Cine-Book é um projeto cultural que reúne a dramaturgia, a criação de trilhas e canções e que agrega ao livro um trailler, pequenos vídeos distribuídos pelos capítulos e um vídeo-clip da trilha sonora exclusiva. Este material transforma parte do livro em audiovisual, assemelhando-o a um filme e ainda ajuda a divulgar novos atores e cantores.
Este livro foi registrado na Biblioteca Nacional em nome do autor e está disponível gratuitamente para leitura apenas aqui neste site
Num hospital de Manaus os três guerrilheiros das FARC, presos na região por tentarem trocar armas por drogas, estão agora deitados e algemados em camas hospitalares. Um dos policiais está lá dentro do quarto junto de uma enfermeira que está medicando um dos guerrilheiros.
- Pronto! Agora estão todos bem! (diz ela sorrindo ao policial).
Ela se afasta dali! Abre a porta de saída do quarto e vai para o corredor! Ela cumprimenta o outro policial que está do lado de fora, tomando conta para que ninguém entre ali sem sua autorização! Mas algo estranho acontece! Quando a enfermeira sai a porta começa a se fechar sozinha e de repente se abre novamente, fechando-se completamente logo depois. O policial, que está do lado de fora, estranha aquilo e observa mais atentamente, de baixo ao alto a porta, para entender o motivo de coisa tão sem sentido. Dentro do quarto, um dos guerrilheiros pede algo ao policial que está ao seu lado:
- Não nos deixe sozinhos aqui! Aquele sujeito prometeu que iria nos matar quando fôssemos internados no hospital! - É engraçado! A maioria dos bandidos, traficantes, guerrilheiros e terroristas são muito corajosos quando estão com uma arma nas mãos! Quando são presos ficam todos medrosos! - Eu não tenho medo de morrer pela minha causa! O que não quero é ser assassinado aqui, algemado! Isso é covardia! - E quanto às suas vítimas? Dá a elas o mesmo direito que espera ter aqui? - Quando estamos em guerra, não dá para ser bonzinho! - Vocês não valem nada! Isso que chama de guerra... só existe devido à sua... causa... sem-sentido! Se não fosse por vocês e os traficantes, as pessoas viveriam em paz. - Nós estamos lutando por melhores direitos e condições de vida na Colômbia! Precisamos de armas para combater o governo! As drogas são o nosso dinheiro! - Se querem ter uma causa justa e serem reconhecidos por isso, combatam as drogas dentro da Colômbia e parem com os sequestros! Depois disso o povo irá apoiá-los e respeitá-los. Talvez até os ajudassem em sua... causa! Do jeito que está só estão perdendo apoio, respeito e espaço. Ninguém hoje compartilha de sua... causa sem-sentido.
- As pessoas não sabem o que passamos no dia-a-dia, isolados em meio à floresta! Nossa vida é dura e ninguém nos auxilia! Precisamos sobreviver para conquistar dias melhores. - Vocês estão totalmente enganados! A história mostra que pessoas egoístas e más como você não buscam o caminho do bem para as outras pessoas. Vocês só conhecem a ignorância, a morte e a sede pelo poder. Quando um grupo como o seu domina um país, todo o povo sai perdendo e isso inclui também os países vizinhos. - Você não sabe o que está dizendo! Proteja-nos bem e receberá um bom dinheiro por isso! - Meu trabalho é cuidar dos prisioneiros! Eu represento o estado brasileiro e vocês estão sob a nossa custódia! Mas se falar sobre suborno comigo novamente... eu mesmo acabarei com cada um de vocês, quando retornarem para a cadeia!
O “homem da lei” sai do quarto sob o olhar frio do guerrilheiro. Se ele tivesse uma arma neste momento, com certeza acabaria com a vida daquele policial. E bem provavelmente pelas costas! Agora a porta do quarto se fecha e os três prisioneiros ficam sozinhos! Um silêncio se instala no local. Dois dos pacientes fecham seus olhos para poderem descansar! Mas o terceiro, concentrado em seus pensamentos, observa o teto do quarto. Na rua, no interior de uma van, estacionada perto do hospital, um policial disfarçado observa a imagem dos três guerrilheiros algemados às suas camas hospitalares!
- Estou em posição, delegado! Assim que o sujeito matar os três guerrilheiros eu entro e o prendo.
De volta ao quarto do hospital, o guerrilheiro que olhava para o teto agora sente uma incômoda presença por perto. Sérgio está ali! Tranquilo, calmo e com um revólver em cada uma das mãos. O enorme homem os aponta em direção aos outros dois pacientes! Os canos longos e espessos das armas indicam a existência de silenciadores, que reduzem o ruído dos tiros quando ele dispara.
O enorme homem atira nos dois sujeitos que estavam de olhos fechados, matando-os instantaneamente. O terceiro guerrilheiro retorna apavorado o olhar na direção da porta! Ele vê Sérgio pronto para matá-lo! O prisioneiro ergue uma das mãos para cima, como se estivesse se rendendo, mas não consegue erguer a outra, por estar algemado ali. Ele tenta argumentar rapidamente com Sérgio:
- Espere, espere! Eu tenho uma informação muito importante para você! Mas se me matar perderá a oportunidade de eliminar parte de nosso controle sobre o governo brasileiro!
Sérgio, que já iria atirar, retrocede! Ele inclina ligeiramente a cabeça de lado, olha fixo para o sujeito e guarda uma das armas no interior de seu paletó preto! Na rua o policial está pronto para correr para dentro do hospital, mas percebe que o terceiro guerrilheiro não fora morto ainda. Ele desiste de sair da van e fica ouvindo a conversa do tal Sérgio com o prisioneiro!
- Estou esperando...!!!! O que tem para me contar? (indaga Sérgio ao único guerrilheiro vivo ali). - Não é assim que funciona, não! Quero garantias suas que conseguirei fugir daqui e que você não me matará depois disso! (declara o guerrilheiro). - Você deseja muita coisa, mas ainda não me ofereceu nada! (lembra Sérgio a ele). - Há muito tempo temos em nossa folha de pagamento alguns políticos brasileiros (declara o guerrilheiro). São senadores, deputados, alguns prefeitos e até ministros brasileiros. Posso lhe dar os nomes, mas eu quero garantias que poderei fugir daqui com vida! - Não acredito no que está dizendo e também não posso te deixar fugir! Estou aqui para acabar com você! Esta é a minha missão! - Acho que será mais bem recompensado por seus líderes se denunciar os políticos traidores de seu país, não é? - Não trabalho por recompensa! Apenas cumpro o meu dever, punindo aqueles que merecem! E você... merece muito ser morto! - Eliminar o domínio político das FARC sobre o Brasil é mais importante do que acabar comigo, não é? - Se eu puder acabar com você e conseguir também a informação que esconde... terei feito algo ainda melhor! - Se quer ter acesso ao que eu sei... precisa me libertar! Caso contrário, perderá uma grande oportunidade! - Estou aqui tentando entender uma coisa...! Se você é tão idealista... por que denunciaria uma vantagem tão grande das FARC aqui no Brasil? - Não tenho mais nada para oferecer em lugar de minha vida! E não estou neste momento em posição de continuar sendo idealista! - Não existe meio-idealista! Você teve a oportunidade de morrer por sua causa! Mas acaba de perdê-la (declara, friamente, Sérgio). - Temos coisas mais importantes para discutir do que o meu idealismo! Aceita a minha proposta? - Eu sei quando uma pessoa está mentindo. E nunca erro! Sei que está me falando a verdade sobre os políticos corruptos brasileiros. Mas não posso deixar você simplesmente fugir! Então... vou lhe fazer outra proposta! - Qual? - Se abandonar a vida de crimes e as FARC... eu deixarei você ir embora!
Na rua o policial ouve todo aquele bate-papo e comenta consigo mesmo em voz alta:
- Mas... que droga é esta...? Esse cara já traiu as FARC e agora vai denunciar uma conspiração deste tamanho?
De volta ao quarto o guerrilheiro pensa um pouco na proposta de Sérgio e indaga a ele:
- E o que eu farei depois disso? Ninguém me dará emprego! Em todo lugar que eu for acabarei sendo preso! Sua proposta não é viável para mim. - Eu garanto que terá uma vida normal! Posso conseguir uma identidade nova para você aqui no Brasil! Mas se transgredir alguma de minhas regras... eu te encontrarei... onde quer que esteja... e terminarei minha missão de hoje. - Tá legal...! Eu aceito...! Sérgio lhe aponta a arma entre os olhos e ameaça novamente: - Você está mentindo! Não consegue me enganar! Eu te disse que sei quando não fala a verdade! - Espere! Espere! Como posso ter certeza de que você fala a verdade? - Não está em posição de me exigir nada! Ou aceita minhas condições... ou eu termino o que vim fazer aqui! - Está bem! Está bem...! Estou disposto a aceitar a sua proposta! Mas precisarei de ajuda! Quero um emprego onde eu ganharei bem e uma casa decente para morar.
Sérgio sorri ironicamente para ele e declara:
- Suas qualificações profissionais não irão lhe garantir um bom salário! Quanto à casa... terá que trabalhar muito para conquistá-la. Neste meio tempo pagará aluguel numa espelunca qualquer! - Espelunca? - Por que o espanto? Você vive hoje em dia no meio do mato em condições sub-humanas! Uma espelunca é mais do que você merece!
Lá fora o policial dentro da van está indignado com o que está vendo e ouvindo:
- Filho da...! Ele vai aceitar o acordo e o idiota, que deveria matá-lo, vai engolir essa! Vou ter que matar os dois agora!
O policial liga novamente para o delegado para explicar o problema:
- Delegado! Temos um problema aqui!
De volta ao quarto de hospital o guerrilheiro pensou um pouco sobre a proposta de Sérgio. Pesou os prós e os contras! E então decide em prol do acordo.
- Tá legal, cara! Eu aceito sua proposta!
Sérgio olha friamente em seus olhos e ainda com arma apontada para o meio da testa do guerrilheiro e declara:
- Muito bem! Tomarei minhas providências para garantir que não irá me enganar e que não desaparecerá do local de trabalho! Qual é o seu nome, ex-guerrilheiro? - Martinez! - Muito bem, Martinez! Agora precisamos sair daqui sem sermos vistos! Se tentar me trair... nem saberá que foi morto! Minha missão é, e sempre será, acabar com você! Estarei sempre com uma arma apontada para a sua cabeça, pelo resto de sua vida! Nunca se esqueça disso! - Tá! Eu entendi! Não te trairei! Mas como vamos sair daqui? Aliás... como foi que você entrou aqui? Eu não vi!
Sérgio sente algo estranho e olha para uma das paredes, quando declara:
- Estão nos observando e nos ouvindo!
Agora ele aponta sua arma na direção para a qual estava olhando e atira. Na van, lá fora do hospital, o policial ficou revoltado novamente porque Sérgio destruiu a câmera que ele estava usando.
- Droga! Como ele soube da câmera? (indaga furioso o policial enquanto sai da van correndo em direção ao hospital e ao quarto dos três guerrilheiros).
De volta ao quarto Sérgio se apressa para sair dali:
- Por que fez isso? Por que atirou na parede? (indaga o guerrilheiro que já está sentado na cama). - Tinha uma câmera escondida ali! Vista-se logo e vamos embora! - Como você poderia saber da tal câmera? E como eu sairei daqui? Estou algemado!!!!
Sérgio guarda a segunda arma no interior de seu casaco e com as duas mãos quebra a algema do guerrilheiro, como se fosse feita de plástico ressecado. Agora ele está livre!
- Como conseguiu fazer isso? (indaga espantado o guerrilheiro). - Farei o mesmo com sua cabeça se não se calar! Você faz perguntas demais! Fique quieto! Vista-se logo e vamos embora!
O guerrilheiro se levanta dali, ainda sentindo muitas dores! Vai até o armário ao lado e pega a sua roupa. Ele veste-se o mais rápido que pode. O policial da van sobe correndo as escadas e no caminho encontra um dos colegas da delegacia:
- Rápido! Um sujeito está matando os guerrilheiros das FARC. - O que está fazendo aqui? (indaga o policial que já estava no interior do hospital). - O delegado pediu para eu vigiar os prisioneiros lá da van! Vamos cercá-los! Vá de elevador! Eu vou pelas escadas! - Como é o assassino? - Sujeito muito grande! Usa paletó preto e dois revólveres no paletó!
Agora os dois se separam para evitar a fuga do suspeito. Lá em cima, no terceiro andar, o guerrilheiro acaba de se vestir, Sérgio abre a porta do quarto e surpreende o único policial que ficara de vigia ali fora. Com um golpe rápido ele acerta o rosto do “homem da lei” que cai ao chão.
Sérgio o arrasta imediatamente para dentro do quarto e o coloca sobre a cama de onde o prisioneiro sobrevivente fora solto. Ele o cobre com o lençol para parecer que era o guerrilheiro fugitivo que estava morto ali. Sérgio e Martinez saem do quarto para o corredor externo e vão para as escadas de saída, mas Sérgio começa a subi-las o que estranha o guerrilheiro:
- Ei! Se vamos sair daqui temos que descer as escadas! Estamos no terceiro andar! - Se quiser viver siga-me... e rápido! (declara Sérgio).
Sem opções o guerrilheiro sobe as escadas colocando uma das mãos no tórax enfaixado, onde uma ou duas costelas estão quebradas! Logo depois deles subirem as escadas, o policial da van surge por ali ofegante, vindo dos andares inferiores, também pelas escadas. Já no andar de cima, Sérgio aguarda o elevador chegar. Ele observa que o elevador para no terceiro andar. É o outro policial que também chegou ali. O primeiro já estava com a arma, segura pelas duas mãos, apontada para frente. Ele se aproxima lentamente até a porta fechada do quarto dos guerrilheiros. Seu colega também saca a arma e faz o mesmo se dirigindo para lá! No andar de cima o elevador acaba de chegar e Sérgio e Martinez entram ali e pressionam o botão do térreo. Sérgio conseguiu desencontrar dos policiais. Já no interior do quarto os dois policiais encontram três corpos sobre as camas. Eles olham tudo ao redor e se aproximam lentamente da cama de onde Martinez fugira. O corpo coberto do terceiro policial estava imóvel. Os dois chegam bem perto e observam de longe o sangue que escorre dos outros guerrilheiros já mortos. Um faz sinal para o outro para retirar o lençol do terceiro corpo. Ao fazer isso os dois percebem que era o colega deles ali, desmaiado! No andar térreo Sérgio e Martinez já estão saindo do hospital em direção à rua. O homem de paletó preto agarra no ombro do guerrilheiro para que ele não fuja correndo e o direciona pela calçada até chegarem ao seu carro, estacionado na rua ao lado. Eles entram ali e saem rapidamente do local. Lá em cima, no terceiro andar, os policiais já sabem que os perderam. Um deles usa o rádio portátil para informar o delegado:
- Sinto muito, delegado! O tal Sérgio e um dos guerrilheiros fugiram!
Dentro do carro da fuga Martinez continua fazendo algumas perguntas:
- Como sabia da câmera no quarto? Como sabia que os policiais subiriam pelo elevador ou pela escada? Como quebrou aquela algema com tanta facilidade? Quem é você? - Serei seu pior pesadelo daqui para frente! (declara Sérgio). Não gosto da ideia de não matá-lo! Mas se você não criar mais problemas para a sociedade e não retornar mais para o mundo do crime... então será a mesma coisa de ter morrido para mim. É um a menos para combater. Mas se tentar me enganar... estará correndo um grande risco de morrer! Martinez olha para ele, percebendo que Sérgio fala sério. - Você é muito esperto! Forte e perigoso!
Sérgio olha friamente para ele e declara:
- Se isso é uma cantada... esqueça! Você não faz meu tipo!
Martinez sorri e inesperadamente lhe diz algo:
- Obrigado, por me ajudar! - Não se engane! Não faço isso por você! Não tenho nenhum sentimento de compaixão por sua vida! Tudo o que faço é pela missão! - Você seria um bom guerrilheiro das FARC, meu amigo!
Sérgio para o carro brecando forte para espanto do guerrilheiro ao seu lado. Ele enfia a mão no interior do paletó. Martinez achou que ele pegaria a arma para matá-lo depois da observação que fez. Mas na verdade o brasileiro pega algo parecido com uma caneta de coloração branca e a acerta forte na perna esquerda do guerrilheiro. Com o dedo polegar Sérgio pressiona algo que parecia ser um botão. O colombiano sente que algo lhe foi injetado no corpo.
- Aí...! O que foi isso? Tá maluco, cara...?
Sérgio olha para ele e lhe mostra o dispositivo branco enquanto declara:
- Isto aqui é a minha garantia de que você nunca fugirá de mim! Eu injetei em seu corpo uma dose de nanorrobôs* GPS! São dezenas de nanomáquinas. Cada uma delas irá passear por sua corrente sanguínea até encontrarem todos os seus órgãos vitais. Eles se fixarão nestes locais e transmitirão continuamente a sua posição GPS. Se você não estiver onde deveria estar... eu o perseguirei até o inferno e o matarei... sem mais nenhum outro acordo. Mais uma coisa...! Só para você saber...! Se eu me encontrar em meio a uma célula guerrilheira das FARC..., não será para ser um deles! Matarei a todos e não sobrará nenhum membro desta gangue vivo para contar a história.
Martinez esfrega a mão na perna que está doendo muito nesta hora. Ele olha assustado para o enorme homem de paletó preto.
- Você é mais louco do que eu imaginava, cara! Como se chama mesmo? - Para você...? Morte! (declara Sérgio tirando do bolso um pequeno bloco de papel e uma caneta). Agora eu quero que você escreva o nome de todos os políticos brasileiros ligados de alguma forma às FARC.
Martinez pega o papel e a caneta e começa a escrever uma lista. Sérgio olha para Martinez e volta-se para o caminho à frente.
Henrique Versiani como Sérgio
Régis Reis como prisioneiro
*nano significa algo extremamente pequeno, algo do tamanho de células ou menos! Portanto nanorrobôs seriam minúsculos robôs que, em tese, poderiam navegar incógnitos na corrente sanguínea dentro do corpo humano.