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O BARCO INVISÍVEL
GUERRA DE INVISIBILIDADE - Vol. III

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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
INIMIGO OCULTO

CAPÍTULO XXIV
A REPÓRTER É A NOTÍCIA

CAPÍTULO XXIII
CORONEL SEM ESTRELA

CAPÍTULO II
POSSE CIBERNÉTICA PÚBLICA

CAPÍTULO XXV
BALAS POR ARMAS

CAPÍTULO III
REUNIÃO DE GUERRA

CAPÍTULO XXVI
FAMÍLIA EM PÂNICO

No interior do barco invisível brasileiro o comandante trás uma notícia importante para todos.

-
Atenção pessoal! Acabo de receber uma mensagem do general Figueiredo informando que o nosso agente infiltrado, o sargento Pedro, está junto com um grupo de guerrilheiros das Autodefesas Unidas da Colômbia para atacar o bando das FARC do coronel Conrado em Cucuí, próximo à fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela! Já estamos no Rio Negro! Portanto, vamos acelerado! Piloto Margarida! Aumente a nossa velocidade! Vamos chegar até lá o mais rápido possível. Tenente Júlio! (oficial de armas do barco invisível). Esteja pronto para o combate! Vamos precisar atacar muito em breve!

-
Sim, senhor! Mas eu tenho uma dúvida! (declara Júlio).
-
O que é, tenente? (indaga o comandante Severo).
-
Vamos eliminar os guerrilheiros das AUC também?

O comandante pensa um pouco sobre o assunto e decide:

-
As AUC estão apoiando Pedro contra o coronel Conrado! Vamos fazer o possível para chegar antes deles ao local e eliminar o grupo das FARC. Assim evitaremos o confronto direto com as Autodefesas Unidas da Colômbia.

Já eu, Fernando, estou todo atrapalhado tendo que trabalhar, cuidar de uma indiazinha cega e um filhote de onça órfão! É muita coisa junta para alguém tão inexperiente quanto eu nestes assuntos! Já ajudei hoje a indiazinha a dar banho no filhote que já estava cheirando mal! Fiz comida o dia inteiro para os dois órfãos! Na hora do banho da menina fiquei preocupado. Eu não sabia como fazer isso! Mas, ainda bem que ela me disse que já era grandinha o suficiente para tomar banho sozinha. Achei ótimo aquilo. Eu apenas mostrei a ela onde ficava a toalha e o sabonete.

Como ela não enxerga isso foi necessário. Depois ela brincou com o filhotinho ao meu lado enquanto eu tentava escrever meus textos em vão! A todo momento o pequenino emitia sons de ameaça e de falsos ataques. Ela sorria e dava gargalhadas! Acabei parando de trabalhar e brincando com os dois também. Eu rolei pelo chão enquanto a oncinha me mordia as mãos, braços e pernas. Eu também estava feliz, brincando com aquelas duas crianças. A menina sorria e pulava sobre o filhote. Foi uma longa tarde animada em meio à guerra que travávamos naquela região.

Mas agora os dois me deram um sossego. Estavam cansados. Fiz comida para ambos e os deixei na cama brincando. Neste momento estou na cozinha, concentrado, escrevendo em meu tablet as últimas informações desta semana!

-
Fernando! Acho melhor ver o que o filhote de onça está fazendo no quarto! (declara a voz feminina da inteligência artificial).

Ao ouvir aquilo eu me levanto correndo e machuco a minha coxa ao batê-la na mesa da cozinha, que é fixada ao piso do barco.

- Ai! Droga! (reclamo eu). O que é que está acontecendo no quarto, computador?
-
Veja você mesmo! Mas não faça barulho ao chegar lá para não atrapalhar!

Acelero o passo para o cômodo ali ao lado e ao chegar à porta observo o filhotinho e a indiazinha dormindo à vontade e profundamente numa das camas do quarto. Meu coração que estava disparado agora se acalma.

- Por que me pediu para vir aqui, computador? (indago eu à inteligência artificial, falando baixinho).
-
Porque você merece ver que todo o seu trabalho com os dois deu certo! Eles ficaram cansados e agora vão dormir por um tempo, deixando você livre para trabalhar por mais algumas horas.

Eu me aproximo sorrindo para a cena dos dois que respiram profundamente. Deu-me vontade de ficar com eles ali, só observando o tempo passar enquanto fixo em minha mente aquela linda imagem que poderia ser um cartão postal de alegria se não fosse tão trágico o fato de ambos terem perdido suas famílias.

-
Não quer aproveitar o momento para adiantar seus trabalhos?

Eu olho em direção à câmera de teto, sorrio para ela e respondo à questão do computador, enquanto me aproximo das camas do quarto e me sento numa delas bem ao lado das "crianças"!

- Bem! Na verdade... estou aproveitando este momento...! Talvez eu devesse adotar um filhote de onça para cuidar...! Uma indiazinha para criar...! E nas horas vagas... conversar com um computador... e trabalhar no tempo que restar!

-
Bem...! Se este é seu desejo...! Então ele já se realizou, Fernando...! Você está fazendo exatamente o que quer da vida!

Eu sorrio para o comentário do computador e passo delicadamente minha mão sobre a cabeça da menina-índia. Depois aliso calmamente os pêlos do filhote de onça!

- Nem todos podem fazer o que querem da vida! Para outros... a própria vida os procura! Nós só temos que... aproveitar! (respondo eu).

Lá fora, não muito distante dali, vindo em direção contrária e já chegando a Cucuí, estão o sargento Pedro e os guerrilheiros das AUC.

- Carlito! O coronel Conrado não poderia ter desembarcado todo o seu bando com as pessoas sequestradas juntas aqui em Cucuí! O batalhão do exército fica bem no meio da cidade.

- Concordo, Pedro! Seria suicídio ou uma guerra lutar contra todo um pelotão, considerando as muitas baixas de Conrado! (informa Carlito das AUC). Mas para onde ele poderia ter ido?

- Acho que já sei! (declara Pedro). Quando vim do Brasil para Onojo, na Venezuela, observei na ocasião que havia um braço de rio próximo daqui. Sei disso porque percebi que seria um bom local para se esconder em meio à floresta. Talvez Conrado tenha ido por ali.

- Está falando daquela entrada à esquerda? (indaga Carlito).
- Exatamente, meu amigo! Vamos por ali.

As lanchas fazem uma curva à esquerda e penetram na mata, por trás da cidade de Cucuí! Rapidamente chegam a uma parte do rio onde uma ponte cheia de estacas cruza pelo alto do rio. Pedro percebe que o barco invisível não poderá passar por ali. Isso quer dizer que a operação dependeria apenas dele e de seus amigos das AUC.

- Carlito! Acho melhor pararmos em alguma margem deste rio para pegar as armas que estão sob nossos barcos. Daqui para frente o perigo só irá aumentar!

- Concordo, Pedro! A qualquer momento poderemos encontrar nossos inimigos. Vamos enviar os mateiros para localizá-los. Daqui para frente não poderemos correr! Temos que ser sorrateiros.

Todos desembarcam e retiram as armas para parte inferior de seus barcos a motor. Os mateiros pegam as suas armas e se aventuram no meio do mato, na busca de novas pistas dos inimigos. Pelo mesmo rio que vieram todos, porém vindo em direção contrária, está o barco invisível brasileiro, que está quase chegando ao local!

-
Senhor! (comenta o soldado Ricardo, responsável pela análise das imagens do satélite militar brasileiro). A imagem de satélite mostra uma movimentação de um grupo armado em pequenos barcos a motor parados numa das margens de um rio lateral ao que estamos agora. Mais à frente estou vendo outro grupo maior, parcialmente escondidos numa ilha fluvial!

-
Identifique as pessoas no local, soldado! Precisamos saber se o sargento Pedro está entre eles! (ordena o comandante).
-
Senhor! Não posso fazer isso via satélite, a não ser que algum deles olhe para cima tempo suficiente para a análise! (declara Ricardo). O software só analisa o rosto das pessoas! Via satélite só tenho a imagem da parte de cima da cabeça.
-
Então vamos até lá, pessoal! (declara o comandante Severo). Já sabemos que as FARC se encontram na região de Cucuí! Só podem ser eles no local. Major Margarida! Acelere o mais rápido possível. Vamos sair da invisibilidade! Cineasta! Projeto em nosso casco externo novamente a imagem da lancha em velocidade com as duas garotas pilotando-a. Estamos atrasados, pessoal!

-
Temos mais um problema, senhor! (comenta o soldado Ricardo). Existe uma ponte de estacas que impedirá a nossa passagem pelo rio lateral. Não conseguiremos chegar com o barco até a ilha e também não poderemos atirar por trás da ponte.
- Enviaremos os soldados-aranhas pelas margens assim que chegarmos lá perto! Sabino e Everardo! Aos seus postos!
(ordena Severo).
-
Sim, senhor! (responde cada um dos militares citados pelo comandante da missão).

Em Cucuí, no Amazonas, os dois mateiros das AUC retornam com mais informações.

- O que descobriram? (indaga Carlito, o líder dos guerrilheiros de direita).
- O bando das FARC está localizado no próxima ilha fluvial logo à frente. Eles estão na praia na parte traseira da ilha. Estão fazendo uma pequena trilha no interior da mata para se esconderem. Vimos também diversas pessoas acorrentadas! Parece que estão com pouca munição, senhor.

- Muito bem! Você tinha razão, Pedro! Estão enfraquecidos, com pouca munição, provavelmente devido aos sucessivos combates anteriores e sem tempo para se reabastecer. Devem estar com pouca comida e também muito cansados. Temos duas opções! Atacamos agora enquanto trabalham para preparar um local para se esconderem. Ou esperamos a madrugada até que durmam e então os pegaremos de surpresa.

- Se ficarmos aguardando, meu pessoal irá chegar até aqui e fazer todo o serviço sem a nossa ajuda (declara Pedro).
- Podemos aguardá-los chegarem para agirmos todos juntos (sugere Carlito). Podemos cercar o inimigo por dois lados diferentes...!
- Não funcionará desta forma! (declara Pedro). Eles passarão por aqui e eu terei ordens de partir com eles. Ordens que não poderei recusar novamente. Vamos atacar Conrado agora!

Carlito pensa um pouco sobre o assunto:

- Como é que seu pessoal saberá que estamos aqui? (indaga um dos mateiros).
- Eles têm muitos recursos extras a bordo! Saberão onde estamos! Isso se... já não souberem! (declara Pedro).
- Como vamos evitar que inocentes sequestrados sejam atingidos pelas nossas armas?
- Vocês disseram que eles estão todos na praia numa ilha fluvial? (indaga Pedro aos mateiros das AUC).
- Sim! Estão desguarnecidos e sem rota de fuga (responde um dos mateiros).
- Temos que pegá-los agora, Carlito! (afirma Pedro). Se eles se embrenharem na floresta da ilha será muito mais difícil persegui-los. Além do mais, eles poderão matar muitos de seus homens!
- Você quer muito acabar logo com eles, não é, Pedro? (indaga Carlito).
- Claro que sim! Mas estou lhe dizendo algo real e não pessoal!

- Muito bem, então! Pessoal (decide Carlito). Vamos nos dividir em dois grupos. Vamos esconder nossos barcos aqui nesta margem e o outro grupo faz o mesmo do outro lado deste rio. Depois caminharemos por terra e por dentro da floresta. Quero cercá-los por dois lados diferentes. Só atirem se tiverem certeza de que não acertarão os sequestrados. As FARC não têm escrúpulos e usarão sem piedade os inocentes como escudos. É possível que o bando de Conrado tenha menos munição do que nós! Vamos poupar a nossa durante a luta! Eles se renderão no final e acabaremos com todos!

Pedro e os guerrilheiros começam a arrastar os barcos a motor para o interior do mato em ambas as margens. Logo depois os escondem com muitas folhas e galhos em meio à selva. Agora partem para o interior da selva em direção à ilha para uma emboscada contra o coronel das FARC!

Subindo o Rio Negro vem o barco invisível brasileiro a toda velocidade.

-
Senhor! O suposto grupo das AUC se dividiu em dois e estão caminhando pelo mato para cercar o outro bando (declara o soldado Ricardo falando com seu comandante na base secreta de Brasília).

-
Computador! Em quanto tempo chegaremos ao local? (indaga o comandante Severo).
-
Chegaremos até a ponte em quinze minutos e trinta e cinco segundos (responde o supercomputador).
-
Isso será tarde demais para participarmos diretamente do combate! (deduz Severo).
-
Depois ainda serão necessários mais sete minutos para os soldados-aranhas chegarem até o local do conflito (complementa a voz feminina da inteligência artificial do supercomputador).
-
Computador! Não há como usarmos nossos foguetes para chegarmos mais rapidamente ao local? (indaga o comandante).
-
Os foguetes podem ser usados apenas como aceleração adicional. Na potência total levantaríamos voo e não teríamos onde pousar perto dali (responde o supercomputador).

-
Muito bem, major Margarida! Use os foguetes em aceleração parcial! (declara o comandante). Vamos chegar mais rapidamente ao local do conflito! Nossos recursos poderão evitar mortes desnecessárias.

-
Atenção, pessoal de bordo! Segurem-se! (avisa o comandante Severo). Vamos acionar nossos foguetes em velocidade parcial. Haverá alguma turbulência e solavancos. Apertem os cintos! Fernando! Proteja a indiazinha e deixe o filhote em algum lugar seguro também!

- Quanto tempo eu tenho? (indago eu, Fernando, ao comandante).
-
Vou lhe dar dez segundos! (informa o comandante).
- Me avisaram muito em cima da hora! Vamos lá, Poti! Vou fixar você num cinto de segurança lá na cabine!

Eu a pego no colo e corro com ela do quarto até a cabine!

-
10..., 9..., 8..., (começa a contagem regressiva do comandante Severo).
- Você irá me apresentar os seus amigos invisíveis agora? (indaga a pequena indiazinha enquanto corremos pelo interior da embarcação).
- É... Mais ou menos isso...! Mas antes você precisa estar segura...! Nosso barco vai chacoalhar um pouco...! (digo eu a ela quando chegamos ao centro de comando).
-
7..., 6..., 5... (continua a contagem).
- Chacoalhar? O que esta palavra quer dizer? (indaga ela).
- Chacolhar quer dizer: balançar...! Trepidar...! Mexer para todos os lados...! Entendeu? (respondo eu).
- Sim, Fernando!

Eu a coloco no piso do barco e puxo para baixo a banqueta articulável, que está encostada na parede atrás dos cinco avatares dourados. Puxo o cinto de segurança e a prendo rapidamente.

- Eu já volto, Poti! Vou pegar o filhotinho de onça!
- Tá! (responde ela olhando para frente no vazio).
-
4..., 3...,

Eu corro lá para o quarto e não vejo o filhotinho que estava sobre a cama!

- Onde diabos você se escondeu?

Eu me abaixo para olhar sob os dois beliches e lá está ele, com aqueles olhos enormes me fitando. Ele faz cara de mau e arreganha os dentes como se me ameaçasse cada vez que estico meu braço para tentar pegá-lo.

-
Fernando! A ideia do filhotinho é boa! Entre embaixo da cama! (sugere a voz feminina do supercomputador). O local apertado não deixará você ser jogado para cima e para baixo.

Eu entro sob o beliche onde está o filhote para me proteger e a ele também quando a voz feminina me avisa de outra coisa:

-
Não se esqueça de proteger a sua cabeça!

Eu coloco a minha cabeça para fora daquele local apertado e olho feio para a câmera de teto, repreendendo com meu olhar a inteligência artificial por não ter me avisado antes disso!

-
2..., 1..., acionar! (decreta o comandante).

Não há tempo para mais nada. Uso meu braço girando-o para fora e para cima e pego o travesseiro que está sobre a cama acima de mim. Rapidamente puxo-o para baixo e enrolo o objeto macio ao redor da cabeça do filhote de onça para ele não se machucar. Mas a minha fica sem proteção. Enfio a minha cabeça junto com a dele dentro do travesseiro e uso meus pés para me apoiar ali debaixo. Inevitavelmente começo a espirrar com a presença daquela bola de pêlos perto de meu nariz.

-
Atchim! Atchim! Atchim!

O barco começa a chacoalhar muito forte. Nossas cabeças sobem e descem enquanto a velocidade aumenta violentamente! Espero que Poti esteja bem lá na cabine. O movimento aleatório e caótico do barco em todas as direções começa novamente a se reduzir! O passeio de "montanha-russa náutica" durou pouco! Ainda bem.

Eu saio do local apertando em que me meti e percebo que estou com dores em várias partes do corpo. Eu fui arremessado contra o chão e contra a cama, machucando pernas, braços e tronco. Se fosse na cabeça, acho que teria sido mais grave! Agora tenho que ir ver Poti lá na cabine.

-
Atchim! Atchim! Atchim!

Impossível não ter espirrado depois de tudo isso! Ao chegar correndo à cabine eu a encontro dando gargalhadas, para meu espanto!

- O que houve aqui...? Alguém contou alguma piada para ela...? (indago eu ao supercomputador de bordo quando percebo que o filhotinho de onça me seguiu até a cabine de comando).
-
Ela adorou o passeio caótico! (declara a voz feminina da inteligência artificial).
- Vamos de novo, Fernando? (indaga ela sorrindo e gargalhando muito).
- Quem sabe num outro dia, Poti! (digo eu a ela enquanto libera-o do cinto de segurança).
-
Bem-vindos a Cucuí, na margem do Rio Negro! (declara a major e piloto Margarida).
-
Soldado Ricardo! Como estão as coisas com os dois grupos armados? (indaga o comandante Severo).
-
Eles estão muito próximos uns dos outros, senhor! (responde Ricardo).
-
Sabino e Everardo! Fiquem prontos para lançarem os dois soldados-aranhas assim que chegarmos até o ponto por onde não poderemos mais passar (ordena o comandante Severo). Estamos entrando agora na foz do rio que deságua no Negro.
- Sim, senhor! Estamos prontos! (responde Sabino).

-
Vamos entrar agora pela foz do rio, senhor! (declara a major e piloto Margarida). As imagens de satélite mostram que existem muitas pedras e obstáculos. Sugiro utilizarmos nosso sistema hovercraft, comandante!
- Certo, major! Assim que necessário acione o hovercraft!
(apoia o comandante Severo).

Já na ilha, próxima de Cucuí, alguns guerrilheiros das FARC estão fazendo picadas no interior da mata fechada do local.

- Vamos logo com isso, companheiros! Estamos numa posição muito vulnerável aqui (declara, nervoso, o coronel Conrado).
- Senhor! Os prisioneiros estão reclamando de fome! (declara um dos guerrilheiros ao coronel).

- Todos nós estamos com fome, companheiro! (responde Conrado). Assim que conseguirmos nos estabelecer com segurança por aqui, invadiremos algumas casas próximas e roubaremos comida. A prioridade neste momento é a sobrevivência!

- Senhor! Muitos de nossos companheiros não estão se sentindo seguros em viver aqui tão próximo do exército brasileiro e dentro do território do Brasil.

- Estamos todos cansados e tivemos que fugir de muitos ataques inimigos sequenciais! A Colômbia não é mais um lugar seguro para nós! Tenho falado por rádio com alguns comandantes de outras células e a situação deles não é muito diferente da nossa. Alguns sugeriram que deveríamos nos reagrupar para combater unidos. Mas outros alegam que seríamos dizimados pelo fantasma da floresta que dissolveu o grupo do Xavier! Neste momento precisamos sobreviver. Se ficarmos isolados vivendo próximo ao exército brasileiro estaremos protegidos enquanto nos recuperamos para agir novamente com maior força!

- Todos entendem o seu ponto de vista, coronel! Ninguém discute a sua capacidade de articulação. O que nos preocupa é estarmos tão próximo do um exército que vem se armando contra nós.
- Eles estão apenas cercando a fronteira. Nós entramos no Brasil antes do fortalecimento deles na região! Ninguém sabe que estamos aqui.
- Se invadirmos as casas próximas eles desconfiarão e nos caçarão!
- Não ficaremos aqui por muito tempo, companheiro. Só precisamos de um local para descansarmos e nos prepararmos para recuperar a região da Colômbia e nosso prestígio!
- Sim, senhor! Avisarei aos outros!

- Faça isso, companheiro! O mundo verá o quão forte todos nós somos! Agiremos com extrema violência contra todos os nossos inimigos. Em breve eles saberão do que as FARC são capazes! (declara prepotente o coronel Conrado).

Neste momento começam os tiros contra o grupo "farqueano". Os tiros vêm da praia entre as árvores mais próximas dali. Diversos guerrilheiros colombianos são mortos neste emboscada. O coronel Conrado também atira de volta e dá mais uma ordem:

-
Vamos para o interior da selva! De lá poderemos nos proteger e pegá-los de surpresa!

Os guerrilheiros correm usando diversos sequestrados como escudos para se protegerem. Alguns estão muito mal de saúde e caem ao solo. Com isso, mais guerrilheiros das FARC são atingidos e mortos. Não há mais o que fazer! A fuga é imprescindível. Do contrário todo o bando de Conrado será aniquilado rapidamente. O barco invisível chegou até a ponte que impede a sua passagem. As imagens do satélite militar brasileiro mostram os intensos combates em tempo real!

-
Sabino e Everardo! Lancem os soldados-aranhas agora! (ordena o comandante Severo). Quero os dois acelerados correndo pela margem do rio. Penetrem pela mata e ataquem o bando que está se escondendo na floresta. Vamos pegá-los por trás e salvar os sequestrados! Voyeur! (ordena o comandante ao soldado João, também conhecido como Voyeur). Lance três insetos artificiais e ajude a guiar nosos soldados!

- Sim, senhor! (responde Everardo).

As portas de acesso, uma de cada lado do barco invisível, se abrem e as duas cordas são lançadas para baixo. Os soldados-aranhas descem invisíveis por elas e ambos navegam em direção à margem esquerda do rio. Rapidamente eles chegam em terra firme e caminham em velocidade pela área irregular de morros nus e com pouca mata. Na ilha as balas riscam todo o local. Apenas pelo fato de se estar em pé já pode ser atingido por alguma bala inimiga! Os homens de Conrado conseguiram penetrar na mata fechada onde o combate é muito difícil. Há muitos locais para se esconder e ficar apenas esperando que o inimigo se aproxime dali para matá-lo facilmente.

-
Senhor! Os homens que se esconderam na mata perderam diversos combatentes durante a emboscada inicial e estão agora armando uma contraemboscada para pegar os outros que os cercaram! (avalia o soldado Ricardo).

-
Vamos completar a emboscada inicial e pegar por trás os que se esconderam na mata. A prioridade é salvar os sequestrados! (ordena Severo).

Parados no limite da praia com a mata fechada e abaixados com rifles e armas apontados para o interior da selva, estão Pedro e o bando de Carlito, receosos de continuar o ataque.

- Pedro não podemos penetrar nesta mata fechada! (comenta Carlito). Seremos mortos!
- Eu quero Conrado! E vou pegá-lo! (declara Pedro se levantando do chão de areia daquela praia e entrando cuidadosamente na mata).
- Não faça isso, Pedro! Podemos pegá-los quando estiverem mais vulneráveis! (declara Carlito em vão, porque Pedro já não está mais dando atenção a ele).

Todos os sentidos do sargento brasileiro estão ligados para localizar qualquer sinal do inimigo. Carlito percebe que Pedro não mudará de ideia! Faz uma careta olha para trás para seus companheiros e decide acompanhá-lo também. Os combatentes das AUC olham uns para os outros, preocupados com a loucura de encarar o inimigo num lugar tão perigoso.

Do outro lado da ilha, cuja mata cobre uma pequena área de cem metros por cento e cinquenta metros, Sabino e Everardo, controlando seus enormes robôs, do tamanho de automóveis pequenos, caminham entre as árvores. Os finos corpos dos aranhas e suas longas patas ajudam-nos a caminhar de lado entre os troncos. As imagens dos fantasmas pulsam rapidamente sobre o corpo deles. A intenção é apavorar os inimigos que eventualmente os virem, aumentando assim a crença sobre a sua real existência. Eles caminham lentamente para não serem detectados. Durante seus movimentos algumas plantas e folhas se mexem, criando expectativas para o perigo que se aproxima!

Não há para onde fugir! O bando das FARC está totalmente cercado numa ilha de mata fechada. Um silêncio aterrador cerca todo o ambiente. Pedro avança com cuidado, escondendo-se atrás de cada tronco de árvore mais espesso! A adrenalina se espalha! É possível senti-la no ar, como um perfume da morte que se aproxima a cada passo dos envolvidos. Não há como escapar mais! Muitos ainda irão morrer nos próximos minutos! Entre eles estão diversos sequestrados colombianos e estrangeiros que servem de escudos humanos. Qualquer tiro determinará quem serão os primeiros a morrer.

Atrás de um tronco enorme, Pedro está suando graças ao enorme calor da floresta e graças ao tenso momento em que se envolveu. O sargento move lenta e lateralmente seu rosto. Os olhos arregalados observam o caminho à frente a seguir! Ele vê algo ao longe. Um movimento de mão de alguém. Seria um guerrilheiro ou um sequestrado? Ele precisa se aproximar mais para ter certeza. Pedro imagina se ele pudesse ser invisível neste momento, como são os robôs do barco invisível! Seria perfeito, mas impossível para ele! O brasileiro se abaixa discretamente e avança com muito cuidado em direção à próxima árvore de grosso tronco.

Carlito vem logo atrás, por uma rota paralela. Pedro se esconde atrás da nova árvore e vê Carlito titubeando para fazer o mesmo. O sargento tem uma ideia. Ele pede para que o líder das AUC aguarde seu sinal. Ele coloca seu dedo indicador e médio sobre seu rosto, batendo duas vezes abaixo dos olhos, numa clara indicação de que seu colega deve ficar de olho no que acontecerá a seguir. Depois Pedro usa apenas o indicador apontando para a árvore, atrás da qual ele vira alguém se mexendo ali. Carlito balança a cabeça de forma afirmativa, concordando com o pedido do militar verde-amarelo.

Pedro agacha-se lentamente para não fazer barulho e pega uma pequena pedra que estava próximo de seu pé. Ele levanta-se novamente bem devagar e num movimento rápido a arremessa para o alto sem que ela toque em nenhuma planta próximo dele. A pedra voa para cima e cai atrás, meio lateralmente em relação ao suspeito escondido, que rapidamente vira-se naquela direção apontando sua arma. Esta era a deixa que o sargento esperava. Carlito rapidamente atira contra o corpo, agora visível do guerrilheiro inimigo que cai no chão disparando um tiro para o alto. Um a menos! A floresta volta a ficar quieta, mas não por muito tempo.

Sabino e Everardo se aproximam de uma parte do grupo armado que está de costas para os soldados-aranhas invisíveis neste momento. Eles fazem mira e marcam cada um dos alvos. Atiram em sequência eliminando cinco combatentes. Dois sequestrados estavam sendo seguros pelo pescoço e agora estão livres para fugir. Mas o cansaço, as doenças e a fraqueza os impedem de tentar. Eles caem ao chão e ficam ali escondidos sob a mata alta e fechada. Os soldados-aranhas avançam.

Pedro e os outros combatentes das AUC ouviram a rajada de tiros. O sargento sabe o que isso significa. Ele já conhece o som das armas de seus amigos. Pedro sorri para Carlito, denunciando o atual acontecimento. O reforço chegou e veio por trás das linhas inimigas. Ele sabe que a vitória está garantida agora!

-
Sabino! Vá para o flanco direito! Existem dois combatentes escondidos ali (ordena Severo, o comandante). Everardo! Siga em frente! São três guerrilheiros agachados e escondidos no mato alto.

O soldado João observa, através de seus três insetos artificiais invisíveis voando na mata, as posições dos guerrilheiros das FARC escondidos. Ele aciona o laser sobre o corpo de um dos combatentes, mede a distância e informa a posição GPS do inimigo ao soldado-aranha de Sabino, que atira enquanto continua andando pelo meio da mata. A bala viaja rápido rasgando o mato, furando troncos de árvores, cortando pequenos galhos que caem ao chão até atingir o inimigo pelas costas, que cai morto.

O coronel Conrado percebe que está sendo atacado pela frente e por trás. Ele procura afastar-se lateralmente dali para não ser atingido numa tentativa de escapar pelo flanco esquerdo da ilha em direção à mata fechada da selva. Mas para isso ele terá que nadar para fugir da ilha. Pedro observa de longe e vê Conrado se esgueirar a distância, protegido por diversos companheiros escondidos no mato. Ele não pode se arriscar a ir atrás dele sem ser atingido, então, num ato ousado, ele grita denunciando a sua posição:

-
Vai fugir de mansinho, Conrado? Vai deixar seus companheiros para serem todos mortos?

Diversos tiros vêm em sua direção perfurando por todos os lados o grosso tronco onde o sargento se esconde. Ele se abaixa para não ser atingido. Os guerrilheiros das AUC atiram de volta forçando o bando das FARC a se proteger também.

-
O que é que Pedro está fazendo? (indaga o comandante Severo que pode ouvir a conversa através de seus insetos artificiais invisíveis espalhados pela mata). Ele irá morrer se denunciando deste jeito! Sabino e Everardo aproximem-se dos guerrilheiros que podem acertar o sargento Pedro. Vamos eliminá-los primeiro!

-
Libere os sequestrados e entregue as armas, Conrado! Prometo que levarei todos vocês para a cadeia para um julgamento justo no Brasil! (grita o sargento brasileiro ao inimigo).

Novos tiros acertam a árvore onde Pedro se esconde. Os guerrilheiros das AUC respondem novamente intimidando os "farqueanos". Agora vários companheiros mudam de posição afastando-se da proximidade dos tiros. O mesmo acontece com alguns homens de Carlito.

-
Estou considerando isto como um não da parte de vocês! (grita Pedro). Você é quem sabe, Conrado! Posso evitar que o fantasma acabe com todos os seus companheiros!

Conrado para, pensa e grita de volta:

-
O fantasma não existe, não é mesmo, Pedro...? Se é que é este seu nome...!
- O fantasma existe sim, coronel! Se é que tem mesmo tal patente...! Eu posso impedir que todos vocês morram! Agora mesmo o fantasma irá matar mais um companheiro seu...!

-
Está blefando, Pedro! O fantasma sempre foi você disfarçado de agente infiltrado, não é mesmo? (grita Conrado de volta).
-
Está errado, coronel! Como sempre esteve, desde que resolveu se transformar em guerrilheiro. Toda a sua vida foi um erro de estratégia, senhor! E por causa disso mais um companheiro seu irá morrer.... agora! (declara Pedro, aguardando o tiro que mataria um guerrilheiro inimigo).

O tiro demora alguns segundos e acontece. Mais um guerrilheiro das FARC fora morto. Os outros companheiros agora se viram para trás, usando os sequestrados como escudo contra o tal fantasma.

-
Conrado! Só você pode acabar com este massacre! (grita Pedro). Nenhum de vocês têm para onde fugir! Basta entregar cada um dos sequestrados e as armas e assim poderão viver o resto da vida na cadeia ou morrerem pelas mãos do fantasma e passarem a eternidade no inferno.

O soldado-aranha de Sabino pulsa a imagem de um fantasma para assustar os guerrilheiros que miram para todos os lados na retaguarda. Diversos tiros acontecem, quando o soldado-aranha de Everardo, posicionado lateralmente atirar em diversos guerrilheiros atingindo-os e liberando assim mais alguns sequestrados. Conrado aproveita o tiroteio e corre pela mato para fugir dali. Pedro, de olho na posição escondida do coronel, vê a disparada dele com um dos sequestrados agarrado pelo pescoço. O sargento corre pelo mato, atravessando a linha de frente inimiga que está atirando na direção da retaguarda contra os fantasmas. Carlito, percebendo a ousadia de Pedro ergue uma das mãos e grita aos companheiros:

-
Não atirem! Não atirem!

Pedro corre acelerado atrás do líder das FARC sob fogo cruzado. O mato balança durante a passagem dos dois inimigos que saltam e desviam das árvores. Ambos correm paralelamente na direção da praia. Um atira no outro, mas sem mira ambos erram seus tiros.

-
Cubram a fuga de Pedro pelo mato! (grita o comandante Severo a sua equipe). Acertem os inimigos que atiram nele! Soldado João! Envie um inseto artificial atrás do coronel Conrado! Faça mira nele e informe assim que possível!

A fuga desesperada pela selva continua. Conrado está com mais dificuldades do que Pedro, porque tem que empurrar e carregar um sequestrado fraco e sem vontade de cooperar. Pedro agora salta no chão, porque entre ele e o coronel surgira uma pequena clareira que o homem das FARC aproveita para atirar várias vezes. Por um triz o sargento não fora atingido desta vez. Conrado continua sua fuga impossível. Pedro se levanta do chão novamente e continua perseguindo-o, correndo de forma paralela e alucinada pela selva.

-
Senhor! A selva é muito densa! (declara o soldado João). Não posso seguir rapidamente o coronel pela mata. Vou fazer o inseto voar para cima e eu os encontrarei na praia.

-
Faça isso, soldado, rápido! (ordena o comandante Severo).

O espaço acabou! Não há mais para onde fugir. O coronel chegou à praia, cansado, ofegante e sem um barco de fuga da ilha. Pedro, também cansado e respirando fundo, chega logo depois ao mesmo local e ambos, a vinte metros de distância, apontam suas armas um na direção do outro, com o sequestrado entre eles nas mãos de Conrado.

-
Acabou, coronel...! Acabou...! Seu bando está sendo dizimado... e o senhor não tem mais para onde fugir...!
- Nada acaba antes do fim, Pedro...!
- Não percebe...? Este é o fim...! O seu fim...! Podia ter jogado as armas lá atrás, mas preferiu a morte...!
- Eu ainda tenho uma carta na manga!
- É mesmo...? E o que fará com esta carta...? Vai pular na água com este homem que carrega...?
- Não! Vou te matar!
(declara Conrado atirando em Pedro).

A bala acerta o braço esquerdo do sargento que cai ajoelhado na areia da praia. Conrado dá outro tiro, mas as balas acabaram!

-
Quantas balas têm a droga de sua arma, coronel? (indaga Pedro levantando-se lentamente do chão).
-
Contou errado, não é? Minha arma é especial! Feita com exclusividade para mim! (declara Conrado sorrindo).
-
Pena que você é muito ruim de pontaria, coronel. Agora eu vou acabar com você! (declara Pedro olhando fixamente para seu inimigo, mas ainda sentindo muita dor no braço ferido).

Pedro levanta-se e joga sua arma de lado na areia. Conrado espreme os olhos, não entendendo o porquê daquilo. Enquanto o sargento se aproxima com os punhos levantados, querendo lutar com as mãos, o coronel entende o que está acontecendo:

- Você teve a coragem de me apontar uma arma sem balas?
- Eu queria que desistisse e se rendesse, mas você tinha que ter mais uma bala em sua arma! (declara Pedro aproximando-se dele e do ex-sequestrado, que dá uma cotovelada no estômago de Conrado para se livrar dele).

O ex-sequestrado cai na areia da praia, exausto. Conrado mal sente o fraco golpe do moribundo colombiano! Sua atenção agora é toda voltada para Pedro. Os dois inimigos estão frente a frente. Uma luta corporal vai se iniciar, mas Pedro está ferido num dos braços e mesmo assim ele grita para o fantasma:

-
O coronel é meu! Não quero que ninguém se intrometa nesta briga.
- Está gritando para quem, Pedro? Para o seu amigo que não existe?

- Esqueça tudo o que existe e o que não existe ao seu redor, coronel! Concentre-se nessa briga! Eu detestaria te vencer e você depois dizer que perdeu porque viu um fantasma.

Os dois soltam curtos "
jabs*" como dois boxeadores que se estudam antes do confronto do primeiro round! Entre uma tentativa e outra de ataques frustrados os dois conversam:

- Rsrsrs! Você é patético, Pedro! Inventou uma história ridícula! E para quê...? Vingança pessoal...? Alguma necessidade de provar que pode matar guerrilheiros...? Ou apenas uma doença mental...?

Pedro solta um soco rápido e acerta o peito do inimigo que devolve outro soco acertando o braço ferido de Pedro. Ele faz uma significativa careta e solta um pequeno gemido de dor, recolhendo ligeiramente os braços, enquanto o pico da dor o domina.

- Acha que pode me vencer numa luta corpo a corpo, Pedro? Sou especialista em diversas artes marciais, e você?

Pedro corre na direção de Conrado e salta, fingindo que irá dar um golpe de perna, mas recolhe a perna desferindo um golpe com a outra. Algo típico em diversos tipos de lutas. O golpe passa perto do rosto do coronel e acerta o ombro dele fazendo-o girar em pleno ar e caindo no chão! O líder das FARC ergue-se rapidamente das areias da praia fluvial e sorri de volta para o inimigo.

- Muito bem...! Parece que sabe lutar um pouco...! Melhor para você...! Irá morrer com alguma honra...!

O coronel aproxima-se do sargento com diversos jabs. Pedro se defende de cada um deles quando é surpreendido por um salto e um giro no ar do inimigo que estica a perna para acertar seu rosto. O sargento se abaixa rapidamente e é atingido no rosto pelo braço esticado de Conrado. O sargento cai de boca na areia da praia, estatelado e meio zonzo! O líder das FARC olha para as águas do rio e acelera o passo para fugir dali, mas é surpreendido pela imagem de um fantasma horrendo que lhe impede a fuga! Conrado para de correr, brecando abruptamente seus passos. Seu rosto muda de expressão. Ele demonstra certo medo agora! Algo que até então não sentira antes.

- Que diabos é isso? (indaga ele ao monstro).

Conrado volta-se para trás e dá de frente com a aproximação rápida do sargento Pedro que desfere um forte soco no rosto do coronel, levando-o direto de costas para as brancas areias daquela praia. O brasileiro, ferido e cansado, aproxima-se de forma acelerada em direção ao soldado-aranha empurrando-o para trás e dando uma enorme bronca:

-
O que está fazendo aqui? Eu não disse que não queria ninguém atrapalhando a briga?
-
Pare com isso, sargento! Sou eu, Sabino! Estamos do mesmo lado, senhor!

Pedro continua empurrando o soldado-aranha que anda de costas enquanto pulsa a imagem do fantasma para ele. Lá atrás estão se aproximando os guerrilheiros das AUC que derrotaram e mataram os inimigos das FARC. Diversos sequestrados estão sendo carregados ou apoiados pelos vencedores para chegarem todos até a praia.

Carlito vê a cena de Pedro empurrando o fantasma na direção do rio. Mas cansado e ferido, o sargento agora cai de joelhos no chão com a cabeça baixa.

- Sua luta terminou, senhor! Estamos prontos para levá-lo para casa agora! (diz Sabino falando através do soldado-aranha que desapareceu por completo. Nem sequer a imagem do fantasma aparece agora).

- Casa?!?! Você sabe onde é a minha casa?!?! (indaga ironicamente Pedro ao soldado-aranha invisível).

Sabino titubeia e responde gaguejante:

- Não..! Não sei, senhor...! Mas me aponte a direção que nós o levaremos para lá.

Pedro sorri ironicamente e balança a cabeça baixa de forma negativa.

- Minha casa... agora é o inferno...! (comenta Pedro olhando para as areias brancas da praia que o cercam).

Inesperadamente o ex-sequestrado, que o coronel Conrado carregara como escudo pela mata até ali, arranca a arma da cintura de um dos guerrilheiros das AUC, que se aproximou dele para ajudá-lo, e atira três vezes contra o corpo caído do coronel, que morre logo depois! Todos apontam suas armas para o homem alucinado que também cai de joelhos nas areias, larga a arma ao seu lado e declara:

- Ele matou a minha família a sangue frio! Estou devolvendo a crueldade! A diferença... é que dele... ninguém sentirá falta agora...!

Pedro, ainda ajoelhado de cansaço na areia, olha de lado para o homem que agora também estava livre do demônio que o mantinha em cativeiro por muitos anos. O sargento diz a ele:

- Eu perdi meu filho para as drogas e vivo desde então apenas para me vingar destes desgraçados das FARC!

- Este sujeito nem era militar..., muito menos coronel! (declara o ex-sequestrado). Era um vagabundo qualquer das ruas de minha cidade na Colômbia. Eu o conheci há muito tempo vivendo na sarjeta. Um dia virou guerrilheiro das FARC..., dizendo a todos que era coronel do exército colombiano...! Um coronel sem estrelas...! Matou a minha família e dezenas de outras pessoas em minha vila, só porque muitos não lhe ajudavam com dinheiro quando era um simples vagabundo...! Como vamos viver agora, Pedro?

O sargento olha para ele pensando exatamente a mesma coisa sobre este assunto! A vingança acabou... e agora é preciso buscar algum novo motivo para continuar vivendo! Diversos soldados do exército brasileiro se aproximam daquela praia. Os guerrilheiros das AUC apontam-lhes as armas quando o líder dos militares verde-amarelos avisa:

- Larguem suas armas. Fomos enviados aqui pelo general Figueiredo da marinha do Brasil! Ele pediu para escoltar Carlito e seu grupo para fora de nosso país! Também mandou agradecer-lhes pela ajuda ao sargento Pedro!

Agora todos abaixam as armas a pedido de Carlito que se aproxima lentamente de Pedro para ajudá-lo a se levantar!

- Obrigado por tudo, Pedro! Sem você Conrado e seu bando teriam fugido!

Pedro se levanta, ainda com muitas dores, e cumprimenta o colombiano.

- Eu é que te agradeço por ter me ajudado aqui. Sem vocês eu teria morrido muito antes de conseguir a minha vingança.
- Esqueça-se desta vingança, Pedro! Já acabou! Você deve encontrar sua verdadeira vida daqui para frente!
- Minha vida acabou, Carlito! Eu estava pronto para morrer e matar! Agora estou pronto apenas para morrer.

- Não diga isso, homem! Você é um herói! Fez aqui o que poucos ousariam! Seu país irá compensá-lo muito por isso! Terá uma vida boa daqui para frente. Mulheres..., bebidas..., uma boa casa..., quem sabe com piscina..., churrasqueira...!

- Tudo isso é muito bom! Mas são coisas que já não fazem mais sentido para mim! Boa sorte para você! As FARC estão acabadas! Muito em breve estarão reduzidos a poucas centenas e depois a algumas dezenas de indivíduos. Eles não significarão mais nenhum grande perigo para a região. Aposto que serão caçados até a morte pela população local, pela polícia ou pelo exército colombiano. Ser das FARC, daqui para frente, significará viverem sozinhos, sem recursos e serem caçados por qualquer um que os odeie.

- A vida dá voltas, meu amigo! (concorda Carlito, sorrindo para Pedro). Faça o mesmo com a sua e vire esta página!

Carlito abraça Pedro e com um gesto de mão pede para seus guerrilheiros acompanhá-lo em direção ao grupamento militar brasileiro. Um dos homens do exército nacional aproxima-se de Pedro:

- Sargento Pedro! Sou o coronel Roger do exército brasileiro em Cucuí! O general Figueiredo pediu para deixá-lo num local específico aqui na região. Disse que seu pessoal o encontraria para levá-lo para Manaus e de lá de avião para Brasília. Mas antes vamos tratar deste seu ferimento, sargento!

Pedro faz a continência ao superior e lhe responde:

- Sim, senhor!

O exército brasileiro se divide e enquanto uns começam a recolher os corpos do meio da mata, outros cuidam dos feridos e outros ainda escoltam os guerrilheiros das AUC até seus barcos deixados próximos à ponte da cidade de Cucuí. De lá os escoltam até a fronteira entre o Brasil, a Colômbia e a Venezuela.

- Obrigado por tudo, coronel Roger! (declara agradecido Carlito das AUC antes de partir).
- Não me agradeça. Nossa trégua só existe até que deixem as nossas fronteiras. Vocês não são mais bem-vindos ao nosso território. Se retornarem aqui serão recebidos à bala!

Carlito cerra os lábios, fica sério e balança a cabeça de forma lenta e afirmativa, indignado com tal observação do militar.

- Que bom que deixou bem clara a posição do exército brasileiro sobre o que representa as AUC para vocês (declara Carlito).
- A partir de hoje nenhum guerrilheiro ou assassino estrangeiro é bem-vindo ao Brasil...! Não queremos mais este tipo de gente em nosso país...! Ordens presidenciais!

- Mesmo assim... obrigado! Encontre algum psicólogo para ajudar o sargento Pedro! Ele está precisando...! Tenho a impressão de que irá se suicidar se não for tratado ou se não tiver um objetivo maior na vida!

- O que entende disso, guerrilheiro? (indaga o coronel).
- Sou psicólogo...! Só entrei nesta vida porque a situação na Colômbia estava desesperadora...! É duro ver seus amigos..., parentes... e pessoas inocentes sendo mortas... por motivos banais...! Depois que acabarmos com as FARC e a ELN..., largaremos as armas e voltaremos para a pacata sociedade colombiana...!

O coronel sorri ironicamente para ele e declara:

- Quando se usa uma arma para matar, a pessoa sente o poder da morte em suas próprias mãos. É muito bom se sentir superior aos outros! E por isso é muito difícil abdicar desse status! Quando seus inimigos estiverem mortos vocês encontrarão novos para combater. Amanhã serão os traficantes de drogas..., depois os assassinos urbanos... e no final irão atacar os povos vizinhos. Usarão tal coisa como desculpa, para continuar determinando quem deve viver... ou morrer. O único modo de acabar com este poder adquirido... é matando o portador da arma!

Carlito analisa rapidamente o perfil psicológico do frio e calculista coronel Roger.

- Está enganado, coronel! Isso pode valer para mentes fracas e pessoas sem pretensões maiores na vida. Nas AUC somos militares, médicos, engenheiros, policiais, psicólogos e pais e mães de família. Muitos de nós já fomos bem sucedidos na vida! Os guerrilheiros tiraram algo de nossas vidas. Queremos apenas que isso não aconteça mais a outras pessoas de bem da sociedade colombiana!

- Você e seu bando já estão avisados! Não retornem mais ao nosso país! (decreta o coronel Roger).

Carlito e seu grupo ligam os motores dos barcos e retornam à Colômbia... para nunca mais voltarem!

CAPÍTULO IV
PEDRO E O LOBO

CAPÍTULO XXVII
LAR DAS ONÇAS

CAPÍTULO V
FANTASMA URBANO

CAPÍTULO XXVIII
O INFERNO CONTRA-ATACA

CAPÍTULO VI
PIRATAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XXIX
ATAQUE AO LITORAL

CAPÍTULO VII
ENTRANHAS DO PODER

CAPÍTULO XXX
NOVOS POLÍTICOS

CAPÍTULO VIII
FRONTEIRAS DA GUERRA

CAPÍTULO XXXI
LEMBRANÇAS ANTIGAS

CAPÍTULO IX
BALAS ASSASSINAS

CAPÍTULO XXXII
O DONO DO INFERNO

CAPÍTULO X
FICHA LIMPA OU ROUPA SUJA

CAPÍTULO XXXIII
AGULHAS INVISÍVEIS

CAPÍTULO XI
PIRATAS EM REUNIÃO

CAPÍTULO XXXIV
VISITA INTERNACIONAL

CAPÍTULO XII
PRESSÃO POLÍTICA

CAPÍTULO XXXV
SOZINHO NA MULTIDÃO

CAPÍTULO XIII
GUERRA SEM-FIM

CAPÍTULO XXXVI
GUERRA DE INVISIBILIDADE

CAPÍTULO XIV
NAS PISTAS DE UM COMBATE

CAPÍTULO XXXVII
VERDADE DOS FATOS

CAPÍTULO XV
ENTREVISTA COM O DEMÔNIO

CAPÍTULO XXXVIII
PALAVRA DE PRESIDENTE

CAPÍTULO XVI
MOGADÍSCIO

CAPÍTULO XXXIX
O ENCONTRO COM O MAL

CAPÍTULO XVII
O AMANHÃ COMEÇA HOJE

CAPÍTULO XL
TIRO NO ESCURO

CAPÍTULO XVIII
MORTE NA ALDEIA

CAPÍTULO XLI
PARCERIA INUSITADA

CAPÍTULO XIX
FRONTEIRA DO PODER

CAPÍTULO XLII
ESPELHO QUEBRADO

CAPÍTULO XX
FALSO FANTASMA

CAPÍTULO XLIII
O NOVO CÂNCER

CAPÍTULO XXI
LADRÃO QUE ROUBA LADRÃO

CAPÍTULO XLIV
LEMBRANÇAS DO VIETNÃ

CAPÍTULO XXII
DOMÍNIO DO ÓBVIO

CAPÍTULO XLV
A VERDADEIRA DEMOCRACIA

CAPÍTULO XXIII
CORONEL SEM ESTRELA

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*Jab é um soco rápido usado muito em lutas de box e artes marciais quando um dos braços está recolhido e o outro desfere o golpe frontalmente contra seu oponente.

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Abaixo imagem de satélite mostra a ponte sobre o riozinho que alimenta o Rio Negro e mais à frente a ilha onde se esconde o coronel Conrado e seu bando, juntamente com diversas pessoas sequestradas. As setas em amarelo que se dividem são os caminhos por dentro da mata por onde Pedro e os guerrilheiros das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) se dividiram para cercar o bando das FARC na parte aberta da ilha.
Abaixo duas setas amarelas mostram por onde os soldados-aranhas penetram na ilha através da mata fechada atrás do bando do coronel Conrado, As duas setas debaixo mostram o ataque de Pedro e dos guerrilheiros das AUC contra o bando das FARC.