XIII
GUERRA SEM-FIM

CAPÍTULO XXXVI
GUERRA DE INVISIBILIDADE

CAPÍTULO XIV
NAS PISTAS DE UM COMBATE

CAPÍTULO XXXVII
VERDADE DOS FATOS

CAPÍTULO XV
ENTREVISTA COM O DEMÔNIO

CAPÍTULO XXXVIII
PALAVRA DE PRESIDENTE

CAPÍTULO XVI
MOGADÍSCIO

CAPÍTULO XXXIX
O ENCONTRO COM O MAL

CAPÍTULO XVII
O AMANHÃ COMEÇA HOJE

CAPÍTULO XL
TIRO NO ESCURO

CAPÍTULO XVIII
MORTE NA ALDEIA

CAPÍTULO XLI
PARCERIA INUSITADA

CAPÍTULO XIX
FRONTEIRA DO PODER

CAPÍTULO XLII
ESPELHO QUEBRADO

CAPÍTULO XX
FALSO FANTASMA

CAPÍTULO XLIII
O NOVO CÂNCER

CAPÍTULO XXI
LADRÃO QUE ROUBA LADRÃO

CAPÍTULO XLIV
LEMBRANÇAS DO VIETNÃ

CAPÍTULO XXII
DOMÍNIO DO ÓBVIO

CAPÍTULO XLV
A VERDADEIRA DEMOCRACIA

CAPÍTULO XXIII
CORONEL SEM ESTRELA

PERSONAGENS
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*Pier é aquela construção, geralmente feita em madeira, adentrando a água do mar ou de um rio, para facilitar o embarque e desembarque de lanchas ou barcos.

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