O BARCO INVISÍVEL - MISSÃO-FANTASMA - VOLUME I
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO V
O ATAQUE DOS FANTASMAS


Meu dia se inicia com a troca de turno da equipe de controle do barco invisível às oito horas da manhã. Um membro ou outro, do pessoal que já estava no local, permanecem para pesquisarem as imagens e a telemetria dos soldados-aranhas para poder assim avaliar se houve culpa do cabo Sabino no incidente da morte do tal sujeito do celular. Se o cabo não for culpado do assassinato, será um alívio para ele, mas também um grande problema de insubordinação do supercomputador da embarcação contra o comando militar da missão. O comandante está em busca de uma solução adequada para o caso que aconteceu.

- Fernando e cabos Sabino e Everardo! Por favor, venham até a sala do comando da missão! (ordena o comandante via alto-falante do barco).

Estamos tomando nosso café da manhã na pequeníssima cozinha naquele momento. Paramos tudo para atender o chamado do comandante. Sabino aguarda ansioso por este momento! Eu também não pude esconder o que sinto. Já estou aqui tempo suficiente para me tornar um colega daquela dupla. Torço para que ele não seja mesmo o culpado! Apresentamo-nos os três à cabine de comando. Como de costume fico ao fundo, para não perturbar o desenrolar da história. Um repórter sério não interfere nos fatos! Ele deve apenas contar, com a maior veracidade possível, tudo o que presencia ou descobre. O comandante olha para Sabino através das câmeras internas do barco e começa a falar.

- Cabo Sabino. Depois de analisar todo o material disponível registrado, cujo sistema por acaso foi quase integralmente desenvolvido por você mesmo, chegamos a duas conclusões possíveis e antagônicas! (declara o comandante, para espanto do jovem cabo). Uma delas o inocenta porque as imagens e a telemetria mostram que você não teve interferência direta no assassinato daquele sujeito. Na verdade tudo indica que suas atitudes foram até mesmo para evitar o ocorrido. A outra conclusão é que, uma pessoa com seu potencial, poderia ter manipulado o resultado para se inocentar através de programações especiais para encobrir com perfeição a sua culpa. Porém, não acreditamos que tenha tido tempo suficiente para criar um álibi tão perfeito e nem que tenha agido de forma tão maquiavélica! Mas isso não o isenta de culpa ainda. Por enquanto, você está liberado para continuar seu trabalho aqui sem restrições, mas não se engane: ficaremos de olho em você...! Pessoalmente... não acredito que seja culpado, cabo!

- Obrigado, comandante! (agradece o cabo). Dediquei-me de corpo e alma a este projeto! Jamais faria algo que manchasse minhas atitudes! Estou aqui como um dos pais desta... criatura invisível... que desenvolvemos todos juntos! Quero que tudo seja perfeito e que nossa missão tenha sucesso.

- Concordo, Sabino! (declara o comandante). Compartilho de sua visão e sei de seu caráter! Acredito em sua inocência! Retorne às suas atividades, cabo...! Dispensado!

- Sim, senhor!

Sabino bate continência ao grupo de avatares que estão de costas para ele. O jovem vira-se e retorna aliviado para a sala de controle e manutenção.

- Cabo Everardo! Quero que fique preparado. Estamos chegando perto do local de controle parcial dos traficantes sobre terras brasileiras. A qualquer momento poderemos precisar lançar um soldado-aranha para eliminar nossos alvos em terra. Terá que ser um ataque rápido, eficiente e silencioso. Não queremos que os comparsas saibam o que os atingiu. Mas se descobrirem alguma coisa... que pensem que foi um fantasma que os atacou.

- Sim, comandante! (responde Everardo). Estarei aqui disponível.
- Quando você precisar se ausentar avise Sabino para assumir seu posto! E vice-versa! Nunca fique longe demais do posto de controle do soldado-aranha. É importante que um de vocês sempre esteja disponível para uma emergência.

- Sim, comandante! Entendido!
- Dispensado, cabo! Volte a seu posto!
- Sim, senhor! Imediatamente! (declara Everardo).

Olho aquilo tudo e um pensamento vem à minha mente: E se a inteligência artificial resolver novamente assumir o controle? Talvez ser um militar humano seja mais uma profissão com os dias contatos...! Sabe-se lá!

- Eu sei o que está pensando, Fernando! (declara a piloto Major Margarida).

- Hã...? Como disse, major...? (pergunto eu, porque estava longe dali com meus pensamentos e não entendi realmente o que ela disse).

- Eu disse que sei o que está pensando, Fernando!
- É mesmo? Nem mesmo eu sei no que pensava!
- Está com aparência de preocupado com o que irá acontecer muito em breve!
- Estou é...?
- Sim! Está nítido que se preocupa com o combate que acontecerá muito em breve.
- Bem! Não me sinto muito confortável sabendo de que dezenas de mortes estão prestes a acontecer.
- É! Mas pense de forma diferente! Estas dezenas de mortes podem evitar milhares de outras mundo afora. São pessoas inocentes que só desejam viver suas vidas com dignidade.

- Eu sei, major! Tenho consciência disso! Mas matar alguém é sempre algo ruim! Quando precisamos usar desse tipo de atitude extrema, significa que a espécie humana ainda não evoluiu o suficiente.

- Talvez..., depois que terminarmos nosso trabalho..., a espécie humana poderá evoluir mais tranquilamente!
- Espero que tenha razão, major! (declaro eu, mesmo não concordando muito com a observação dela).

Mas enfim, não posso dizer a todos eles que acredito que o dia em que não precisarmos mais dos militares será a prova definitiva da verdadeira evolução humana! Afinal, estou confinado no interior de um barco militar com avatares muito fortes e uma inteligência artificial que pode não gostar desta minha observação! Estamos a caminho de um encontro mortal dentro de pouco tempo! Resolvo voltar à cozinha para escrever um pouco mais sobre toda esta história. Sento-me à única mesa disponível em todo o barco. Lá estou eu utilizando a minúscula estrutura que mal cabe uma pessoa para se alimentar.

Retiro do bolso um dispositivo que conecto ao meu tablet e um teclado luminoso se projeta sobre a mesa! Começo a digitar os últimos eventos que presenciei, enquanto o momento mais importante da missão não acontece. Eu sei que depois do próximo encontro, terei uma enorme fartura de informações disponíveis. E isso inclui a quantidade de balas usadas pela embarcação, o número de baixas do inimigo, dados sobre o local do embate, a apresentação tática do combate e a performance do barco invisível como a mais perfeita plataforma de guerra naval!

Claro, se tudo der certo e continuarmos vivos ao final do conflito! Espero que os soldados-aranhas não resolvam nos incluir entre as baixas. Preciso aprender a pensar positivo, mas a verdade é que sistemas militares com controle próprio e eventualmente zangados estão me assustando! Tenho certa pena do que irá acontecer aos guerrilheiros. Tenho certeza de que eles não terão a menor chance de sobreviver quando os encontrarmos. Será simplesmente um massacre! Uma carnificina que provavelmente gerará muita especulação nos próximos dias sobre quem foi o responsável!

Quero acreditar que o propósito final disso tudo seja algo realmente bom! Talvez estejamos no caminho correto para eliminar o câncer que se tornaram as drogas neste e num grande número de países. Uma coisa é saber que dezenas de traficantes foram mortos! Outra coisa é ver cada um deles ser assassinado a sangue frio! Tenho certeza de que este momento será difícil de ser esquecido por mim! As horas passam e eu nem percebo o fato! Na cabine o comandante recebe uma informação importante sobre o celular capturado da noite anterior:

- Comandante! Consegui localizar a pessoa com quem o sujeito que foi morto falou! (declara Sabino de sua sala de trabalho). Ele religou o celular agora e está no Peru já próximo à margem do Rio Solimões neste momento! O sujeito acaba de falar com seu grupo, que já se encontra no Brasil a poucos quilômetros a frente de nós.

- Muito bem, Sabino! Bom trabalho! (elogia o comandante). Todos aos seus postos! Chegou o momento pelo qual esperávamos.

Ainda na cozinha eu, Fernando, ouço de repente Everardo correndo ao seu posto na sala de controle técnico. Paro de escrever imediatamente e me levanto dali! Vou ver o que estava acontecendo e noto Sabino e Everardo sentados diante de seus painéis de trabalho, usando seus óculos de realidade virtual e prontos para comandar os soldados-aranhas. Parece que o momento chegou! Acelero o passo e vou para a cabine de comando onde noto no corredor de acesso que as telas de cristal líquido disponíveis mostram diversas lanchas, paradas uma ao lado da outra junto a uma das margens do Rio Solimões. Ali dezenas de pessoas estão armadas e conversando calmamente. Chego ao ambiente dos avatares onde presencio novamente a história acontecendo:

- Aproxime-nos lentamente da margem, major! (ordena a voz do comandante à oficial e piloto Margarida).
Sabino! Prepare-se para levar seu soldado-aranha para fora da embarcação (ordena novamente o comandante). Vá lenta e silenciosamente até a margem e aguarde novas ordens ali.

- Sim, senhor! (responde o cabo Sabino pelo sistema de som interno da embarcação).
- Soldado João! Libere dois insetos voadores para ouvirmos mais de perto o que eles estão conversando (ordena o comandante Severo). Pouse-os naquela árvore grande, cuja copa cobre a maior parte das lanchas. Quero saber o que planejam estes safados!

- Sim, comandante! (responde João).
- Soldado Ricardo! Quero saber sobre as imagens de satélite! (ordena novamente o comandante). Verifique se há alguém próximo daqui. Se aquelas lanchas forem de guerrilheiros, muitas balas perdidas poderão atingir algum inocente.
- Senhor! Temos muito perto daqui uma aldeia indígena com diversos moradores. E um pequeno barquinho a remo está se aproximando pela popa de nossa embarcação (declara Ricardo).
- Essa não! Piloto! Marcha a ré! (ordena preocupado o comandante à oficial Margarida). Soldado Carlos! Crie uma ilusão na traseira de nossa embarcação para afastar daqui o barqueiro! Ele não pode se aproximar daqueles homens armados!
- Sim, senhor! (responde o soldado Carlos que busca agora um vídeo específico no banco de dados do supercomputador a bordo).
- Cabo Sabino! Saia agora com seu soldado-aranha! Não haverá tempo suficiente para nos aproximarmos mais da margem. Aproxime-se do grupo de lanchas pela margem e esteja pronto para eliminar aqueles que estiverem em terra ao meu comando.
- Sim, comandante! (responde Sabino).

A porta lateral deslizante junto ao teto da embarcação se abre e o soldado-aranha invisível deixa lentamente o barco para não despertar a atenção dos homens armados. Ele se segura na corda presa no teto e desliza calmamente para baixo, como faria uma aranha de verdade. O perigoso animal metálico nada silenciosamente pelo rio até a margem. Lá atrás o barqueiro rema tranquilo sem saber o que está para lhe acontecer. Enquanto isso os dois insetos voadores invisíveis pousam sobre a enorme árvore que serve de sombra para as lanchas no local. As criaturas artificiais caminham pelos galhos da árvore, descendo para chegarem discretamente mais próximo do grupo nas lanchas. O sol está forte e os homens armados estão ali sob a sombra conversando. A tripulação do barco invisível pode agora ouvir nitidamente o que conversam (transcrevi todas as conversas em português para ficar claro o que disseram. Já que eles falam apenas o espanhol do Peru).

- Vocês quatro devem ir até a outra margem do rio. Façam uma emboscada para qualquer barco pequeno ou barco de polícia de fronteira que se aproxime daqui! Invadam os barcos grandes que passarem. Roubem-lhes tudo o que for de valor! Entenderam? (declara aquele que parece ser o que comandava toda a ação).

- Sim! (respondeu um deles enquanto outros balançavam a cabeça concordando).

Acima deles, na frondosa árvore, um dos insetos artificiais da marinha é atacado por um lagarto das árvores, que pensa ter ele encontrado uma suculenta presa. O réptil o agarra com a boca, mas o inseto artificial bate fortemente suas asas, acertando diversas vezes a cabeça do insistente predador, que com o impacto cai dentro do rio e sai nadando de volta para a margem. Os homens armados percebem o fato, mas não dão muita atenção a isso. Eles olham para cima, procurando ver se encontram alguma coisa estranha, como uma cobra, mas logo depois continuam conversando porque nada viram:

- Companheiro! Quero que você invada a aldeia aqui próxima e mate todos os índios dali. Não salve ninguém! Este lugar aqui é estratégico para nós e os indígenas iriam nos atrapalhar (declara novamente o líder do grupo). Os outros aguardarão o final de nossa missão para nos dar apoio se precisarmos. Vamos lá homens!

Em Brasília, na sede secreta do comando do barco invisível, o comandante olha de lado para a oficial e piloto Margarida, demonstrando sua satisfação em encontrar os alvos da missão.

- Cabo Everardo! Leve seu soldado-aranha também lá para fora, agora! Apresse-se para pegar de surpresa o grupo que ficará nas lanchas aguardando para dar apoio. Só entre em ação depois que atacarmos aqueles do outro lado da margem. Cabo Sabino! Siga o grupo que irá a pé até a aldeia dos índios. Acabe com eles antes de completarem a missão! Soldado Carlos! Vamos espantar logo este barqueiro! Temos que atacar o mais rápido possível o grupo de guerrilheiros que ficará na outra margem do rio.

- Sim, comandante! Já estamos quase no ponto para liberar o vídeo especialmente para nosso amigo no barco a remo! Será uma enorme surpresa!

Calmamente o ingênuo barqueiro de chapéu de palha rema, acreditando que está tudo tranquilo, quando diante de seu pequeno transporte as águas começam a borbulhar. Ele vê a cena e ouve o tal som o que o faz parar de remar. Dali surge um enorme monstro marinho que se ergue das águas, diretamente olhando em sua direção. O pobre homem fica paralisado de medo. Seus olhos estão arregalados e vidrados naquela cabeça enorme de um animal que parecia ser préhistórico. Dentes gigantescos, uma língua vermelha bifurcada como a de uma cobra, olhos vermelhos e de aspectos cruéis encaram-no firmemente do alto do longo pescoço de quase cinco metros de altura. O barqueiro, olhando para cima, começa a remar lentamente para trás, mas sem dar as costas para a estranha coisa que emergiu do rio. O monstro abre a boca perigosamente e um som terrível e agudo sai dos alto-falantes do barco invisível (os alto-falantes externos da embarcação militar são direcionais, o que quer dizer que apenas o barqueiro está ouvindo este som).

O ruído lembra o grito de uma águia, mas é bem mais forte e assustador. Um jato de ar quente, vindo de uma pequena fresta da lateral inferior da embarcação invisível, é jogado em direção ao pobre homem o que dá a ele a impressão de que se trata do bafo aquecido do interior da fera marinha. Seu chapéu cai para trás com a força do vento quente. Mas ele não demonstra nenhuma reação adicional, além do pavor que quase lhe dominou por completo. Provavelmente o coitado acredita que sem demonstrar medo possa fugir discretamente dali. Depois o terrível animal mergulha quase totalmente, deixando apenas a parte de cima da gigantesca cabeça para fora d’água, num claro sinal de ameaça ao agora trêmulo morador da região que continua remando de costas. O estranho monstro ergue ligeiramente a cabeça e assopra a água do rio. Um forte jato d’água, vindo da parte debaixo da embarcação invisível, molha inteiro o pobre homem que continua sem demonstrar nenhuma emoção nova. Ele tem apenas os olhos arregalados e rema firmemente em marcha a ré, mas agora um pouco mais rapidamente!

Logo depois o monstro desaparece, mergulhando completamente nas águas fundas do Rio Solimões, criando uma pequena onda, gerada artificialmente pelo barco invisível que acelera um pouco sua velocidade em marcha a ré, na direção do sujeito apavorado. A onda passa por debaixo do barquinho dele. O angustiado homem gira agora rapidamente sua frágil embarcação para trás e acelera as remadas para fugir dali o mais rápido possível. Dentro do barco invisível eu, Fernando, fico preocupado com o pobre homem, enquanto ouço algumas risadas da equipe que comanda nossa embarcação.

- Acho que depois disso surgirão diversas histórias de monstros do Rio Amazonas! Rsrsrs! (comenta o soldado Carlos, o cineasta, responsável pela geração das imagens).

- Major! Vamos em frente até a outra margem do rio (ordena o comandante a major e piloto Margarida). Vamos pegar os guerrilheiros que querem montar ali uma emboscada.

- Sim, comandante! A caminho! (responde ela acelerando o barco invisível ao encontro dos traficantes).

Em meio a tudo isso eu, Fernando, observo a tela central com as imagens de satélite onde é possível se ver em tempo real o movimento dos traficantes, mas algo surge na parte de cima da tela. Um novo barco que se aproxima rapidamente de nossa posição.

- Comandante! Um barco da polícia se aproxima rapidamente de nossa posição (declara o soldado Ricardo – responsável pelas imagens de satélite). Ele está a cinco quilômetros daqui, senhor.

- Droga! Vamos acelerar nossos planos, pessoal (ordena o comandante). Vamos agir agora! Tenente Júlio faça mira e destrua as lanchas dos traficantes assim que elas pararem e seus motores forem desligados na outra margem. Sabino e Everardo podem atacar! Quero tudo em silêncio e rápido. Soldado João, traga nossos dois insetos de volta para casa! Eles não são mais necessários em campo.

- Sim, comandante! (comenta João o soldado responsável pelas câmeras externas de vigilância).

Os insetos artificiais alçam voo e retornam para o topo da embarcação invisível, onde uma pequena porta se abre de forma bem discreta. Eles pousam próximo dali, caminham lentamente e penetram no interior do barco como vespas num ninho. Em terra o soldado-aranha de Sabino já está bem próximo do grupo armado que se dirige para a aldeia indígena a quase um quilômetro dali. Sabino aciona o programa fantasma de sua aranha que tem a função de assustar o inimigo. Imagens fantasmagóricas de lençóis, ora claros, ora escuros, que aparecem e desaparecem dali, flutuam no ar de forma transparente, enquanto se movimentam, dando a impressão de verdadeiros fantasmas da floresta. O soldado-aranha emite agora um som leve, baixo, que lembra um filme de terror, como se um fantasma emitisse um “uuuuuuuuuu” bem baixinho. O grupo de traficantes para de caminhar na mata e um deles comenta:

- Vocês ouviram? O que foi isso? (questiona um deles).

Os outros se entreolham e um deles comenta:

- Também ouvi! Deve ser o vento!

Eles continuam caminhando mais lentamente agora e também mais alertas para novos sons. Mas o soldado-aranha se adiantou pelo flanco e caminha rapidamente agora à frente deles. A imagem de um lençol esvoaçante rapidamente aparece e depois desaparece. Os homens param novamente de andar e apontam suas armas na direção do que viram ali.

- Madre de Dios! ¡Es um fantasma! (esta eu, Fernando, nem traduzi, porque é óbvio).

Eles estão apavorados e se abaixam na mata, apontando agora para todos os lados as suas armas. De repente ouve-se um tiro abafado, vindo de uma arma com silenciador do meio da mata. Aquele traficante armado, que está à frente dos outros, cai morto ao chão. Todos os outros são alvejados em sequência e caem mortos ao solo. O último que resta, deita-se rapidamente atrás de uma moita para se proteger dos tiros. Os olhos arregalados procuram enxergar qualquer movimento na mata que denuncie a presença de alguém ali. Mas ele nada vê. Então o apavorado traficante ouve novamente aquele terrível “UUUUUUUU” de fantasma, vindo de frente para ele. Mas agora o som é mais agudo e insuportável, o que o faz soltar a arma e proteger com as mãos os ouvidos. Seus olhos se fecham porque o volume é alto demais para ele.

De repente o som para e ele agarra novamente sua arma, mas não consegue retirá-la mais do chão. Algo muito pesado e invisível está pisando sobre ela. Desesperado o sujeito olha para cima e vê o tal lençol branco novamente flutuando com o rosto de caveira assustadora sob o capuz. O sobrenatural ser agora abre a mandíbula e pontiagudos e enormes dentes afiados são mostrados para ele. O vídeo é o mesmo que atacou o náufrago com o celular. O traficante, deitado ali, é erguido com violência do chão até pouco mais de um metro de altura. Os dentes avançam rapidamente na direção de seu rosto e ele também é alvejado por mais um tiro disparado pelo soldado-aranha! O pobre homem é morto sem saber o que estava realmente acontecendo ali. Do outro lado da margem as lanchas dos traficantes já pararam e estão sendo escondidas e amarradas sob a enorme e exuberante vegetação. Os homens trazem folhas grandes para encobrir ainda mais as embarcações ali ao lado.

De repente um tiro de canhão é disparado do barco invisível e instantaneamente uma explosão entre os traficantes acaba com a vida de todos eles ao mesmo tempo. Várias lanchas são destruídas com o impacto. Da margem oposta os bandidos viram-se rapidamente na direção do ocorrido e um novo “uuuuuuuuu” acontece atrás deles. Todos se voltam novamente para a mata e veem parados diante deles um enorme fantasma com um longo lençol flutuando em pleno ar. Diversos tiros abafados são disparados, matando os traficantes imediatamente. Nenhum deles conseguiu fazer um disparo sequer! Todos foram rapidamente assassinados e nem sabem quem fez isso! Agora o barco da polícia de fronteira chega ao local onde uma fumaça negra sobe ao céu. A forte explosão das lanchas e seus maléficos ocupantes levou os policiais diretamente para lá. Ao chegar, um deles desce do barco enquanto os outros fazem mira para todos os lados, em busca daquele que atacou os traficantes. O barco invisível afasta-se lentamente de lado até a outra margem para pegar de volta os soldados-fantasmas.

- Que será que aconteceu aqui? (questiona um dos policiais a pouco mais de três quilômetros da outra margem).
- Eram traficantes armados, senhor! (declara um dos policiais que descera no local para avaliar o acontecimento). Parece que estavam preparando uma emboscada para nós. Algumas lanchas deles estão escondidas aqui ao lado na mata.
- Eles foram bombardeados pouco antes de chegarmos. Este alguém nos salvou! Mas quem? E para onde foram tão rapidamente? (comenta o policial que ficou no interior do barco oficial).

Do outro lado da margem o barco invisível já está se aproximando. As aranhas mecânicas estão ali aguardando, imóveis e invisíveis. Elas entram na água e erguem as pernas para que seus corpos flutuantes se apoiem na superfície. Neste momento o silencioso motor elétrico, da parte debaixo do corpo delas, é acionado, e ambas as aranhas se dirigem à embarcação militar. Um dos traficantes, que todos a bordo julgavam já morto ali perto, ergue a cabeça lentamente e com aparência de dor olha na direção da margem do rio.

Ele vê no topo do barco invisível uma porta se abrindo de forma deslizante. Logo depois duas cordas são disparadas em velocidade e acertam a água do rio. São as cordas pelas quais os soldados-aranhas sobem de volta à embarcação. Para quem está vendo a cena e não sabe do que se trata, tem-se a impressão de que parte do céu está se abrindo e as cordas, apoiadas sobre a superfície inclinada do barco, servirão para alguém divino descer!

Isso porque mais nada se vê, além do interior do barco atrás daquela porta aberta. É uma visão estranha e inesperada para qualquer um. O sujeito, a poucos segundos da morte, pega novamente sua arma e atira na direção da tal porta aberta. A bala acerta o teto interno da embarcação, perfurando uma calha de proteção onde ficam cabos elétricos, de fibra-ótica, cabos telefônicos, energia etc. A princípio nada de errado acontece. O homem morre logo a seguir sem saber o que vira realmente. A equipe brasileira não gostou da surpresa de ter levado um tiro.

CAPÍTULO I
A MISSÃO-FANTASMA

CAPÍTULO II
A BASE DE OPERAÇÕES

CAPÍTULO III
A VISÃO DO INVISÍVEL

CAPÍTULO IV
NAUFRÁGIO NOTURNO

CAPÍTULO V
O ATAQUE DOS FANTASMAS

CAPÍTULO VI
UMA AMEAÇA INVISÍVEL

CAPÍTULO VII
A ÉTICA ASSASSINA

CAPÍTULO VIII
MOTIM

CAPÍTULO IX
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO X
A INVASÃO DO PERU

PERSONAGENS DESTE LIVRO/
CONCEITO DE INVISIBILIDADE

Marcelo Henrique
como Jornalista Fernando

Gabriel Camargo
como Cabo Everardo

Danilo Formagio
como Cabo Sabino

- Soldado João! Por que aquele homem atirou em nós? (indaga nervoso o comandante). Você não percebeu que ele ainda estava vivo? É sua função garantir que nenhuma surpresa aconteça!

- Sinto muito, senhor! (desculpa-se o soldado João). Achei que todos estavam mortos e tomei a decisão de apontar as câmeras para outros lados na busca de novos traficantes ou pessoas indesejáveis próximas a nós.

- Que isso nos sirva de lição! (decreta o comandante Severo). Precisamos garantir que os mortos estejam realmente mortos, ou pelo menos observá-los para que não sejamos mais surpreendidos.

Os policiais da fronteira, do outro lado da margem, ouvem o tiro disparado a poucos quilômetros de distância. Depois de olharem tudo ali próximo percebem que não há mais ninguém vivo onde estão. Resolvem investigar o local do tiro disparado. Ligam a lancha e partem em linha reta para a outra margem. O soldado Ricardo avisa o fato ao seu líder:

- Comandante! A lancha da polícia de fronteira vem rapidamente em nossa direção. Precisamos sair daqui para não sermos abalroados por eles.

- Os dois soldados-aranhas já estão no interior da embarcação?
- Sim, senhor! (responde Everardo via rádio).
- Major! Acelere o mais rápido possível, mas sem deixarmos uma esteira branca atrás de nós. Não quero que eles desconfiem de nossa presença aqui.

A major Margarida obedece ao comandante e aciona a propulsão central do barco invisível, que deixa lentamente o local. Os policiais chegam à outra margem do rio e veem mais mortes por ali. Um deles pula para fora do barco policial e avalia cautelosamente os mortos.

- Parece que alguém fez uma limpeza neste lugar (declara um dos policiais). Está parecendo um massacre...! Será que foi um acerto de contas entre facções traficantes rivais? Se for isso, foi uma emboscada muito bem planejada! A maioria dos mortos nem chegou a disparar algum tiro! Mas como conseguiram matá-los tão rapidamente e desaparecer sem que nós os visualizássemos? Tem um mistério aqui!

Um pequeno grupo de índios aparecem ali e saúdam os policias, que respondem ao afável aceno. Aqueles indígenas tinham nas mãos apenas flechas e lanças e não foram responsáveis pelo massacre, deduz um dos policiais ao observá-los. O homem da lei os indaga:

- Vocês viram quem fez isso?

A resposta foi inesperada:

- Fantasma da floresta! (responde o líder indígena).

Os policiais se entreolham, tentando entender o que poderia aquilo significar. No interior do barco invisível, no compartimento das aranhas artificiais militares gigantes, algumas faíscas saltam do teto onde a bala da arma do traficante atingira. Isso quer dizer que alguma coisa ali está prestes a entrar em curto. Sabe-se lá o que poderá significar tal fato para o futuro da missão!

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