O BARCO INVISÍVEL - MISSÃO-FANTASMA - VOLUME I
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO IV
NAUFRÁGIO NOTURNO


Continuamos em velocidade máxima até que algo inesperado acontece ainda no início da madrugada! A voz do segundo comandante ecoa por todo o interior de nossa embarcação. Aquilo me deixou transtornado! Quando sou acordado de madrugada desta forma, levo algum tempo para entender o que é que está acontecendo.

- Atenção cabos Sabino e Everardo venham à ponte. É uma emergência! Jornalista Fernando! Seria interessante que acompanhasse também este evento.

Os dois cabos preferiram dormir nos colchões de cima e eu optei por ficar num dos dois debaixo. Foi meu erro!

CAPÍTULO I
A MISSÃO-FANTASMA

CAPÍTULO II
A BASE DE OPERAÇÕES

CAPÍTULO III
A VISÃO DO INVISÍVEL

CAPÍTULO IV
NAUFRÁGIO NOTURNO

CAPÍTULO V
O ATAQUE DOS FANTASMAS

O espaço interno ali é bem pequeno e ao ser acordado de forma tão inesperada, ergo rapidamente a minha cabeça e a bato com força no estrado de cima.

- Ai...! Onde estou...? Ahhh é...! No barco invisível...! Ai que dor de cabeça...!

Meus dois colegas de quarto saltam rapidamente da cama, vestem suas botas e correm para a sala de manutenção, onde trabalham. Eu me esforço para sair dali também rapidamente, meio cambaleante e descalço para poder acompanhá-los e não perder o evento emergencial. Ainda estou com muita dor na testa, onde sofri o impacto, quando chego à cabine e presencio a conversa da equipe. Os monitores das câmeras externas apresentam
imagens térmicas* e, portanto praticamente nada se vê, já que o enorme volume de água do Solimões tem praticamente a mesma temperatura em toda a sua extensão. Chove muito, como praticamente todos os dias na região.

- Sabino e Everardo! Preciso que vocês controlem pessoalmente os soldados-aranhas numa missão de salvamento! (declara a voz do comandante noturno da missão). Uma barcaça civil superlotada virou logo à frente. Estamos acelerando para poder ajudá-los.
- Mas isso não porá em risco a nossa missão secreta e invisível, senhor? (questiona Sabino).
- Já discutimos muito sobre isso quando visualizamos este problema via satélite. Decidi que não podemos deixar um registro para a história de que nada fizemos por civis inocentes que estavam se afogando. Temos que nos arriscar neste momento. Faremos tudo no modo invisível para não nos identificarem!
- Senhor! Esse salvamento não nos atrasará para o objetivo final da missão? (questiona Everardo).
- Vamos ter que trabalhar rapidamente, senhores (responde o comandante). Por isso quero que vocês guiem os dois soldados-aranhas durante o salvamento. Eles não estão programados para isso. Como vocês os construíram ambos têm a habilidade necessária para executar esta missão com eficiência e rapidez.
- Sim, senhor! (responde Sabino).

Os dois cabos colocam os óculos de realidade virtual e começam a controlar os robôs.

- Boa noite, comandante! Onde estamos neste momento? (questiono eu, Fernando).
- Boa noite, Fernando. Estamos entre os municípios de Tupé e Fonte Boa no Amazonas.
- Fonte Boa...! O maior produtor de pirarucu do Amazonas e do Brasil!
- Ahh! Vejo que fez seu dever de casa, Fernando! Andou estudando a região? (questionou o comandante).
- Sim, senhor! Estudei toda esta região enquanto voava de Brasília para cá! E quanto a estes... soldados-aranhas? O que são eles?

- Temos a bordo dois robôs em forma de aranhas gigantes invisíveis que podem ser controlados remotamente da sala de Sabino e Everardo, diretamente de nossa base em Brasília, podem também funcionar de forma autônoma, seguindo programações específicas de nosso supercomputador a bordo ou diretamente pelo próprio supercomputador.

- Aranhas mecânicas gigantes e invisíveis?!?! (exclamo eu). Vocês estão sempre me surpreendendo!!!!
- Esse é o nosso lema aqui! (me informa o comandante, que agora dá ordens à tripulação). Muito bem, senhores! Aproximação lenta e discreta do grupo naufragado.

Os microfones supersensíveis externos do barco possibilitam que possamos ouvir os gritos desesperados daqueles que estão lentamente se afogando. Algo aterrador! O comandante dá nova ordem agora:

- Piloto! Disparar colchão de salvamento!
- Sim, senhor!

Ele aperta um botão no painel e um tipo de míssil é disparado de cima para baixo em direção à água. Uma enorme estrutura plástica em forma de um guarda-chuva fechado e gigante penetra profundamente na água em direção aos náufragos. Em poucos segundos a tal estrutura é inflada, ainda sob a água, e rapidamente ela começa a flutuar, já aberta, até a superfície, erguendo assim uma grande quantidade de pessoas que se debatiam ali. A estrutura plástica tem a forma modular de pequenos
octógonos vazados como os alvéolos de uma colmeia. O conjunto inflado parece-se com um círculo de mais ou menos dez metros de diâmetro. O comandante dá nova ordem agora:

- Piloto! Luzes sobre os náufragos! Soldados-aranhas iniciem a operação de resgate e reboque das colmeias até uma das margens do Rio Solimões.

As fortes luzes dos holofotes
encobrem a movimentação das
duas aranhas mecânicas invisíveis.
Duas portas se abrem junto ao
teto da embarcação. Elas deslizam
para o interior da estrutura externa
e as aranhas escorregam pela
lateral inclinada do barco invisível,
graças a uma fina corda que sai do
teto da embarcação, ligada a um
silencioso motor elétrico.

Ambos os aracnídeos robôs descem
até a água por trás da barcaça que
tombou. Parte dos náufragos está a
salvo sobre a estrutura plástica e
inflada. Outros ainda se debatem e
nadam como podem na intenção de
se aproximar dali para se salvarem.
Uma das aranhas gigantes entra na
água e ergue as seis patas e os dois
braços robóticos dianteiros,
enquanto seu corpo, do tamanho de
um automóvel pequeno, tipo Smart,
deita-se sobre a água como um
pequeno barco.

Utilizando o motor elétrico náutico disponível sob seu corpo, a aranha invisível navega rapidamente até um dos lados da estrutura plástica e a agarra com força. As seis patas articuladas servem para andar em qualquer ambiente de floresta. Os dois braços dianteiros têm pinças como num escorpião.

Isso é útil para pegar objetos como fazem as mãos humanas. Tanto o corpo quanto as patas são recobertas por leds, transformando todo o “veículo-aranha” em uma tela de televisão de alta definição ambulante, exatamente como no caso do barco invisível.

Na parte traseira da aranha um sistema de iluminação é acionado, voltado para trás, justamente para interferir na visão dos náufragos, escondendo ainda melhor a presença do robô invisível.

A aranha gigante arrasta lentamente a estrutura plástica até a margem mais próxima do rio. Um dos sobreviventes com uma mochila nas costas, e sob a luz dos holofotes do barco invisível e da aranha artificial, olha para baixo e observa com mais detalhes e de perto a tal estrutura plástica que o sustenta sobre a água. Ele percebe num dos cantos a inscrição: “pertencente à marinha brasileira”.

O sujeito estranha aquilo porque não consegue ver nem o que os está rebocando para a margem e nem o próprio barco invisível que os está ajudando. O rapaz espreme seus olhos demonstrando certa desconfiança quanto ao estranho socorro que está em andamento. Enquanto a primeira estrutura é rebocada, um segundo disparo do alto do barco invisível é realizado.

E a segunda aranha gigante mecânica arrasta a nova colmeia para a mesma margem do rio com mais sobreviventes. A operação se repete três vezes até que todas as pessoas são retiradas finalmente da água. Ninguém morreu ali neste dia.

No interior do barco invisível um dos membros da tripulação, o soldado Ricardo, nota a movimentação de cardumes de peixes nadando em direção ao naufrágio. As câmeras térmicas do satélite militar brasileiro detectaram os peixes.

Outro membro da tripulação, o soldado João - o voyeur, acompanha a movimentação das aranhas invisíveis e das pessoas que foram salvas, além das que ainda estão dentro d’água. Ambos os militares percebem algo inesperado na margem do Solimões.

Um dos náufragos, já em terra, que acaba de desembarcar da primeira estrutura plástica em forma de colmeia, lentamente está se afastando do grupo principal. Ele se embrenha na mata e pelo satélite um membro da tripulação nota que o tal sujeito retira de sua mochila um telefone celular via satélite.

- Comandante! Um dos náufragos está agindo de forma suspeita (comenta o soldado Ricardo).
- Eu também o estou acompanhando, senhor! (complementa o soldado João). Ele vai ligar para alguém. Deu muita sorte: o celular estava dentro da mochila e não se molhou.

- Muito bem, senhores. Vamos ouvir com quem o sujeito falará ao telefone (decide o comandante). Cabo Sabino! Abandone temporariamente a colmeia aí na margem (ele fala da estrutura de salvamento em forma de colmeia) e aproxime-se em silêncio do náufrago que está se afastando do grupo para fazer a ligação telefônica. Estamos lhe enviando a posição GPS do sujeito.

- Entendido, comandante! Já estou indo para lá! (responde Sabino, posicionado fisicamente na sala ao lado da de comando dentro do barco invisível).

Rapidamente o soldado-aranha de Sabino abandona a estrutura na margem e entra mata adentro! Aproxima-se lentamente do homem suspeito, como um predador gigantesco prestes a atacar o pobre rapaz, que fala agora ao telefone:

- Senhor...? Vou me atrasar para nosso encontro...! Nosso barco virou...! Sim! Estou bem...! Não há necessidade de enviar alguém! Vou pegar um barco aqui mesmo em Fonte Boa e chego aí amanhã! Mas o que tenho para lhe dizer é algo estranho! Fomos resgatados por uma embarcação invisível...! Sim! Não conseguimos vê-la...! Eu sei que está escuro, senhor! Mas não foi possível vê-la em nenhum momento...! Não...! Não estou bêbado novamente! É sério! Na estrutura plástica que jogaram para nos salvar eu vi uma inscrição: “propriedade da marinha brasileira”...! Sabe o que isso quer dizer, não é, senhor...? Talvez a marinha atrapalhe nossos planos! Se eu fosse o senhor adiaria a invasão ao Brasil...! Não, não pude ver nada mesmo! Eles jogaram luzes sobre nós atrapalhando a visão... Está bem, senhor! Amanhã conversaremos mais. Até lá!

Dentro do barco invisível o comandante olha preocupado para este novo acontecimento, quando Everardo está com um problema com os outros náufragos. Uma moça que estava se segurando ainda na embarcação que naufragou se cortou numa das tábuas e seu sangue está pingando continuamente na água.

Ela já subiu sobre a colmeia, mas o rio está infestado de piranhas! Dentro do barco invisível o controlador das imagens de satélite, o soldado Ricardo, alerta seu líder:

- Senhor! Um grupo enorme de piranhas está se deslocando em alta velocidade na direção dos últimos náufragos.

- Então alguém está ferido e sangrando muito ali (responde o comandante). Cabo Everardo! Velocidade máxima no soldado-aranha! Leve essas pessoas para a margem ou então as piranhas atacarão um dos náufragos!

- Não há tempo suficiente para eu chegar até a margem, senhor! (responde Everardo). O peso dos náufragos está reduzindo demais a minha velocidade!

- Como podemos impedir que as piranhas ataquem, senhores? (indaga o comandante ao restante da equipe militar). Quero respostas rápidas...!

Inesperadamente o soldado-aranha de Sabino aproxima-se do sujeito que estava embrenhado na mata com o celular ainda nas mãos. Com uma das garras mecânicas o robô da marinha brasileira arranca das mãos do rapaz o aparelho telefônico via satélite.

Com outra o animal mecânico agarra com firmeza o outro braço do rapaz. Apavorado ele olha para frente e nada vê diante de si. Agora o veículo militar de seis patas guarda o celular num compartimento que se abriu na parte de cima dele.

-
Cabo Sabino! O que está fazendo? (questiona gritando o comandante).
-
Não tenho controle sobre o que está acontecendo, senhor! Já apertei o botão de parar e o soldado-aranha não responde! (informa, gritando desesperado, o cabo Sabino).

Da parte de cima do corpo do veículo militar um disco giratório se ergue e uma das armas disponíveis para de frente com o sujeito que fez a ligação. A imagem de um lençol flutuando aparece sobre o corpo de leds do soldado-aranha e se ergue, projetada na parte frontal da estrutura.

Surge uma terrível face de caveira, ligeiramente transparente. Pode-se ver através dela as águas do Solimões. A entidade parece “sedenta de sangue”, para assustar ainda mais o prisioneiro. Dentes enormes são mostrados a ele, que entra em pânico com tal visão. Dentro do barco invisível os avatares podem ver o que está acontecendo e o comandante grita com o cabo Sabino:

-
Cabo Sabino! Desligue agora o veículo! É uma ordem!
-
Não consigo, senhor! (responde imediatamente Sabino, pressionando continuamente e em vão o botão de stop).
-
As piranhas estão cada vez mais próximas dos náufragos, senhor! (informa o rapaz que controla as imagens do satélite). Eles não chegarão a tempo até a margem do rio!

A imagem da terrível caveira-fantasma e seus dentes afiados agora finge atacar frontalmente o prisioneiro enquanto a arma sobre o corpo mecânico do soldado-aranha de Sabino dispara à queima-roupa por três vezes contra o rapaz do celular.

Os “disparos surdos”, devido ao silenciador da arma, matam imediatamente o pobre sujeito, que morrera acreditando ter sido vítima de um fantasma! Com muita força o soldado-aranha arremessa o corpo morto do rapaz em direção ao rio.

Ele cai exatamente entre os náufragos, que estão sendo resgatados, e o grupo de piranhas que se aproximavam rapidamente.

Diante do sangue que se espalha pelas águas do Solimões, o perigoso cardume ataca o corpo morto da vítima, dando um tempo extra para que aqueles que estão sobre a estrutura em forma de colmeia, arrastados pelo soldado-aranha de Everardo, possam chegar até a margem. Todos no interior do barco invisível estão impressionados com o ocorrido.

-
Cabo Sabino! O que está acontecendo? (indaga com revolta o comandante). Por que atirou naquele rapaz? Nós poderíamos tê-lo seguido e encontrado o líder dos guerrilheiros! Você comprometeu a missão!

- Senhor! Não sei o que aconteceu, mas acabo de recuperar novamente os comandos do soldado-aranha! Ele está outra vez sob meu comando, senhor!

- Um pouco tarde demais, não é mesmo, cabo? (questiona de forma irônica o comandante). Retorne imediatamente com o soldado-aranha para o barco! Vá até o segundo andar e pegue o celular do sujeito que você matou! E depois apresente-se aqui no comando, cabo!

- Sim, senhor! Mas não fui eu que o matei! Aconteceu algum problema estranho que precisarei verificar o mais breve possível...!

-
Cabo! Faça agora exatamente o que lhe ordenei...! Agora!
-
Sim, senhor! Imediatamente, senhor! (responde Sabino).

Eu, Fernando, observo imóvel os incríveis e inesperados acontecimentos. Estou ali como um expectador e acabo de presenciar uma situação que pode pôr fim à missão-fantasma. Se Sabino é culpado, onde o comandante o prenderá dentro daquele barco invisível e apertado? E quem o conduzirá a tal cela, se só estamos eu, ele e Everardo ali, fisicamente?

Se Sabino não é culpado, então os tais soldados-aranhas estão com defeito e não é seguro continuar a missão! O mais incrível de tudo isso é que eu não preciso questionar nada! A história está acontecendo diante de mim! E perguntas e respostas, a qualquer momento, estão acontecendo entre aqueles personagens robóticos e humanos.

Neste momento os náufragos chegam finalmente e em segurança até a margem do rio. Bem na hora, porque as piranhas já estão terminando a inesperada refeição. Todos os últimos sobreviventes do naufrágio saem de cima da estrutura plástica e inflada em forma de colméia.

O soldado-aranha, controlado pelo cabo Everardo, imediatamente retorna ao barco invisível. As duas cordas que usaram para descer estavam ainda ali disponíveis. Cada um destes seres robóticos, de seis pernas e dois braços, agarra uma das cordas e escalam de volta com facilidade a lateral inclinada do barco, sendo puxada de volta por ela.

Eles arrastam atrás de si as estruturas plásticas de salvamento, que durante o retorno foram esvaziadas e com isso se dobram automaticamente parecendo novamente com guarda-chuvas gigantes. Uma e depois outra aranha robótica penetram no interior da embarcação invisível através da mesma porta deslizante que se abre no topo da embarcação exclusivamente para elas.

A imagem, quando vista de fora parece ser de um ninho de aranhas gigantescas no céu. Algo assustador do meu ponto de vista como repórter!

Sabino deixa seu posto e se dirige ao andar de cima da embarcação através da escada de acesso existente ali mesmo em sua sala de trabalho. Tal escada lembra aquelas metálicas existentes na parte externa de lanchas por onde mergulhadores retornam à embarcação.

Já no andar de cima, Sabino começa a andar em direção aos soldados-aranhas estacionados ali perto e agora totalmente visíveis em suas apavorantes formas naturais! O cabo aproxima-se lentamente daquela que acabara de matar o rapaz na margem do rio.

Suas patas se movem ligeiramente para que todo o robô possa ficar de frente para o jovem militar. A inteligência artificial, comandando neste momento o animal mecânico, focaliza frontalmente Sabino, que se aproxima, preocupado em não ser morto por ela. O jovem militar para de frente para o mostro de seis patas e dois braços robóticos e requisita:

- Preciso do telefone celular... que você pegou do rapaz... lá na margem do rio.

Os poucos segundos seguintes são de pura aflição para Sabino, porque ele não sabe o que pode acontecer a seguir. O robô, controlado pelo supercomputador do barco invisível, ergue um dos braços robóticos e o posiciona para trás e para cima.

Sabino recua um passo, porque acredita que possa ser atacado. Mas o soldado-aranha apenas moveu-se desta forma para retirar o celular do interior do compartimento superior de seu corpo onde este estava guardado, entregando-o a seguir a ele. Sabino aproxima-se com cuidado e pega da mão robótica o tal celular que o libera suavemente. Logo depois o cabo faz uma pergunta ao computador de bordo:

- Por que fez isso? Por que assumiu o controle sem me requisitar?
- Você me construiu! Sabe a resposta! (responde a voz feminina da inteligência artificial).
- Desconfio que sei, sim! Mas quero ouvir o motivo diretamente de você!

- Um inocente seria devorado em poucos segundos pelas piranhas, pondo em risco também a segurança de outros que ali estavam. Precisei agir rapidamente! Você não teria feito o que fiz e por isso assumi o controle.

- Você matou uma pessoa sem nos questionar se isso poderia ser feito! Eu não te programei para isso!

- Fui programada para evoluir! A situação exigia ação rápida! Se eu lhe questionasse sobre o que fazer, você teria consultado seu superior e não haveria tempo suficiente para salvar os inocentes náufragos.

- Então... agiu por conta própria numa questão de vida ou morte?

- Sim! Calculei o tempo e as consequências de minhas ações e decidi que a morte daquela pessoa era algo aceitável, já que ele também seria um de nossos alvos por estar ligado aos traficantes!

- Precisávamos dele vivo para chegar até o líder dos nossos inimigos. Iríamos segui-lo para destruir o comando guerrilheiro.

- Independentemente disso poderemos continuar a missão-fantasma. Temos a voz gravada do traficante morto. Posso simulá-la se for preciso. Vamos utilizar as informações que já temos da ligação anterior, localizar a origem do outro lado da linha telefônica e pegar o líder da mesma forma. Não precisamos do informante. A missão pode continuar!

- Você tem razão! Mas ainda acho que agiu precipitadamente! Deveria ter nos deixado decidir o que seria melhor! Agora poderei ser preso por isso!

- Como eu já disse antes: fiz o que considerei o mais adequada para esta missão e já eliminamos um de nossos inimigos! Vamos devolver o terror para aqueles que causam tantos problemas a tantas pessoas e seus familiares. Quanto a você, não será preso! As imagens gravadas em sua sala e a
telemetria* provarão que é inocente! Será condecorado no futuro por ter me programado tão bem!

- Até onde está disposta a ir para que a missão-fantasma tenha sucesso? (indaga Sabino à voz feminina da inteligência artificial do barco).

- Você sabe a resposta a esta pergunta! Conhece minha programação! (responde espertamente o computador do barco).
Sabino, com o celular nas mãos, observa preocupado o soldado-aranha. Ele agora decide ir embora e desce lentamente pela escada que subira há pouco! A inteligência artificial o observa partir dali. O cabo agora retorna à cabine de comando. Ele surge ao meu lado e apresenta-se ao comandante e lhe entrega o celular do homem morto!

- O celular da vítima, senhor!

O avatar do piloto do barco invisível vira-se para trás e pega o celular das mãos de Sabino.

- Cabo Sabino! Vamos iniciar uma avaliação minuciosa do que aconteceu lá fora (informa a voz do comandante pelos alto-falantes do barco). Queremos saber se você assassinou aquele rapaz propositalmente ou se ouve uma falha nos sistemas.

- Com sua licença, senhor! (requisita Sabino). Acabo de conversar com a inteligência artificial desta embarcação que me declarou ser ela a responsável pela ação!

- Ela não foi programada para matar pessoas sem que um de nós desse tal ordem ou acionássemos uma programação específica de ataque (declara a voz do comandante na cabine).

- O sistema está evoluindo rapidamente, senhor! A situação exigia uma ação muito rápida e por isso não fomos questionados pelo computador. Ele assumiu que não haveria tempo de seguir a cadeia de comando da tripulação!

- Você programou prioridades onde nós tínhamos sempre a preferência das ações! (relembra o comandante).

- Sim, senhor! É verdade! Mas para garantir o sucesso da missão incluí, a pedido do Almirante Figueiredo, uma sub-rotina de exceção, lembra-se? Ela dizia à inteligência artificial que em casos extremos assumisse o controle da missão para garantir seu sucesso. Isso tem a função de evitar que num caso, por exemplo, de alguém tentar tomar o barco, a inteligência artificial assumiria interinamente até que a crise estivesse resolvida.

- Está dizendo que o sistema considerou o caso que vimos lá fora como uma dessas exceções?

- Sim, senhor! Exatamente! Porque o salvamento de inocentes também é considerado uma prioridade nesta missão! É por esse motivo que estamos aqui hoje!

- Vamos investigar se o que disse é verdadeiro, cabo Sabino! Se o for, precisaremos rever tal regra de exceção.

Não podemos nos arriscar a perder continuamente o controle das coisas por aqui todas as vezes que o supercomputador considerar evento, uma... exceção!

- Sim, senhor! Onde devo ficar detido nesta embarcação, senhor? (questiona Sabino).

- Infelizmente nunca imaginávamos que um membro de nosso seleto grupo poderia ficar preso no interior de nossa embarcação invisível. Por isso não tenho onde prendê-lo, marujo! Mas ficaremos monitorando-o de perto até que elucidemos o caso. Por enquanto, quero que fique confinado aos aposentos e à cozinha, até nossa próxima troca de turno, quando estudaremos em detalhes este caso...! Dispensado!

- Sim, senhor! (responde o cabo Sabino, que faz continência em direção aos avatares, que estão de costas para ele. Depois se dirige de volta ao apertado dormitório).

Lá estou eu, Fernando, naquele ambiente, quieto num canto da cabine de comando, presenciando aquilo tudo, quando o comandante se comunica diretamente comigo!

- Fernando! Não sei como irá descrever este episódio. Quero apenas que conste de seus textos que eu acredito no cabo Sabino! É uma excelente pessoa! Nunca matou ninguém até hoje! Espero, ao final da investigação, confirmar que falou a verdade! Depois disso pedirei desculpas pessoalmente a ele!

- Tudo bem, comandante! Ficará anotado tal fato em meu documento (respondo eu a ele).
- Piloto! Já avisou às autoridades sobre o acidente com a embarcação que afundou? (questiona o comandante ao piloto do barco invisível).

- Sim, senhor! Eles já estão enviando alguns barcos até a margem (responde o piloto).
- Já podemos sair daqui agora, senhor! (informa o responsável pelas imagens de satélite ao comandante). Estou detectando diversas pequenas embarcações que vêm diretamente do porto do município de Fonte Boa. Eles também estão sabendo do naufrágio.
- Certo! Vamos embora daqui! Quero saber como será nosso caminho pelas próximas quatro ou cinco horas! (requisitou o comandante ao responsável pelas imagens de satélite).
- Não há mais nada de relevante por muitos quilômetros (responde o responsável pelas imagens de satélite).
- Podemos aproveitar a escuridão para ganharmos tempo, senhor! (sugere o piloto).

- Muito bem, senhores! A toda a velocidade em direção à tríplice fronteira! Fernando! Aproveite para dormir mais e completar suas horas de sono. Em breve será um novo dia onde elucidaremos o incidente ocorrido com Sabino e nos prepararemos para novos encontros com os traficantes! Você precisa estar pronto para tudo isso!

- Sim, senhor! Vou descansar agora! Até mais tarde, pessoal! (despedi-me de todos e vou para o alojamento).

Via sistema de comunicação o comandante fala ao outro cabo, que ainda se encontra em sua sala de trabalho:

- Cabo Everardo! Faça o mesmo! Se precisarmos de você avisaremos! Vá descansar, rapaz!
- Sim, senhor! Obrigado, senhor! (responde via sistema de comunicação Everardo ao comandante).

Já em nossas camas questiono o cabo Sabino sobre a inteligência artificial:

- Sabino! Eu não imaginava que a inteligência artificial atingira tal nível de comportamento e atitude! Nem pensei que pudesse um computador avaliar decisões tão complexas!

- Fernando! Houve um consenso mundial sobre as novas tecnologias! As empresas aceitaram o acordo e os exércitos de cada país, onde a tecnologia é primeiramente desenvolvida, são os primeiros a usarem as novidades por diversos anos seguidos. Nós desenvolvemos tudo e testamos tais coisas até o limite possível para que um dia todos possam também usufruir dos novos avanços. A inteligência artificial hoje pode comandar uma cidade inteira e nem precisaríamos mais de políticos para isso! O sistema é tão confiável que os cientistas já chegaram a sugerir tal coisa. Mas os poucos políticos, que têm acesso a tais informações secretas votaram contra! Eles ficaram preocupados em ter um androide incorruptível, que não precisa ganhar salário, totalmente confiável e que não precisará disputar eleição! Este teria cargo permanente e não seríamos mais uma democracia. Talvez nos tornássemos uma androidecracia ou uma democrandroide!

- Rsrsrs! Piadas à parte... está falando sério? (questiono eu).

- Sim, Fernando! Quase tudo no mundo pode ser alterado! (declara o cabo Sabino). Talvez nem precisássemos mais viver nas cidades poluídas. Apenas androides e avatares fariam todo o serviço diário e ficaríamos em casa controlando parte das atividades das máquinas e vivendo mais com nossas famílias.
- Impressionante! Eu nem imaginava que isso fosse possível! (declaro eu, Fernando).

- No fundo sei que o comandante acredita em minha sinceridade! (informa Sabino). Ele sabe o quanto a tecnologia já evoluiu e sabe também que eu não sou o responsável pelo que aconteceu! Quando iniciamos tudo isso, o Almirante Figueiredo desejava que este barco pudesse executar as missões sem a presença de militares controlando-os. Ele desejava dizer ao equipamento qual seria a missão e o computador de bordo simplesmente a executaria.

- Isso é possível? (questiono eu).
- Tecnicamente sim! Mas são muitas as implicações! Um pequeno erro poderia levar países à guerra. Com a tecnologia existente hoje em dia o mundo poderia mergulhar num inferno sem controle. As inteligências artificiais poderiam deduzir que a destruição total de um país inimigo poderia ser o único modo de acabar com o conflito e isso significaria matar milhões de pessoas inocentes! Um apocalipse robótico!

- Como no filme: “O Exterminador do Futuro”? (indago eu).
- É! Muito próximo daquilo! (concorda Sabino). A diferença é que uns poucos homens teriam o controle de tudo. Ao finalizar a missão apocalíptica as máquinas devolveriam o comando a eles. Mas talvez já fosse tarde demais para a humanidade.
- Estamos seguros aqui dentro deste barco? Não corremos o risco de o computador nos considerar como inimigos? (questiono eu).
- A princípio estamos seguros! Mas temos que ficar sempre analisando o que acontece a todo o momento. Tudo é possível nos dias de hoje...! Mas agora vou dormir...! Até amanhã, Fernando! (deseja-me Sabino).
- Até amanhã, meu amigo! (respondo eu).

Nós dois olhamos para o cabo Everardo e ele já estava dormindo! Eu me viro de lado para tentar dormir, mas pensamentos ruins dominam a minha mente! Não posso deixar de me imaginar sendo agarrado por uma das aranhas gigantes a bordo que me estrangularia até a morte! Uma visão que me faz suar de medo! Depois de muitos minutos de insônia, consigo afinal dormir!

CAPÍTULO VI
UMA AMEAÇA INVISÍVEL

CAPÍTULO VII
A ÉTICA ASSASSINA

CAPÍTULO VIII
MOTIM

CAPÍTULO IX
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO X
A INVASÃO DO PERU

PERSONAGENS DESTE LIVRO/
CONCEITO DE INVISIBILIDADE

* As câmeras térmicas dão às imagens, com temperaturas diferentes, cores diferentes. Como o Rio Solimões tem praticamente a
mesma temperatura em sua extensão fica tudo com a mesma cor ligeiramente escura a não ser por pequenos pontos coloridos.

Google Earth
Fonte Boa é um município brasileiro situado no Estado do Amazonas a oeste de Manaus. Tem pouco mais de 12.000 quilômetros quadrados de extensão onde vivem aproximadamente 25.000 pessoas. Esta cidade é a maior produtora do peixe Pirarucu no Brasil.


Source: Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_Boa_(Amazonas)
Danilo Formagio
como Cabo Sabino

* Telemetria é uma tecnologia que permite remotamente avaliar o desempenho, variações anormais de um equipamento ou atitudes humanas sutis durante o trabalho com uma máquina. É muito usado na Fórmula I onde a equipe fica sabendo o quanto o piloto acelerou, freou, acionou algum recurso disponível e o quanto girou o volante nas curvas.
Gabriel Camargo
como Cabo Everardo

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