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O BARCO INVISÍVEL
GUERRA DE INVISIBILIDADE - Vol. III

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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
INIMIGO OCULTO

CAPÍTULO XXIV
A REPÓRTER É A NOTÍCIA

CAPÍTULO XLII
ESPELHO QUEBRADO

CAPÍTULO II
POSSE CIBERNÉTICA PÚBLICA

CAPÍTULO XXV
BALAS POR ARMAS

CAPÍTULO III
REUNIÃO DE GUERRA

CAPÍTULO XXVI
FAMÍLIA EM PÂNICO

De volta ao navio, não mais invisível, norte-coreano a barricada feita para garantir o controle da cabine contra os militares amotinados agora cai por terra. O ex-imediato invade o local com mais dois soldados armados que exigem a rendição de seu líder.

- Acabou, Bon-hwa! Sua guerra particular chegou ao fim! Estou tomando este navio de uma vez por todas!

O líder vencido olha para ele e sorri!

- Olhe ao seu redor...! Quer comandar este lixo flutuante...? Pois então... fique com ele...! Mas lhe aviso que não aceitarei devolução...! Estamos prestes a sermos destruídos totalmente por nosso inimigo...! E nem sequer podemos ativar esta droga de bomba nuclear!

- Você é maluco e incompetente, Bon-hwa! (declara o ex-imediato). Meus homens estão preparando um dos canhões para ser manualmente ativado e assim destruirmos de vez o barco brasileiro antes que eles nos destruam!

- E depois...? Você e seus homens remarão até as águas internacionais para fugirmos daqui...? E mesmo que algo assim aconteça... o que fará a seguir? Vamos todos pescar pelo resto de nossas vidas para continuarmos vivendo...? Não temos mais o que fazer...! Estamos moribundos e em breve todos estaremos oficialmente mortos...! Já estamos para nosso povo e em breve estaremos também para nós mesmos!

- É esse o homem que vocês estão chamando de comandante...? (declara o ex-imediato olhando para aqueles que o acompanham na cabine). É assim que vocês também pensam...? Quem daqui quer sobreviver e voltar para casa...?

Todos eles erguem as mãos para o desacordo do olhar de Bon-hwa!

- Pois então...! Mexam-se...! (ordena o novo comandante deste navio). Temos um navio para fazer funcionar...! Não temos homens suficientes para nos darmos ao luxo de fazer prisioneiros...! Quero uma equipe no convés inferior trabalhando sem parar, até que os motores voltem a funcionar! Quem não for técnico vá lá fora e convença seus colegas que precisamos trabalhar juntos para sobrevivermos mais uma vez. Este antigo comandante aqui não sabe mais o que fazer e está deposto de seu cargo!

Ao dizer isso, o ex-imediato aponta sua arma em direção à cabeça de Bon-hwa e atira. O poderoso homem morre ali mesmo, sentado em seu falso trono de comandante. Todos se espantam com a crueldade do novo capitão.

- Vamos trabalhar, pessoal! Precisamos sobreviver para voltarmos para casa... para o nosso lar...!
Andem...!

Todos se levantam de seus lugares e correm para fora para tentarem fazer o navio zarpar dali o mais rápido possível. De volta ao barco invisível brasileiro, a pequena equipe de dois profissionais e eu, um simples jornalista perdido numa batalha pela sobrevivência em pleno mar, estamos tentando sobrepujar um navio inteiro de inimigos. Já escapamos de uma explosão nuclear e do sistema de autodestruição de nossa embarcação. Agora temos que vencer um inimigo também moribundo que trabalha arduamente para conseguir atirar em nós. Sabino e Everardo estão revirando os destroços em sua sala de trabalho à procura de um dispositivo que eu não entendi para que serve.

- Sabino! Explique-me novamente o que é que você está procurando?
- É um dispositivo que eu e Everardo criamos há algum tempo, Fernando! Através de nossas ondas cerebrais conseguimos enviar sinais de controle ao soldado-aranha para que ele execute alguma operação.

- Mas isso é confiável? (indago eu).
- Nem um pouco! (responde Everardo). Por isso nós o abandonamos!
- E por que querem agora usá-lo? Não será perigoso?

- Eu não estou encontrando outra ideia viável neste momento! (responde Sabino). Se tentarmos fazer o que o nosso inimigo está também fazendo, precisaremos de um enorme exército e um monte de spare parts!

- De... o quê...? (indago eu).
- Spare parts...! Peças..., dispositivos..., equipamentos..., ferramentas..., tudo sobressalente...! E não temos nada destas coisas aqui e agora (informa Sabino). Esta embarcação é controlada por programas de computadores, sensores, atuadores e um grande número destas coisas foram destruídas junto com a embarcação.

- Não podemos nós três ativar o canhão eletromagnético e com um único tiro afundar nosso inimigo? (indago eu novamente).

- Fernando! Eu fui lá em cima e vi todo o estrago! Não dá mais para usar aquele armamento! Nosso canhão precisa de energia...! De muita energia...! Boa parte da fiação foi destruída e não dará tempo para ser consertada! Além disso, temos diversos grandes motores elétricos que movimentam aquele canhão! Se desacoplarmos estes motores não teremos como, sozinhos, movimentarmos aquele monstro para fazermos alguma mira! E com os motores no lugar não temos como controlá-los. Eu nem sei se o canhão ainda está funcional. A única coisa que ainda temos autônoma que funciona é um dos soldados-aranhas! Ele não foi danificado e só com ele poderemos garantir afundar nosso inimigo.

- Temos poucas opções neste momento, Fernando! (declara Everardo, levantando mais um destroço).
- Pessoal! Encontrei um capacete esquisito aqui! (declaro eu ao grupo).

Sabino se aproxima de mim e confirma as suspeitas dele:

- Você encontrou, cara! Isto é o que eu estava procurando..., mas... acho que está quebrado...!
- Está faltando só um fio! Vamos soldá-lo e testá-lo novamente (declara Everardo).
- E onde está o ferro de solda...?!?! E a solda...?!?! (indago eu).
- Droga! (declara Sabino).

Nós três nos olhamos um para o outro e saímos correndo para procurar o material em meio aos escombros para conseguir consertar rapidamente o problema. Na parte mais baixa do navio inimigo diversos militares trabalham para consertar o problema dos motores. Os hélices foram atingidos e não movimentam mais água o suficiente para empurrar o navio!

- Teremos que recolocar pá por pá que fora destruída, senhor! (comenta o mecânico a um jovem tenente no local).
- Pá por pá? E isso é possível?
- Sim, senhor! Os novos hélices são feitos em partes separadas para facilitar a manutenção rápida do barco.
- E temos pás sobressalentes?
- Sim, senhor! Só precisamos usar o guindaste da popa do navio para carregar as partes até dentro d'água, enquanto retiramos uma e fixamos a outra.
- E o guindaste está funcionando? (indaga o inexperiente tenente).
- Não sei! Mas sem o guindaste não será possível executarmos esta missão.

- Muito bem, então! Cabo! Entre em contato com o convés superior e peça para checarem se o guindaste está operacional! Se não estiver, precisamos consertá-lo urgentemente. Depois disso poderemos partir daqui para bem longe.

- Sim, senhor! (responde o cabo que está ali ao lado).

No parte mais alta do convés do navio norte-coreano alguns dos militares sobreviventes estão ali trabalhando duro para tentar usar sua poderosa arma contra nós. Com marretas, martelos, chaves de fenda, diversos outros equipamentos e dispositivos, os militares estão aos poucos conseguindo fazer algumas coisas darem certo. A evolução é lenta, mas frenética! Manual, mas eficiente! Agora o sistema de comunicação eletrônico interno, mesmo funcionando mal, os está ajudando nos trabalhos de reparos. Um soldado se aproxima do grupo que está trabalhando no canhão e informa ao sargento no local:

- Senhor! O pessoal que está trabalhando nos motores disse que podem consertar os hélices que foram danificados, mas precisam que o guindaste, aqui de nosso convés, esteja operacional!
- Não temos homens para fazer tudo ao mesmo tempo! Temos que decidir se as armas são menos importantes do que os motores!
- O que digo a eles, senhor?
- Diga que peça ao novo capitão que ele mesmo ajude a consertar o guindaste! (responde maldosamente o sargento).

-
Tem razão, sargento! (declara o novo comandante do navio, o ex-imediato que assumiu o cargo, ao chegar ao convés). O que quer que eu faça? Afinal, precisamos todos nos ajudar para sobrevivermos!

Sem jeito e meio desconcertado, porque seu novo chefe o ouviu dizer aquilo, o sargento o leva até o guindaste ali perto e apresenta a ele o problema.

- Bem, senhor! O motor hidráulico de giro do guindaste foi atingido e sem ele não poderemos erguer e nem posicionar nada! Temos que trocar esta válvula que estourou, a mangueira que se partiu e depois bombear fluído hidráulico para o interior do circuito!

- É só isso?
- Sim, senhor! Mas não temos ninguém para fazê-lo!
- Agora tem! Só preciso de algumas ferramentas. Onde temos válvulas sobressalentes? (indaga o novo líder da embarcação inimiga).
- No convés inferior temos um estoque de partes hidráulicas, entre as seções doze e treze!
- Deixe comigo! Vou resolver isso agora mesmo!

De volta ao barco brasileiro Sabino já conseguiu soldar o fio que partira no dispositivo cerebral. Agora precisa de teste de funcionabilidade.

- Vamos lá em cima para ver como o soldado-aranha reage! (convida Sabino aos colegas).

Nós três subimos a escada de alumínio e eu, pela primeira vez, vejo o estrago que também estava neste lugar. Um dos aranhas estava destruído! Faltando patas, metade do corpo rasgado e a invisibilidade não mais funcional. O outro parecia normal, mas totalmente inerte e visível naquele momento. Sabino aproxima-se do robô e coloca na cabeça aquele estranho chapéu eletrônico.

A "coisa" é uma estrutura plástica de estreitos filamentos que se trançam seguindo a forma da cabeça e que tem diversos pontos com sensores posicionados por toda a cabeça. Sabino começa a fazer careta, mexer as bochechas, as sobrancelhas, abre e fecha os olhos e nada acontece. Uma cena ridícula que deixou a aparência do militar estranha como se ele fosse alguém cheio de tiques nervosos!

- Acho que isso não está dando certo! (declaro eu, ante o óbvio).
- Everardo! Acho que será preciso fazer uns ajustes de sintonia! (declara Sabino).
- Também acho!
- Suba lá em cima e altere os potenciômetros de frequência!
- Tá legal!

Everardo sobe pela pata do robô e ajoelha-se sobre o corpo do enorme soldado-aranha! Ali ele usa uma chave de fenda elétrica e solta alguns parafusos. Uma tampa é aberta por ele! Segurando a chave de fenda na boca o militar se esmera em ajustar, com as mãos, suavemente os potenciômetros, enquanto Sabino, com aquele estranho chapéu eletrônico, procura fazer o robô inerte se mexer fazendo um monte de caretas!

Eu observo toda aquela ação e não vejo nenhum progresso! Estou ficando muito incomodado porque o sistema não dá sinais de vida e começo agora a pensar em outro modo de destruir o nosso inimigo! Vim para a marinha para descrever o que está acontecendo e já estou criando planos militares para matar outros militares!!!!

Mas então algo inesperado acontece! O local, sobre o qual Everardo estava apoiado se ergue, fazendo com que ele necessite se agarrar nas patas ao seu lado para não cair. Agora todo o arsenal de armas que o robô guarda internamente está exposto! Tais armas se rotacionam em velocidade parando subitamente logo depois. Uma delas começa a atirar freneticamente destruindo a frente de nossa embarcação e abrindo mais um enorme rombo na estrutura já muito comprometida. Sabino retira rápido o chapéu e o tiroteio para imediatamente!

Assustados, nós três olhamos para o novo rombo que fora feito na estrutura externa de nosso veículo militar! Através dele, e ao longe, percebemos que o guindaste do barco inimigo, que também estava sendo consertado, agora está se envergando lentamente, porque os nossos tiros acertaram um ponto específico da estrutura de sustentação, danificando-a. Logo depois o equipamento hidráulico é todo arrancado do convés e parte do guindaste cai de lado, forçando o barco inimigo a
adernar* ligeiramente com o novo peso lateral. Os marinheiros norte-coreanos se seguram onde podem para não caírem no convés.

CAPÍTULO IV
PEDRO E O LOBO

CAPÍTULO XXVII
LAR DAS ONÇAS

CAPÍTULO V
FANTASMA URBANO

CAPÍTULO XXVIII
O INFERNO CONTRA-ATACA

CAPÍTULO VI
PIRATAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XXIX
ATAQUE AO LITORAL

CAPÍTULO VII
ENTRANHAS DO PODER

CAPÍTULO XXX
NOVOS POLÍTICOS

CAPÍTULO VIII
FRONTEIRAS DA GUERRA

CAPÍTULO XXXI
LEMBRANÇAS ANTIGAS

CAPÍTULO IX
BALAS ASSASSINAS

CAPÍTULO XXXII
O DONO DO INFERNO

CAPÍTULO X
FICHA LIMPA OU ROUPA SUJA

CAPÍTULO XXXIII
AGULHAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XI
PIRATAS EM REUNIÃO

CAPÍTULO XXXIV
VISITA INTERNACIONAL

CAPÍTULO XII
PRESSÃO POLÍTICA

CAPÍTULO XXXV
SOZINHO NA MULTIDÃO

CAPÍTULO XIII
GUERRA SEM-FIM

CAPÍTULO XXXVI
GUERRA DE INVISIBILIDADE

CAPÍTULO XIV
NAS PISTAS DE UM COMBATE

CAPÍTULO XXXVII
VERDADE DOS FATOS

CAPÍTULO XV
ENTREVISTA COM O DEMÔNIO

CAPÍTULO XXXVIII
PALAVRA DE PRESIDENTE

CAPÍTULO XVI
MOGADÍSCIO

CAPÍTULO XXXIX
O ENCONTRO COM O MAL

CAPÍTULO XVII
O AMANHÃ COMEÇA HOJE

CAPÍTULO XL
TIRO NO ESCURO

CAPÍTULO XVIII
MORTE NA ALDEIA

CAPÍTULO XLI
PARCERIA INUSITADA

CAPÍTULO XIX
FRONTEIRA DO PODER

CAPÍTULO XLII
ESPELHO QUEBRADO

CAPÍTULO XX
FALSO FANTASMA

CAPÍTULO XLIII
O NOVO CÂNCER

CAPÍTULO XXI
LADRÃO QUE ROUBA LADRÃO

CAPÍTULO XLIV
LEMBRANÇAS DO VIETNÃ

CAPÍTULO XXII
DOMÍNIO DO ÓBVIO

CAPÍTULO XLV
A VERDADEIRA DEMOCRACIA

CAPÍTULO XXIII
CORONEL SEM ESTRELA

PERSONAGENS
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*Adernar é quando uma embarcação inclina-se de lado. Isso acontece normalmente quando um vazamento no casco vai enchendo de água diversos compartimentos inferiores. No limite da inclinação a água começa a entrar pelos conveses superiores também, o que leva o barco a afundar.
No interior do barco inimigo o novo comandante, que trabalhava arduamente para consertar o equipamento hidráulico que movimentaria o guindaste, agora está furioso.

-
Eles não querem que fujamos daqui! (declara o novo comandante com ódio no olhar). Vamos usar nosso veículo hovercraft e atacar a embarcação deles!

- Não dá, senhor! (responde o sargento). Com o sistema hidráulico destruído a porta externa também não se abrirá. Estamos presos aqui até que consertemos tudo isso.

Revoltado e olhando ao redor em busca de algo que possa utilizar, o novo comandante vê jogada num canto uma metralhadora de mão. Ele vai até ela, se abaixa, a agarra com violência, caminha com raiva pelo convés até a borda do navio, aponta a arma e descarrega todas as balas em direção ao barco brasileiro. Eu, Sabino e Everardo nos jogamos no chão para não sermos atingido. Diversos tiros atravessam a fuselagem já destruída e as balas passam zunindo por cima de nossas cabeças. Eu quase entrei em desespero com aquilo! Mas como sempre acontece com as metralhadoras, rapidamente o ataque cessa porque as balas acabam!

Na sede secreta em Brasília a equipe de Severo observa tudo via satélite e também pelas câmeras dos insetos artificiais que apontam para as duas embarcações, dando aos nossos militares em terra firme uma visão assustadora do campo de batalha. Porém nenhum dos militares de Brasília pode fazer alguma coisa neste momento.

- Eles estão vivos, senhor! (declara, feliz, a major Margarida). Estão tentando destruir o inimigo com o pouco que restou inteiro da nossa embarcação!

- Isso passou de uma guerra de invisibilidade para uma luta de tecnologias! (declara sereno o comandante Severo). Estão ambos em busca de uma solução possível que destruirá o inimigo de uma vez por todas. Temos que ajudá-los, pessoal! O que mais temos à disposição que possa pender esta balança ao nosso favor?

- Não temos mais nada, senhor! Estamos tão presos e impotentes aqui, quanto àquelas embarcações em alto-mar! (informa, desolado, o tenente Júlio do controle das armas).

- A diferença é que um deles pode afundar, quando tudo acabar... e nós... simplesmente... iremos para casa depois disso! (declara, chateado, o comandante).

No interior de nosso barco eu procuro me acalmar e ergo a cabeça. Olho para os lados e vejo que os dois cabos da marinha estão bem.

- Acho que nós estamos deixando nosso inimigo muito nervoso! (declara eu aos dois).
- Por que aconteceu isso, Sabino? (indaga Everardo, nervoso por quase ter sido morto pelo colega).
- O sistema está funcionando! Mas saber controlar isso tudo... é outra coisa...! Não vai ser nada fácil! Nem sei como escolher a arma certa e ainda fazer a mira!

De volta ao barco inimigo, os norte-coreanos tiveram uma nova ideia para fazerem os motores voltarem a funcionar! Estão determinados a deixarem para trás as águas brasileiras. Usam cordas para erguer uma das pás do hélice de dentro do navio para poder colocá-lo na água, onde mergulhadores já aguardam para poder fixar tal haste ao conjunto danificado.

O hélice está dependurado pela lateral. Ele bate de um lado e de outro. Apesar de dezenas de militares segurando firme a enorme pá que ali está, o dispositivo às vezes escorrega e acerta com força as paredes verticais externas do navio! Apesar de tudo a operação está dando certo e o hélice começa a entrar lentamente na água. Com diversos flutuadores amarrados nele, o equipamento afunda suavemente ainda amparados pela força dos braços norte-coreanos. O canhão inimigo, no topo do convés superior, está lentamente sendo girado na direção do barco brasileiro. Eu, Fernando, observo toda a operação a distância e informo Sabino e Everardo:

- Acho melhor acelerarmos a nossa estratégia, pessoal! Eles já conseguiram descer uma das pás e vão fixá-la dentro d'água. O enorme canhão deles também está sendo virado em nossa direção!

- Tudo ao seu tempo, jornalista! (declara Everardo reajustando a sensibilidade dos potenciômetros internos do soldado-aranha). Agora, Sabino, espere eu descer daqui antes de você testar novamente o controle mental, está bem?

- Sim! Vamos lá! Estamos atrasados! (responde Sabino enquanto Everardo pula dali de cima).

Sabino respira fundo três vezes para baixar a adrenalina e recoloca lentamente o chapéu de sensores cerebrais. Ao fazer isso o soldado-aranha dá dois passos para frente.

- Ohhhh...! Calma...! Calma...! (declara, assustado, Everardo com as mãos para frente e andando de ré para evitar o contato com o monstro robótico).

Sabino se concentra e consegue fazer o soldado-aranha dar dois passos de volta para trás. A tampa superior é erguida com mais cuidado agora expondo novamente as armas.

- Agora eu preciso apenas pensar na arma certa! (declara Sabino falando baixinho enquanto eu e Everardo estamos posicionados atrás dele).

O dispositivo de armas gira rapidamente e para bruscamente. Uma granada é arremessada a grande distância, passando pela estrutura externa de nosso barco e caindo em pleno mar, porém mais perto do barco inimigo. Os mergulhadores asiáticos percebem a manobra brasileira e mergulham rapidamente para longe para escapar da explosão. Segundos depois é exatamente isso o que acontece. Um grande volume de água é arremessado ao céu! Uma onda de choque aquática circular se afasta rapidamente do centro da explosão pela superfície do mar e em poucos segundos já está balançando o navio inimigo e pouco tempo depois também o nosso.

O movimento inesperado atrapalha um pouco os trabalhos do navio asiático em posicionar a pá do hélice, que se balança para lá e para cá, batendo ainda mais forte na parede de sustentação traseira (a popa) do barco. Os militares orientais gritam e se esforçam para garantir que o dispositivo não se perca, no caso de escapar das mãos de alguém. O esforço deles é grande e com isso conseguem manter o sistema dependurado.

- Sabino! Só estamos deixando nossos inimigos com mais raiva de nós! (declaro eu ao "espichar" meus olhos para ver o resultado no outro navio). Gire novamente esta roleta russa e atire algo que valha a pena!

Sabino se concentra novamente e nada acontece desta vez.

- Mas que droga! Acho que me desconcentrei! (declara Sabino).

Do outro lado desta guerra, o canhão está na posição e a ordem de atirar é finalmente dada:

-
Atirem! (grita o novo comandante).

A bala é arremessada e explode muito próximo do barco brasileiro. Muita água salgada nos atinge e nosso barco se balança como numa forte tempestade! Nós três caímos no chão! Sabino procura proteger seu precioso e frágil chapéu de sensores cerebrais.

-
Calma! Calma! Não podemos deixar isso se quebrar agora! (declara, preocupado, Everardo olhando para o colega militar). Eles já estão atirando em nós, Sabino! É questão de tempo para nos acertarem e nos destruir! É agora ou nunca, cara!

No barco norte-coreano:

- Vamos lá, pessoal! Esta é a nossa chance! (declara o novo comandante do navio). Mudem o ângulo do canhão! Um pouco mais para a esquerda e mais para cima! Vamos logo!

Um trabalho frenético se inicia para conseguir com muito esforço mudar os ângulos de ataque manualmente.

- Sabino! Atire logo...! Eles já estão conseguindo alterar o canhão! (digo eu observando as manobras do inimigo).

Na sede secreta da marinha em Brasília, o comandante Severo e seu time se transformaram em meros torcedores. Pelos monitores eles observam de olhos arregalados o desenrolar dos fatos. Uns roem as unhas, outros põem as mãos na cabeça, alguns balançam nervosamente pernas, braços e mãos! Todos estão apreensivos! A morte chegará a qualquer momento para qualquer um dos lados. Talvez até para os dois!

Sabino se concentra e as armas novamente giram freneticamente e subitamente param. Everardo, de ouvidos tampados pelas mãos, sorri. Um projétil é arremessado com violência em direção ao inimigo. Uma enorme labareda de fogo acompanha o movimento. Parte deste fogo retorna na direção do soldado-fantasma sem grandes prejuízos, mas isso assusta o pequeno grupo que se afasta para se proteger.

Lá fora o projétil viaja com extrema velocidade e antes que os norte-coreanos pudessem saber o que está acontecendo, algo atravessa de fora a fora toda a embarcação na linha d'água! O forte impacto de paredes se arrebentando por todo o navio é ouvido por aqueles que estão no convés superior. Um silêncio aterrador se instala no barco asiático. Todos esperam para saber o que foi aquilo. Estão estáticos os militares, olhando atentos para todos os lados quando o navio começa a adernar lateralmente outra vez. Um comunicado de rádio vem de um dos conveses inferiores:

-
Abandonar o navio...! Abandonar o navio...! Estamos afundando...!

O pânico se instala na tripulação oriental!

-
Não...! Esperem...! (grita o novo comandante). Vamos atirar novamente neles antes de sairmos daqui! Com a inclinação do navio conseguimos reposicionar mais adequadamente o canhão! Vamos atirar agora...!

Seus militares se preparam e mais uma vez atiram contra nós! A bala, em direção diferente do tiro anterior, alça voo e explode ainda mais perto de nós. Agora a quantidade de água arremessada é maior, nos molhando inteiros. O movimento de nossa embarcação nos atira ao chão com violência. Em tinha certeza de que iríamos emborcar de lado! A onda circular de choque quase conseguiu realmente no destruir. O chapéu esquisito de Sabino caiu de sua cabeça e se espatifou no chão molhado! Era o fim de nossa capacidade de atirar novamente. Estávamos acabados! Se o inimigo puder atirar com maior precisão estaremos todos mortos!

Mas o barco invisível inimigo foi acertado com um tiro de misericórdia! A água começa a entrar cada vez com mais violência por trás e pela frente da embarcação, por onde entrou e saiu o minúsculo projétil. Com uma velocidade terminal de milhares de quilômetros por hora o impacto tornou-se extremamente violento. O navio trincou em diversos pontos do casco! Sem mais tempo para atirar novamente os militares asiáticos correm para jogarem seus barcos infláveis no mar. Às dezenas bolhas que se inflam rapidamente ao caíram sobre a água do mar, vão se transformando, dando forma a um bote com as cores da antiga Coreia do Norte.

Os militares saltam também às dezenas para a água! Ali eles nadam em direção aos botes para se salvarem. Agora precisam fugir dali rapidamente. Após o afundamento do navio um redemoinho de sucção se forma e puxa para baixo qualquer bote que esteja ali por perto.

Ainda no convés superior o novo comandante do navio, que afunda rapidamente, olha fixamente em direção ao seu inimigo também moribundo não muito longe dali.

-
Comandante...! Salte logo para a água! Temos que nos afastar rapidamente daqui! (grita um dos oficiais já no interior de um dos botes infláveis).

Ele agora acorda de seu torpor e busca no chão do convés alguma nova arma para utilizar. Encontra uma pistola! Coloca-a na cintura e salta lá de cima para o mar, mergulhando para escapar da morte. Seu corpo retorna à superfície enquanto um único bote inflável se aproxima dele com um motor elétrico ligado!

-
Vamos, senhor! Estes barquinhos nos levarão para longe da costa brasileira.
- Tenho um último assunto a tratar com aquele barco!
(declara o comandante norte-coreano, apontando para barco brasileiro).
-
Senhor...?!?! Não temos mais nenhuma arma aqui. Eles podem ter pistolas e nos transformaremos em reféns!
- Não...! Vamos até lá...! Vamos afundar o barco deles também!


Sem opções, o timoneiro faz o que seu comadante-em-chefe ordena e eles partem para atacar-nos.

Dentro do nosso barco, cada vez mais destruído, eu, Fernando, levanto-me do chão, já com dificuldades e noto que tanto Sabino, quanto Everardo estão desmaiados ali perto. O soldado-aranha caiu de lado e assim ficou! Aproximo-me de Sabino e tento reanimá-lo:

- Sabino...! Sabino...! Como você está...?

Nenhuma resposta! Volto-me para Everardo. Abaixo-me junto dele e também o chamo enquanto o chacoalho suavemente:

- Everardo...! Everardo...! Acorde...!

Nada também! Estou sozinho. Ao menos percebi que ambos estavam vivos, porém desmaiados. Devem ter batido a cabeça quando caíram! Meu braço está sangrando muito e ardendo, por conta do banho de água do mar que tomei! Preciso resolver esse problema. Mas então eu ouço um som de motor ficando cada vez mais forte. Talvez alguém esteja vindo nos resgatar! Vou rápido para a lateral da embarcação e olho para fora...! Que desastre...! Um bote inimigo com oito tripulantes vem rápido em minha direção. Ao fundo vejo que o navio inimigo está cada vez mais emborcado e afundando rapidamente.

-
Tenho que fazer alguma coisa...! Mas o quê...? Sem armas...! Sem cobertura militar...! Sem colete à prova-de-balas...! (penso eu).

Olho para o chão e vejo diversas barras de ferro soltas no chão! É isso aí! Abaixo-me e pego uma delas e vou para próximo da lateral vazada da embarcação. Posiciono-me para acertar com força qualquer um deles que se aproxime de mim e tente sair do bote salva-vidas! Mas de longe ainda um dos militares inimigos atira em mim...! Não me acertou...!

Mas a bala passou bem perto de minha cabeça...! Retorno rápido para o interior da segurança do barco. Agora sei que estou impotente contra oito soldados inimigos e armados...! Estou literalmente ferrado...! Já, já, entrarão aqui e serei um jornalista morto! O que fazer agora...? O que fazer agora...? Meu cérebro ferve, procurando uma saída! Penso em descer para o andar debaixo e me esconder dentro de algum armário..., sei lá...!

Mas eu olho de lado e vejo Sabino e Everardo desacordados! Não posso deixá-los morrer assim. Eles só têm a mim para protegê-los. Encho-me de coragem e me posiciono escondido próximo à entrada por onde espero que venha o inimigo armado. Olho de lado, aguardando qualquer movimento norte-coreano. A barra de ferro está pronta em minhas mãos que suam, assim como todo meu corpo molhado da água salgada do mar. Meus sentidos estão todos alertas!

Ouço o barco deles se aproximar e parar perto de nós...! Percebo que alguém desembarcou sobre a lateral de nossa embarcação... O momento está chegando! Estou pronto para matar e morrer...! Ouço passos...! Alguém afastando os destroços... no andar inferior enquanto caminha...! Que droga...! No andar inferior...?!?! Eles estão me cercando...! De repente... um silêncio..., mórbido..., perigoso..., sombrio..., assustador...! Ouço um barulho ali ao lado e quando olho... vejo um militar norte-coreano subindo as escadas com a arma apontada para mim! Não tenho mais nada que fazer...!

Minha reportagem acabará aqui com a minha morte no campo de batalhas...! Eu solto a barra de ferro no chão e meu corpo começa a tremer! Sinto que em segundos estarei morto. O oriental inimigo sorri sem me mostrar os dentes... e ergue a arma fazendo mira em mim. Fecho meus olhos..., espremendo-os fortemente...! Encolho-me todo...! Meu corpo se retesa...! Viro a cabeça de lado e ouço um tiro...! Quase posso sentir a dor..., mas... tem algo errado...! Abro os olhos e... noto que não estou ferido...!?!? O que aconteceu?!?!

Olho de volta em direção ao meu atirador que acaba de cair no chão... morto... com a arma ainda na mão! Viro a minha cabeça de lado e vejo Sabino..., ainda deitado no convés e também com a arma nas mãos, apontada para meu "quase-algoz"! O cabo da marinha me salvara da morte! Justo ele que nunca havia matado pessoalmente alguém antes na vida...! Everardo, também armado, se levanta do chão e vai até mim com sua arma apontada para fora do barco, onde os sete militares inimigos estão ali... parados..., estáticos...! Lentamente todos eles erguem as mãos para cima...! Renderam-se...! Não esboçarão mais nenhuma resistência contra nós...!

A guerra acabou...! Vencemos...! Mas a que preço...? Tudo está destruído...! Mortes para todos os lados...! A guerra é mesmo algo inútil...! Uma luta para saber quem deve morrer antes...! Um espelho que mostra a face imbecil do próprio agressor, que quando pensa que venceu... na verdade trouxe para si... um trauma para o resto de sua vida!!!!

Ao fundo o barco nuclear inimigo afunda lentamente por alguns quilômetros abaixo, na costa da Bahia. O antigo capitão, morto em sua própria cadeira de comando, afunda junto com o último navio de um governo cruel e aterrorizador! Com Bon-hwa desaparece também a tecnologia de invisibilidade do finado governo norte-coreano. Um super-helicóptero da marinha chega rapidamente até nós e pousa suavemente na água..., bem próximo do barco! Uma rampa inflável se desenrola em nossa direção, saída da parte debaixo da tal aeronave, como uma língua-de-sogra gigantesca!

Ao completar o desenrolar automático, ela se enrijece como que por mágica! Eu, Sabino e Everardo caminhamos por ali, sobre a ponte plástica que deixa para trás aquele evento doloroso e sombrio. Rapidamente nós três somos levados de volta ao continente. Do alto é possível se ver o tamanho da destruição que sofremos. O ataque do inimigo nos acertou de raspão, rasgando boa parte de nossa lateral. Se o inimigo tivesse nos acertado mais frontalmente... eu não estaria aqui agora escrevendo esta história para você ler!

Em poucos minutos um supernavio de guerra brasileiro chega até o último local de combate desta guerra de invisibilidade. Agora as baterias dos insetos artificiais acabam. Eles voltam a ficar visíveis novamente e caem nas águas do mar afundando para sempre na costa de Salvador, Bahia, juntamente com a embarcação de guerra inimiga.

O navio avança em direção ao barco invisível, quando duas enormes portas se abrem na proa da embarcação e uma rampa metálica desliza diagonalmente em direção ao mar. A tal rampa se ergue das águas lentamente e com ela se eleva a esfacelada embarcação de alta tecnologia que um dia chamei de lar! O sistema puxa-a de volta para o interior do navio de guerra. As enormes portas frontais agora se fecham, escondendo a secreta tecnologia nacional dos olhos de potenciais curiosos.

Em terra Severo e sua equipe respiram aliviados! Eu, Sabino e Everardo fomos atendidos em outra base militar da marinha em Salvador por médicos militares! Depois fomos enviados de avião para Brasília para sermos homenageados numa cerimônia secreta da cúpula militar naval com a presença do presidente brasileiro. Foram muitas medalhas, cumprimentos, elogios e sorrisos, porque eliminamos uma grande ameaça. Depois começou uma pequena festa, discreta e regada a bebidas, doces e salgados. Nada muito exuberante! Afinal! Ninguém saberá nada sobre isso pelos próximos quinze anos!

- Parabéns, Fernando! (deseja-me o general Figueiredo enquanto aperta a minha mão). Você mais uma vez demonstrou coragem e dedicação ao seu trabalho!
- Não vejo minha atuação desta mesma forma, general! Eu apenas estava ali e não podia fazer mais do que fiz!
- Se não fosse por você aquele militar inimigo teria eliminado Sabino e Everardo!
- É! Pode até ser! Mas no final... foram eles que me salvaram da morte certa!
- Acho que não se valoriza o suficiente, Fernando! Tem muito potencial para oferecer!
- General! Posso lhe pedir um grande favor?
- Claro, meu rapaz! O que deseja?
- Preciso fazer uma coisa que irá mudar a minha vida! Mas sem a sua intervenção... acho que não será possível!

Ele sorri para mim, parecendo até desconfiar do que se trata. Mas o fato é que depois que eu disse a ele do que se tratava..., em poucas horas o meu desejo fora atendido! Parece que no Brasil a chamada "carteirada" ainda continua valendo, mesmo em 2040! Se ele não "mexesse os pauzinhos" junto aos órgãos competentes..., o que eu pretendia fazer jamais seria possível!

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